sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Novas Viagens na Minha Terra




Manuela Degerine

Capítulo CIV

Vigésima quarta etapa: de Pontevedra a Brialhos (conclusão)

Cai agora uma chuva miúda. À beira de uma linha de comboio encontramos o português que Sérgio conheceu no Porto e a rapariga espanhola que ontem fazia anos. Ela tem bolhas nos pés e, sobretudo, dores nas omoplatas; o português alivia-lhe a mochila. Ignoro se são um casal, parece-me que não, creio notar, nas posturas de um e do outro, que ele gostava de, mas ela muito menos. Conversamos um pouco, depois eles prosseguem; nós sentamo-nos a comer fruta.

Quando chegamos a Santo Amaro, a chuva passou a aguaceiros. Caminhamos agora, de vez em quando, à beira de estradas com alguma circulação. Sucedem-se os prados coloridos com giestas, digitálias e malmequeres.

Deparamos com algo nos intriga... Cercado por lajes verticais de granito, o campo foi semeado e, para afastar os pássaros, o agricultor instalou longos fios com etiquetas, garrafas e sacos de plástico coloridos. Até aqui, tudo normal; e até banal. Estranho é o que vemos – ou nos parece ver? – pendurado no cruzamento dos fios. Sérgio afirma ser um galo. Eu, mesmo com óculos, duvido um pouco. Algo branco, sim. Talvez tenha de facto asas, patas e crista... Mas será mesmo? Um verdadeiro? Que chegou a cantar? Talvez... Os agricultores sempre inventaram processos de dissuasão (imaginosos mas inoperantes).

Atravessamos Barro. Temos à nossa esquerda o viaduto debaixo do qual passa uma linha de comboio e à direita um campo de malmequeres, com algumas gramíneas pelo meio, que lhe dão uma aparência etérea e, para quebrar a monotonia, na cor e no tamanho, aqui e além, algumas flores brancas. O que os jardineiros – agora com estatuto de artistas – simulam nos parques da moda, obtendo todavia resultados menos harmoniosos; aqui cada planta conquistou, ao longo dos anos, o seu espaço de luz e terra, chegando a este equilíbrio. À beira do caminho há outro calvário. (Mais adiante, intruso e enorme, um poste de electricidade.) Ao longe avistamos muros, vinha suspensa, algumas casas dispersas, por detrás delas a verdura de um bosque e, ao fundo, a serra coberta pela bruma.

Gérard Rousse não se esquece de recomendar:

A propósito de vinhas, se almoçarem num dos pequenos restaurantes da região, peçam para saborear (com moderação) o vinho branco, cor de âmbar, por vezes turvo. Servi-lo-ão, como a cidra, numa malga.

São onze horas da manhã, não nos apetece o vinho da região, mesmo servido em tigelas de barro.

O céu começa a desvendar pedaços de azul. Agora o sol alterna com a chuva que, ainda bem, cai perto das paragens de autocarro: sentamo-nos e esperamos. (Numa das vezes: diante de um painel indicando o Parque Natural Ria Barosa. Este parque entrará no programa da próxima viagem).

No ponto quilométrico 48.148 encontramos outra vez a N550, que em breve deixamos, para a ela voltarmos mais adiante. Entramos em Brialhos pela beira de campos semeados, por debaixo de vinha suspensa, entre flores diversas... Mais um espigueiro. Mais outro espigueiro. Mais uma chuvada... Estamos quase a chegar!

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