sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sempre Galiza! - Rosalia de Castro: Negra Sombra

coordenação de Pedro Godinho


Rosalia de Castro – Negra Sombra



Em tudo estás e tu és tudo,
Pra mim e em mim mesma moras,
Nem me abandonarás nunca,
Sombra que sempre me assombras.

   excerto do poema
  
Negra Sombra
 

Ainda Rosalia,
     sempre Rosalia...




Em 1880, como uma espécie de continuação de “Cantares Galegos”, Rosalia de Castro publica um novo livro de poemas em galego, “Follas Novas” (Folhas Novas).
Dele faz parte o poema “Negra Sombra”, que pela sua força e beleza é lido, declamado e cantado por muitos. Foi primeiro musicado pelo compositor e músico galego Xoán Montés Capón que o associou ao alalá, canto popular galego arrítmico considerado por muitos como a forma mais antiga e característica da música tradicional galega.

Negra Sombra

Cando penso que te fuches,
Negra sombra que m’asombras,
Ó pé d’os meus cabezales
Tornas facéndome mofa.
Cando maxino que’ês ida
N’o mesmo sol te m’amostras,
Y eres a estrela que brila,
Y eres o vento que zóa.
Si cantan, ês tí que cantas,
Si choran, ês tí que choras,
Y-ês o marmurio d’o río
Y-ês a noite y ês a aurora.
En todo estás e ti ês todo,
Pra min y en min mesma moras,
Nin m’abandonarás nunca,
Sombra que sempre m’asombras.
   in Follas Novas (1880)

Negra Sombra

Quando penso que te fuches,
Negra sombra que me assombras,
Ò pé dos meus cabeçales
Tornas fazendo-me mofa.
Quando magino que és ida,
No mesmo sol te me amostras,
I eres a estrela que brila,
I eres o vento que zoa.
Si cantam, és ti que cantas;
Si choram, és ti que choras;
I és o marmúrio do rio
I és a noite i és a aurora.
Em todo estás e ti és todo,
Pra min i em mim mesma moras,
Nin me abandonarás nunca,
Sombra que sempre me assombras.
   in Folhas Novas, edição da AGAL - Associaçom Galega da Língua

Negra Sombra

Aqui ficam duas interpretações de Negra Sombra, para ouvir e voltar a ouvir vezes sem conta:

A da asturiana Luz Casal sente-se na pele e faz chorar de emoção:



Igualmente tocante é a do músico galego Bibiano:




Folhas Novas pode ser encomendado (10€ mais envio) através da Imperdível, a loja electrónica da Associaçom Galega da Língua, em http://www.imperdivel.net/.

«Ediçom e notas de Elvira Souto, prólogo de F. Salinas Portugal. Estamos ante uma poética que afunda nos sentimentos, na saudade e que tem frequentemente, por horizonte, a fronteira do próprio ser.

O achegamento a umha obra como Folhas Novas, está sempre cheo de riscos; o primeiro deles advém a escrever um discurso sobre os múltiplos discursos que sobre Rosalia se fixérom, o outro existe se pretendemos conferir-lhe ao nosso discurso um valor universalizante do que nós queremos ficar à marge.

É a nossa umha leitura "individual", o fruto de um diálogo enormemente gratificante com a própria obra rosaliana

Num começo o poemário concebeu-se como uma continuação de Cantares Gallegos: 40% dos poemas de Follas Novas têm afinidade com o texto publicado em 1863, enquanto o restante das composições apresentam um diferente espírito poético motivado pelo afastamento da terra, as desgraças familiares e as doenças físicas e morais.»



Notícias (lidas no Portal Galego da Língua)

A cantora galega Ugia Pedreira apresentou esta semana em Portugal, no Porto e em Braga, o seu livro-disco-poemário Noente Paradise.
Hoje, dia 29, às 22 horas, dá um concerto na Casa da Música, no Porto.
Noente Paradise é «umha viagem polos mares do norte desde a entranha. Noente está nas praias do interior, segundo se passa por Cuba e se volta, sempre, a Galiza, à repetiçom da quotidiania delirante». «O paraíso está no vaivém contínuo da palavra ao som e do som ao texto».
O livro-disco pode ser encomendado através da Imperdível, a loja electrónica da AGAL – Associaçom Galega da Língua.

Dia 27 deste mês teve lugar em Santiago de Compostela o lançamento da obra magna de Daniel Castelão, Sempre em Galiza, com intervenções de Miguel Penas (editor), Fernando Corredoira (responsável pela adaptação) e os autores de dois dos prólogos, Francisco Rodríguez e Camilo Nogueira.
A edição é da ATRAVÉS|EDITORA, com adaptação para a norma internacional portuguesa de Fernando Corredoira, o qual contou com a colaboração de Ernesto Vásquez Souza para as notas.
Segundo Miguel Penas, vice-presidente da AGAL e director da ATRAVÉS|EDITORA, Sempre em Galiza é a obra que compila e mostra a amplitude do pensamento político de Castelão e «um dos alicerces ideológicos em que se apoiou o nacionalismo galego para se reconstruir após a barbárie fascista que começou no ano 1936, e da qual ainda hoje padecemos conseqüências bem diretas na Galiza».
O livro é acompanhado duma separata, Sempre Castelao – Sete achegas a Castelao e ao Sempre em Galiza, com textos demonstrativos da herança política que Castelão deixou ao povo galego.
O livro pode ser encomendado através da Imperdível, a loja electrónica da AGAL – Associaçom Galega da Língua.


NO ESTROLABIO, AMANHÃ É DIA DE CARVALHO CALERO!


"O galego ou é galego-português ou é galego-castelhano não há outra alternativa."




“Umha língua tam ameaçada como o galego nom pode sobreviver senom apoiando-se nas demais formas do sistema, quer dizer, reintegrando-se no complexo luso-galaico do qual geneticamente forma parte [...] O galego ou é galego-português ou é galego-castelam nom há outra alternativa. [...] Umha concórdia ortográfica, quando menos, e umha inteligência na opçom das formas lingüísticas que integrariam, sem prejuízo das peculiaridades do galego, o veículo geral de comunicaçom, seriam indispensáveis./ Deste jeito, seríamos o que somos, voltaríamos a ser o que fomos: o romance mais ocidental, nom esnaquizado em dous anacos isolados, senom reintegrado numha unidade sistemática que nom exclui a autonomia normativa” [...] “Alguns demagogos querem manter este estado de alienaçom, e rejeitam como artificiosas as formas restauradas. Comovedora homenagem de ignorância ou fanatismo ao mito do galego popular, se nom se trata de uma maquiavélica manobra encaminhada a fazer impossível a supervivência do galego.”

(“Sobre a nossa língua”, em Problemas da Língua Galega, Sá da Costa Editora, 1981, pp. 19-21, conferência no Clube Linguístico da Crunha, 7 fevereiro 1979)

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