(Continuação)
Cena 5
1ª reunião dos conspiradores
(Reunião de conspiradores monárquicos. Padre Lima, Gastão de Matos, Carlos Pereira, Abel Olímpio ,Rudolph, agente alemão)
Gastão de Matos – O nosso movimento está mais forte do que se julga.
Carlos Pereira – Mas eu não vejo os pequenos comerciantes e industriais a reagir, não vejo essa gente a lutar pela monarquia.
Gastão de Matos – Não lutam pelo Rei, mas calam-se se a gente ganhar. Para esses, basta dar-lhes umas encomendas de meia tijela e começam logo a dizer que somos os salvadores da Pátria! (Risos).
Carlos Pereira – não tenho a certeza disso.
Gastão de Matos – é porque anda distraído. Essa gente que veio da ralé tem ódio aos mais pobres porque eles lhes lembram o buraco de onde sairam. É por isso que se juntam a nós; invejam-nos, mas andam da mão estendida à procura da migalha. E também querem mais polícia para os defenderem dos que são mais pobres que eles!
Carlos Pereira – oh Gastão!
Gastão de Matos – ainda não acabei. É por isso que nós, que não passamos de meia dúzia, mandamos nisto tudo.
Carlos Pereira – mas há revoltas na populaça.
(Ciclorama – carruagem ,chicote, som. Figura de cartola)
(Som de aldraba. Entra Rudolph)
Gastão de Matos – estávamos a dizer que o nosso movimento está mais forte…
Carlos Pereira - não tenho a certeza disso.
Rudolph - A dificuldade tem a ver com o dinheiro com que se compram as consciências. Pela Europa, ninguém aceita a situação portuguesa. O horrível crime dos assassinatos do rei D. Carlos e do príncipe assustou as monarquias. Todas nos querem ajudar e serão extremamente gratas em relação aos portugueses que conseguirem derrubar este regime. A situação tornou-se insustentável, principalmente depois da morte do nosso grande amigo Sidónio Pais.
Há dinheiro, muito dinheiro...
Gastão de Matos – Meu caro Rudolph, o dinheiro é indispensável, mas talvez precisemos de nos convencermos a nós próprios.
Rudolph – O Rei de Espanha também quer ajudar-vos... mas aqui não estão todos convencidos?
Gastão de Mato - Temos que ser realistas. Um golpe monárquico, é hoje completamente impossível. Os nossos grandes homens estão em Espanha, exilados. Outros fugiram para mais longe, até para o Brasil. Onde já encontraram apoios e empregos que os fazem desistir do regresso e da luta pela regeneração de Portugal.
Carlos Pereira– É uma vergonha nacional se não há homens capazes de atacar os inimigos da pátria.
Rudolph – Há dinheiro para pagar. Até os Estados Unidos querem ajudar!
Carlos Pereira – Eu quero que os vingadores sejam pagos. Mas bem pagos. Para evitar que quando a gente triunfar, nos venham pedir situações especiais e de favor. Até porque esses que hoje trabalham para nós, mais tarde podem trabalhar para eles.
Gastão de Matos – É isso mesmo, Carlos Pereira, é isso mesmo. Depende da maquia que receberem.
(toque de aldraba)
Carlos Pereira – É o padre Lima.
C. Pereira – ( risos) Vá abrir, vá depressa. Não faça esperar a voz do Senhor.
(Entram Padre Lima e Abel Olímpio, “Dente D’Ouro”)
Padre Lima – Boas tardes, muito boas tardes.
Vozes – Padre Lima, como vai? Como vão as ovelhas do seu rebanho? Deus vos tenha em boa guarda.
Padre Lima – Trouxe comigo um rapaz de muita confiança. É da Marinha, cabo, de toda a confiança. É de Estivais, Moncorvo, da minha terra. Trouxe-me umas alheiras. O meu pai enviou-mo, falámos, está de acordo com o que a gente pensa, e disposto a colaborar.
Gastão de Matos – Com certeza que precisará de dinheiro.
Abel Olímpio – Não é bem para mim, mas convinha ter alguns escudos para dar na Armada. Para saberem que eu não os estou a enganar.
Carvalho – E eles, não o enganam?
Abel Olímpio – A mim? Ao Abel Olímpio? Ao Dente D’Ouro?
C. Pereira – Você é homem rijo, vê-se logo.
Abel Olímpio – Muito obrigado, meu senhor. É a minha fama.
Gastão de Matos – Então faça provas disso, que não se há-de arrepender.
Abel Olímpio – Eu já sei o que os senhores querem, que o meu amigo senhor padre Lima, já me disse.
Gastão de Matos – E percebeu bem?
Abel Olímpio – Temos de rebentar com os malandros que estragaram isto tudo.
Gastão de Matos – Está bem... (risos)... mas não vamos fazer nenhum golpe.
Abel Olímpio – Não vamos fazer nenhum golpe?
Gastão de Matos – Senhor Padre, já vi que não lhe explicou tudo...
Padre Lima – Eu julguei...
Gastão de Matos – O senhor...
Abel Olímpio – Abel Olímpio, cabo de artilharia da Armada, nº 2170.
Gastão de Matos – O senhor cabo não vai organizar nenhuma revolução. Está calmo, vai informando os seus homens de confiança, vai sabendo em quem é que deve ter confiança...
C. Pereira – De quem é que deve ir desconfiando...
Gastão de Matos – E espera que o senhor padre lhe diga alguma coisa, lá mais para diante. E agora, pode retirar-se.
Abel Olímpio – Então, muito boa tarde.
C. Pereira – Espere um momento. Senhor Gastão, é melhor levar já algum dinheiro, não acha?
Gastão de Matos – Sim, sim.
(Agente Alemão dá dinheiro a Gastão, este passa a Carlos Pereira que dá ao padre Lima que o entrega ao Abel Olímpio)
Padre Lima –( piscando o olho) Abel, depois faz um apontamento de despesas, para se mostrar a quem de direito.
( Abel Olímpio faz o mesmo sinal e sai)
Gastão de Matos – Senhor Padre, para a outra vez, não nos traga esta gente para as reuniões. Isto não é para qualquer labrego. Está entendido?
Padre Lima – Eu julguei que os senhores gostassem de ver que o trabalho na Armada está a avançar.
Agente Alemão – Mas quem é esta gente?
Padre Lima – É uma grande confusão. Há de tudo, dos vários partidos Republicanos, há comunistas, anarquistas, e nós só precisamos de nos infiltrarmos. E temos o povo mais baixo, mais reles, são capazes de matar a mãe por cinco mil réis.
Gastão de Matos – Não se esqueçam. Nós não vamos fazer um golpe. Nós vamos aproveitar uma das lutas entre os republicanos, e depois empalmamos o movimento. Assim é que se trabalha. Está de acordo?
Padre Lima – Para convencer bem esta gente, é preciso pagar. E se fizéssemos um documento?
C. Pereira – Escreve-se que damos 100 contos, e depois logo se vê.
Padre Lima - Isto é um documento histórico (Começa a escrever)
Agente alemão – Penso que é o caminho justo. Sehr Gut!
( Sai e atira notas para o chão que eles dividem)
(Continua)
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
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