segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Noctívagos, insones & afins: O homem que assassinou Sidónio Pais - por José Brandão

No que respeita ao homem que assassinou Sidónio País as coisas não são muito claras. Libertado, em 19 de Outubro de 1921, por um grupo ligado à revolta da Noite Sangrenta, só muito mais tarde José Júlio da Costa voltará a ser preso, e desta vez para sempre. Um indivíduo chamado António Maria Fernandes, morador no Bairro de Alfama, decidira dar caça ao matador de Sidónio Pais. Na posse de um salvo-conduto passado pelo Ministério do Interior, que lhe permitia, se necessário, requisitar o auxílio da Guarda Republicana, este ignorado funcionário público pôs-se a percorrer o País e, depois de ter estado em Garvão e no Algarve, consegue saber que José Júlio da Costa se encontrava numa pensão para os lados de Matosinhos, para onde se dirige, acompanhado de um irmão de Júlio da Costa.


Na sexta-feira, 14 de Janeiro de 1927, o prédio onde se situa o Hotel e Café Central de Matosinhos está cercado pela Guarda Republicana e o proprietário, Alberto Midões, não terá muitas dúvidas em resolver o assunto, entregando José Júlio da Costa aos seus captores.


Na manhã de sábado, Júlio da Costa segue preso para Lisboa num compartimento reservado numa carruagem de segunda classe, e, ao chegar à Estação de Entrecampos, deixa tudo espantado com o seu aspecto trôpego e extravagante. Curvado, pálido, com uma mão no bolso, vestindo um sobretudo engelhado, por detrás do qual se vê um colete branco e uma camisa alaranjada, a completar com um chapéu alvadio amarrotado e umas botas amarelas, José Júlio da Costa é metido num carro celular, que segue em direcção à Avenida Duque de Ávila, para depois tomar o caminho do quartel de Caçadores, em Campolide. À frente vai uma companhia da GNR a cavalo e atrás segue outra. O homem que comanda esta operação chama-se Agostinho Lourenço. Fora governador civil de Leiria no tempo de Sidónio e era agora chefe da Polícia Política que a ditadura do Estado Novo começava a ensaiar.

Às oito horas da noite de 28 de Janeiro de 1927, José Júlio da Costa dá novamente entrada na Penitenciária de Lisboa, vindo a morrer louco, 19 anos depois, no dia 16 de Março de 1946, no manicómio Miguel Bombarda, em Lisboa, referindo a sua certidão de óbito que se tratou de morte por «esquizofrenia».

Como se comportou durante esses anos? Que conversas teve com carcereiros e enfermeiros? Que impressões guardaram dele os companheiros de cárcere ou das horas de passeio na cerca do Miguel Bombarda? Não se sabe. Guardas e enfermeiros, presos e loucos todos morreram, entretanto. E os que não morreram esqueceram-se. A morte e o esquecimento são as duas grandes notas dominantes na história do carrasco do presidente Sidónio Pais. O homem que, na noite de 14 de Dezembro de 1918, conseguiu a celebridade que procurava não a pagou com a vida, como seria de esperar, como ele próprio esperava. Pagou-a com o aniquilamento da sua personalidade e do seu nome e com a dúvida que deixou para sempre a seu respeito. Alguém quis que assim fosse. Mas quem?

Diz-se que Júlio da Costa foi durante muito tempo protegido e amparado por Ana de Castro Osório, ilustre republicana, colaboradora de Afonso Costa e fundadora da «Liga Republicana das Mulheres Portuguesas».

Outros, como Rocha Martins, acusam destacadas figuras do Partido Democrático de estarem por detrás da cobertura que durante longos anos protege o assassino de Sidónio Pais.


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