terça-feira, 2 de novembro de 2010

Continuação!

José Magalhães


Ouve-se por aí, a mais das vezes, como final de conversa.

A palavra pressupõe mais qualquer coisita antes ou depois, mas na verdade é usada e abusada de uma maneira insólita... sem mais nada, tristemente só, pendurada, abandonada.

Que raio de vocábulo para estar sozinho.

Isolada de tudo e de todos, é assim uma espécie de ordem atirada à cara de quem a ouve, dita de forma quase acintosa.

Posso até entendê-la como um insulto, já que a sinto dardejada.

E desta forma solitária quer dizer o quê ? Ninguém parece saber.

Quando ma atiram e eu returco – de quê? – as pessoas ficam atrapalhadas e não sabem responder. Titubeiam, dizem um “pois” acabrunhado, e riem com caras esquisitas, que é a figura que parecem fazer ao usar tal expressão.

E às vezes, vá-se lá saber porquê, lá vão respondendo de uma forma acertada.

E quando a tonteria é tal que a usam no plural?, “CONTINUAÇÕES” !

É de um gozo tal que não evito rir.

Mas porque usarão as pessoas, e já o ouvi de gente de todos os níveis e classes sociais, tal palavra, assim dessa maneira?

E isto não é de uma região só, ouve-se por todo o país !

Que fenómeno social será este?

Acharão eles que é fino, que lhes fica bem, que é moda?

Terá sido alguma palavra importada, sem que eu o saiba, e as pessoas gostam de fazer saber que a conhecem?

Haverá alguma explicação para tal?

E ainda por cima, as pessoas que a usam e dela abusam, dizem-no como se dissessem uma grande coisa, muitas das vezes com um ar convencido e um sorriso estampado no rosto!

Será que o conhecimento da nossa língua é tão parco que não conseguem dizer o resto da frase, ou será que cansa falar?

Ou pior ainda, será que a crise também chegou ás palavras e é preciso poupar?

Caramba! ...

Sabem que mais? Sabem o que me apetece?

Só desejar que fiquem bem, continuadamente!



Já agora,

CONTINUAÇÕES, PRONTOS!!!

... e...

BUÉS DE OBRIGADOS A TODOS!!

.

.

(www.atributos-1.blogspot.com)

20 comentários:

  1. Os modismos sempre existiram - com as telenovelas brasileiras, os brasileirismos (giríssimos no Brasil, geralmente idiotas e ridículos em Portugal, ou seja, na boca de portugueses) aumentaram o número desses desvios à norma linguística. O «tudo bem», pegou, o começo das frases poe «então é assim...», o «escolinha» por infantário, o «fila» em vez do tradicional bicha... Enfim, é bom ser maleável e tolerante, mas tanto, não.
    Fruto de baixa escolaridade? Nem tanto. Estes modismos e brasileirismos, ouço-os na boca de académicos (refiro-me a docentes, porque dos discentes já nem merece a pena falar). O «Continuações» ainda não chegou á região saloia, onde vivo. Mas já fico prevenido.

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  2. *
    Gostei do Post,
    ,
    Obrigado estou, a balancear-me,
    entre Freud e Durkheim, Weber
    e Marx, correndo o Livro Bem Sira ,
    aconselhar-me, com Lutero, Calvin e
    Erasmo e já agora, vou consultar a
    Tora, a Bíblia e o Al Corão,
    chegarei a alguma conclusão ?
    ,
    saudações,
    ,
    *

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  3. Poeta será, meu amigo, distraído é-o, por certo - este comentário não ficaria melhor sob o texto do Professor Iturra? Já agora, depois dos livros sagrados das religões filhas de Abraaão, abra também o grande Dicionário do Houaiss, de Machado, ou mesmo o velho De Morais, e veja se encontra resposta para a perplexidade do José de Magalhães (e minha). Saudações e, já agora, Continuação.

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  4. Continuação "de boa vida" "de felicidade" e se um gajo anda mal? continuação? E não tem nada de bonito.

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  5. Aqui em Benfica também ainda não se diz Continuações. E fila recuso-me a dizer. Para mim é bicha e há-de ser sempre bicha.
    Continuação de uma boa noite, companheiros e amigos.

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  6. Pode-se dizer bicha? ando desesperado com o esforço que faço para dizer fila...

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  7. No meu Norte (há outros) usamos fila. Na economia usa-se fila; ex: fileira do mar e não bicha ou bicheza do mar, na organização (que estudei) sistemas e fluxos, há a teoria das filas e não a teoria das bichas. Os Indios andavam em fila (fila indiana) para os detrás apagarem as pegadas dos que iam à frente; não consta que os "caras pálidas" tenham dito perante a descoberta do estratagema "andou aqui uma bicha indiana".

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  8. Caro(a) CM, desde que me conheço, e já me conheço há muito tempo, que sempre se usou o termo bicha para designar a situação em que várias pessoas se encontram atrás umas das outras à espera de qualquer coisa - dum transporte, de serem atendidas num balcão, etc -,com a maior naturalidade de um termo que faz parte da língua e não comporta nenhum sentido pejurativo. Os exemplos que dá são noutros contextos e estão certos. E fila indiana está, igualmente, muito bem. Eu, também, nunca disse bicha indiana.É por isso que as línguas são belas, pela sua versatilidade e não pela rigidez que, em determninado momento,alguém se lembra de impor a determinada maneira de falar vá-se lá saber porquê. Esse maldito politicamente correcto que nos impede de dizer velho, cego, coxo, etc., palavras que usavamos com menor potencial agressivo do que aquele que têm muitas palavras "bonitas" que se usam agora. Já estou como diz o Adão, e muito bem dito: porra para isto!

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  9. Quero lá saber, Luís. Eu digo mesmo que fiquem a olhar para mim de lado. Gosto muito dos brasileiros mas não sou brasileira.

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  10. Ó Luís, realmente, quando um gajo anda mal, desejar-lhe continuação é mesmo malvadez :-)

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  11. Bicha, do italiano biscia, significa fileira de pessoas. Isto em Portugal, seja no Norte,no Centro ou no Sul- no Brasil, sabemos o que significa - mas o que temos nós a ver com isso?
    É uma vergonha que algumas pessoas com índices de escolaridade relativamente elevada, não defendam o seu idioma de intrusões pretensamente normativas, como é o caso. Uma coisa é enriquecermos a língua portuguesa com empréstimos vindos de outros territórios que de nós a herdaram - outra é inventarmos normas disparatadas. Bicha, pode e deve usar-se na acepção em que sempre usámos a palavra e fila também. Em certos contextos são sinónimas, noutros, são específicas. Em Portugal, bicha nada tem a ver com pederastia.

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  12. CM, você desculpe, mas essa da teoria das bichas fez-me rir à gargalhada. Pois, a Teoria dos Conjuntos também não se chama Teoria dos Agrupamentos ou das Associações. Tudo tem o seu lugar.

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  13. Queen, também quer dizer "bicha" e aqui sim, não se pode traduzir por fila (isto é para mostrar erudição...)mas agora já vou dizer "vou para a bicha" mas há que ter cuidado porque não posso dizer " vou ao encontro da bicha" por exemplo, quando estamos a entrar em Lisboa a certas horas. A língua é muito traiçoeira...

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  14. Ahahahaha! Ó Luís, faz lá os últimos comentários andarem para esta conversa aparecer.

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  15. O que aqui vai...
    Caro Carlos Loures
    Ir para a bicha ou ir para a fila, em Portugal tem o mesmo significado, usa-se mais nuns locais uma expressão ou outra.
    Fila não é um brasileirismo, e foi por isso que fiz um comentário (bem ou mal) humorado.
    A bicha (tradicional, como dizes) conforme fui confirmar ao "Verbo ACL" tem origem no latim bistia, bestia, animal; sem surpresas. Fila é latim e chegou até aqui sem necessidade de evoluir, ao contrário de bicha; bestia, animal, feminino, bicho rastejante; que fez um caminho até chegar a sinónimo de fila.
    Não uso fila porque fui buscar o termo ao Brasil. Os meus avós, pais, irmão, diziam ou dizem, fila de carros, fila de pessoas, fila de espera para qualquer atendimento.
    Biscia em italiano é literalmente cobra, e bicha no léxico peculiar transmontano é vibora e também o orgão sexual feminino.
    Bicha tem um zoológico de significados que vão da gíria brasileira a peças mecânicas, enquanto fila é fila, vem directamente do latim sem passar pelo Atlântico Sul. É português.
    Já agora minha cara Augusta não sou - caro(a),
    o artigo é masculino perfeitamente definido.

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  16. Ah, eras tu?! Ahahaha e eu que não descobri. Julguei que era um carola de fora. Se soubesses o que eu disse de ti ao Carlos :))))

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  17. Olha quem é ele! Não pensei que fosses tu, imitaste bem um professor a falar com parolos. No Machado «bicha» é referido como tendo origem no italiano. Já é tarde, tenho aqui à frente o dicionário etimológico, mas não estou com disposição para entrar numa discussão. Até porque quase tudo o que dizes me parece correcto. Menos uma coisa - a exclusão de «bicha» faz-se por via da influência brasileira, Isso é indiscutível. Fila é também palavra antiga e, por vezes, é perfeitamente indiferente dizer uma ou outra coisa. Com matizes - por exemplo - nunca se disse (senão agora) vou para a fila da bilheteira do cinema. Por outro lado, nunca se disse uma bicha de soldados, aqui a palavra fila ou fileira era e é a adequada. Isto dá para um post. Abreviando - A invasão de brasileirismos e de falsas normas, incomoda-me. E pareceste-me um desses cromos que nos emendam sempre que dizemos bicha. Só mais uma coisa, o Norte não é teu. Também é teu, o que é diferente.

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  18. Meus caros amigos, o que para aqui vai, o que eu fui provocar!
    Em minha casa sempre se disse bicha nuns casos e fila noutros até a minha irmã casar com um "sulista". A partir daí, sempre que o meu cunhado estava presente a palavra bicha era proibida, para significar fila. Penso que os meus sobrinhos não a utilizam a não ser no significado brasileiro.
    Mas outras palavras passaram a ser proibidas na altura. Estou a lembrar-me neste momento do verbo pinchar, mas há mais. Ainda hoje, já homens, os meus sobrinhos não são capazes de dizer que pincham quando pulam (pelo menos desde que o pai deles esteja por perto).
    Uso e gosto de usar os termos que aprendi na minha infância, mesmo os que mais tarde tenham caído em desuso por influências externas ou por falsos moralismos.
    Obrigado pelos vossos comentários.

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  19. Esta foi das conversas mais giras dos últimos tempos, sobretudo pela tareia que demos ao Mesquita cujo género, ainda por cima, andou por aí em dúvida:))

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  20. Pinchar, pode ser "legal" mas é feio p'ra caramba (eu nasci em Penafiel também me lembro...a bola pincha).O Carlos Mesquita deu-nos um banho com aquela do CM ( Couto Moreira? moi?)

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