segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Capacidade reivindicativa.

Carlos Mesquita

Todos somos instados a pronunciar-nos sobre o apoio ou critica às manifestações, greves ou outras movimentações de carácter sindical.

Participando ou não, toda a sociedade tem opinião.

As movimentações sindicais não merecem apoio por qualquer princípio absoluto, depende das reivindicações, do conteúdo e momento político.

No início da minha vida sindical, pertencia ao Sindicato dos Técnicos de Desenho, um dos 24 Sindicatos Democráticos que estavam na altura na formação da Intersindical Nacional. As reivindicações eram pelas liberdades fundamentais que o regime não permitia, e contra a “carestia de vida”. Apesar das contrariedades impostas pela repressão, a vida sindical era mais clara.

Os sindicatos operários, dos serviços e das profissões tinham os mesmos objectivos, organizavam-se e lutavam em conjunto.

Agora é mais complicado, os sindicatos foram divididos por razões de politica partidária em duas centrais, e mais tarde em vários por actividade, fenómeno quase sempre promovido pelos partidos. Os sindicatos passaram a ser conhecidos por serem afectos a esta ou aquela organização partidária.

Os governos fomentaram alguns para conseguirem interlocutores mais fáceis, outros foram criados por subsectores das profissões, e outros por sindicalistas independentes para escaparem ao controle partidário nos sindicatos.

A alteração do aparelho produtivo, a precarização do emprego e as novas leis laborais contribuíram decisivamente para o enfraquecimento dos sindicatos.

Mas a principal razão para restarem com expressão e capacidade reivindicativa, quase só sindicatos da classe média com o Estado como patrão, deve-se à apropriação do movimento sindical pelos partidos; a classe média é determinante nos períodos eleitorais e quem movimenta a máquina do Estado, pode fazê-la parar.

Hoje já se fala em interesses corporativos, o que deveria ofender o sindicalismo democrático, fundado para dar expressão a quem não tinha representatividade. As reivindicações contra a “carestia de vida” que fazem todo o sentido para uma grande parte dos portugueses estão esquecidas. Não são os trabalhadores que passam maiores dificuldades que têm o apoio dos dirigentes sindicais, é a classe média, que mantém uma relação oportunista com o movimento sindical. Todos têm o direito de defender os seus interesses, mesmo os privilégios que conseguiram obter, mas numa situação de crise económica e financeira, em que todos reconhecem que a riqueza criada no país não chega para a despesa, o movimento sindical tem a obrigação de pugnar por uma mais equilibrada distribuição dessa riqueza.

Quando as centrais sindicais quiserem lutar pela justiça social, promoverão manifestações de desempregados, de trabalhadores precários e com baixos salários, é essa a função nobre da contestação sindical.

9 comentários:

  1. A função nobre, sem dúvida.Numa situação destas reinvindicar para si próprios quando há tanta gente a viver mil vezes pior é, no mínimo, oportunista.

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  2. Fui sempre sindicalista convicta e ativa mas neste momento ando , de facto, um pouco baralhada.

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  3. Não vem mal ao mundo, antes pelo contrário, por haver sindicatos das profissões da classe média (sou da classe média) e têm obrigação de defender os interesses dos seus associados.
    O problema é as centrais sindicais dedicarem-se quase exclusivamente a lutar cntra o "patrão Estado", e mesmo aí condicionadas pelas posições políticas dos partidos que as dominam. Um exemplo: O sindicato da construção civil do norte que quer ver aceleradas as obras das barragens e retomar a construção do túnel do Marão, não tem qualquer apoio nacional. Os verdes contrariam, o PC cala, a CDU bloqueia, BE idem. Qualquer desavença numa repartição do Estado, saltam logo as centrais sindicais, mais os deputados no Parlamento, e a comunicação social a ampliar o desacato.
    O presidente do sindicato da construção foi ameaçado de morte por causa do túnel; nem deputados nem jornais nem TVs nem centrais sindicais. Ou é alergia à ferrugem ou a porcaria dos votos.

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  4. É tudo. Tenho aí para amanhã ou depois um texto sobre os cientistas e investigadores. Não têm vencimento fixo, nem contrato, têm o sonho de um dia virem a pagar impostos. Qual é a culpa deles? Não são suficientes para terem sindicato, nem fazerem barulho.

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  5. Nada tenho contra as reinvindicações razoáveis, assentes no mérito e na avaliação, na comparação de vida com o padrão do resto da população. Como nada tenho contra a escola pública se apresentar resultados e se for colocada no centro das preocupações.

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  6. O problema dos sindicatos ligados aos partidos já vem de longe. Na função pública, a que pertencia,inscrevi-me logo no primeiro sindicato que apareceu a seguir ao 25 de Abril, ligado à CGTP - como sabem os funcionários públicos antes da Revolução não podiam ter sindicatos -, fui delegada sindical na instituição em que trabalhava e representante da mesma em reuniões mais alargadas no âmbito da FP em geral. Mas, a certa altura, as manipulações e os jogos poartidarios começaram a ser tantos que eu comecei a denunciá-los a ponto de alguém quase me chamar fascista. A partir daí, embora tendo continuado sindicalizada, nunca mais quis particiar na máquina.
    Luís, tenho curiosidade de ver esse teu texto sobre os investigadores.

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  7. Está em rascunho, O carlos pode colocar amanhã ou depois.

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  8. Estas reflexões, para 2011 valem pouco, com as notícias de hoje sobre o "rating" bancário e do país, mais a inteligência nacional a pedir ou a não impedir a vinda do FMI, vamos ter manifestações contra os estrangeiros que nos vêm governar. Eles serão muito sensíveis a isso, pois claro!
    Se me permitem um conselho, não comprem nada a pagar num prazo superior a 3 meses, se pensam pagar com o dinheiro da reforma que têm hoje.

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