segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Orçamento, ir à missa de capacete.

Carlos Mesquita

A Igreja de Sto. António de Campolide tem um bom publicitário de batina, aproveitou o momento dos cortes orçamentais para exigir obras no templo ao ministério das Finanças. Vieram fiéis, alguns de fora, compraram uns luzidios capacetes brancos e montaram a cena para as televisões. O espectáculo resultou, contaram a história ficou a reivindicação. Iniciativa criativa da Igreja, que percebe e usa o tempo da mediatização. Pertence à Igreja a melhor campanha de publicidade de sempre, o Natal, e o mais reconhecido logótipo, a Cruz, que deixa o símbolo do Sandeman envolto numa capa negra.

Mas desta vez tem de ir para a bicha dos pedintes, antes estão os polícias, os magistrados, os professores, os autarcas, os banqueiros, a classe média e todos os boys e ladies que dependem do Estado. Desta vez o orçamento é de descascar pessegueiro, ninguém fica completamente de fora, se não cortam nos vencimentos pagam no cabaz de compras, na energia, nas alcavalas de mais impostos e taxas. Parece democrático, (mesmo com casos como o do MAI de ter inscrito mais despesa com os governos civis) mas não é. Quando atinge rendimentos baixos, no limite em que vale a pena sair de casa para ir trabalhar, já não há razões financeiras que justifiquem a austeridade.

O orçamento de Estado, como se sabe, não é um orçamento, é uma campanha de marketing que pretende convencer quem nos empresta dinheiro, a não nos cortar o crédito. É apenas isso.

As medidas correspondem a cortes de efeito imediato, o mais importante, as outras com resultados estruturais não são possíveis elaborar neste curto espaço de tempo; nem se sabe se haverá algum dia, vontade política para as conceber, ou algum consenso na nossa sociedade que o permita.

O tempo escasseia, daqui a um ano o francês Trichet abandona a liderança do BCE, o mais provável é ser substituído pelo governador actual do Bundesbank, Axel Weber, que defende que o banco central não compre as obrigações emitidas pelos Estados europeus. Refiro isto, porque numa altura em que se anda a ver as implicações do orçamento, numa família com rendimento x e 2 filhos e renda de casa e comida para o cachorro e etc.; a politica monetária europeia vai muito provavelmente sofrer uma inflexão que tornará os países do euro com dificuldades financeiras em párias da União. Com o alemão Weber que defende (como a maioria dos alemães) que o BCE comprando a divida dos Estados encoraja a indisciplina nas finanças públicas e que entende que o único papel do Banco é manter o controle de inflação, teremos subida dos juros que provocarão um desastre pior que qualquer orçamento.

Os nossos economistas têm dito que não é possível política restritiva e ao mesmo tempo apostar no crescimento económico, Daniel Beça após a proposta de orçamento escreveu no Expresso que o que anda a ensinar na faculdade talvez esteja errado. Paul Krugman que já vi aqui muito citado, explicou em Abril que a dívida dos EU após a guerra que era 113% do PIB nunca foi paga, foi reduzindo por aumento do PIB durante décadas, caindo em percentagem até 33% em 1981. Ele diz que isso é impossível na Grécia por causa do Euro. Será o mesmo aqui, com a opção recessiva e cortes no investimento que poderia gerar crescimento económico.

Na minha terra há uma discoteca chamada “Àmissa-bar”. Vão à missa!

2 comentários:

  1. Pois é... os fiéis e o padre podiam ter aproveitado a visita de Bento XVI e ido de capacete para a missa no Terreiro Paço. Tinham as televisões de todo o mundo à sua disposição e... até podia ser que se lembrassem o quão absurdo foi os rios de dinheiro que se gastaram em tudo e mais alguma coisa....

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  2. Essas das ladies que vivem à conta do Estado é comigo?

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