quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dois poemas de António Sales

Avô

Gosto de ouvir a tua voz
chamar-me avô
percorrer o meu corpo
chegar ao coração
num sopro de ternura.


Gosto de estar contigo
porque contigo sou.
Em ti encontro a paz
a minha luz.

Futuro

O futuro na minha infância
estava inocente de derrotas e sofrimentos,
simplesmente porque a minha infância
não podia profetizar o futuro.
Sendo futuro embora,
a infância brinca com alegria isenta de manhas,
tomando-o por aliado, amigo, companheiro, irmão.

Mas o futuro não é nenhuma destas coisas.
Nem aliado, nem amigo, nem companheiro, nem irmão.
O futuro não é um anjo da guarda,
nem estrela da deusa Nemesis
varrendo o caminho das traições terrenas.

Porque o futuro é uma abstracção da existência,
um consecutivo adiamento de esperanças,
um ideal narcisista de felicidade
numa vereda de brasas a percorrer
sem queimar os pés.

1 comentário:

  1. Gosto sempre tanto destes poemas do António Sales. Que pena virem tão poucas vezes.

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