Augusta Clara de Matos
Mahler sempre me levou e leva pelos ares. Não há outra música com que eu acompanhe a escrita, de forma rápida e escorreita, como com a de Mahler. Com que a minha sensibilidade se sinta confortada.
Mal soam os metais e os violinos, com o toque de fundo de um dedilhar de harpa, qualquer coisa me eleva e arrasta, a tal asa metálica que eu reconheço na sua música, evocando os mitos germânicos de “O Anel” de Wagner com o qual, provavelmente não terá nada a ver.
Sei lá se isto é verdade. Que mo digam os músicos. Acho que não passa de divagações de quem não percebe nada de técnica dos sons. Mas é o que eu sinto. Apenas posso perceber que a sua vida atormentada o tenha feito criar esta agreste e arrebatadora beleza.
Há força, há violência, mas é uma potência de vida inultrapassável. Uma verdade que não é permitido a ninguém questionar. É livre e selvagem como a vida quando é genuinamente vivida.
Mahler é como as ondas do oceano, como as asas de uma águia, como a erupção dos vulcões, como a paixão que nos explode no peito. Não é possível fruir esta música sem paixão, ou é melhor não a ouvir.
Quando oiço Mahler, alguém me sussura ao ouvido palavras de amor, de terna e forte sensualidade que chegam não se sabe donde nem onde regressam. Independentes de mim, vão pelos ares, montadas nessa asa, retornam à origem com o acrescento que a música de Mahler em mim lhes deu.
Feliz de quem as receba porque levam o meu coração por inteiro.
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Ouçamos o 3º andamento da Sinfonia No. 1 "Titan" de Mahler. Claudio Abbado, o grande maestro milanês, dirige a Filarmónica de Berlim num concerto realizado em Dezembro de 1989.
domingo, 31 de outubro de 2010
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Augusta, é como esse mar da foto que explode lá no fundo. Agora enquanto guio, ouço música clássica, é um enorme prazer.
ResponderEliminarÉ óptimo. Em vez de se ouvir a barulheira cá de fora.
ResponderEliminarNão tens mau gosto, Augusta. Uma maravilha! e que bem que a descreves.
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