Eva Cruz
Já o sol vai alto
deixando para trás a Serra negra.
Apita na calçada o azeiteiro
o cansado chocalhar das almotolias
entrelaça o tropeçar gasto do burrico.
Escorre o azeite da torneirinha
o azeite que vai regar a medo
a ceia da lareira
a lareira do vinho quente da infusa
dos serões com lendas de encantar
e histórias de aterrar
a grade de ouro no fundo do rio
a pedra que promete grande tesouro
a quem a virar
o gado que foge
por artes do demónio
ou por feitiço
no meio das noites de Inverno
sem fim.
A lareira do saber
a falar das curas
das ervas e dos chás
das rezas e artes de talhar
o mau olhado
a espinhela caída e a erisipela.
É o mundo do fantástico
que põe à roda a cabeça de Raquel
e a faz ver para além da noite
no firmamento
alguma estrela que a verdade lhe conte
entre o sonho inventada e a fantasia.
Mas em tempo já sem conta
a verdade que tem
não é a verdade sonhada
nem a verdade que queria.
(In Era uma vez Future Kids)
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
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