terça-feira, 30 de novembro de 2010

Economia - A Crise da União Monetária

Rolf Damher


Há dias li em SPIEGEL ONLINE um artigo sobre a salvação do euro. Por considerar o seu conteúdo um perigoso disparate, comentei-o aos meus amigos alemães. Abaixo encontra a tradução do resumo do artigo e do meu referido comentário. O artigo original na íntegra, em alemão, encontra em: http://www.spiegel.de/wirtschaft/unternehmen/0,1518,730712,00.html
Rolf Damher


Crise da União Monetária

Só um novo pacto salva o euro

Uma contribuição de debate de Henrik Müller

Porque é que a Europa não foi capaz de dissipar as dúvidas sobre a sua moeda?

Poderá o euro realmente sobreviver? Sim, mas só com uma condição: a União Monetária deverá tornar-se uma verdadeira União de Destino e de Transferência na qual todos os estados ficam responsáveis uns pelos outros. Para a Alemanha isto soa pouco atractivo mas as alternativas seriam de longe piores – caos e hiperinflação.

"Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual... Somos seres espirituais passando por uma experiência humana". Teilhard de Chardin


Segundo relata Spiegel Online de 25.11.10, existem propostas para soltar “na aldeia” uma nova “porca” de gigantescas dimensões: propõem uma transição da UE de União Monetária para uma União de Destino na qual todos os estados ficam responsáveis uns pelos outros.


O assunto está (aparentemente) claro: para escapar ao “diabo” alegadamente não existe outra alternativa senão pedir a protecção de “belzebu”. Na verdade isto é falso mas a maior parte das pessoas acredita – excepto talvez aqueles que, entre outros, leram e compreenderam o livro “The Logic Of Failure: Recognizing And Avoiding Error In Complex Situations” do professor de psicologia Doutor Dietrich Dörner.

Pelos vistos, entre o actual pessoal político e económico totalmente desnorteado, não há ninguém a quem isto diga respeito.


Se já na „verdadeira“ e natural comunidade de destino, Alemanha, os estados federais ricos resmungam contras as transferências para os estados federais menos ricos, gostaria de ver o que aconteceria se a Alemanha e mais alguns poucos membros da UE tivessem que transferir por obrigação legal dinheiros aos assim chamados estados “PIIGS” – fazendo a Alemanha de financeiro principal e de tesoureiro, claro. Logo que um tal projecto fosse conhecido, p.ex. em Portugal, instalar-se-ia o puro entusiasmo. De facto, finalmente os portugueses poderiam relaxar-se legal e legitimamente e fazer só isto de que são falsamente acusados: férias vitalícias na praia. Em contrapartida abdicar-se-ia da sensação crónica de inveja contra o “benfeitor” Alemanha. Também os então necessários controladores de Bruxelas que controlam por assim dizer os “serviços mínimos”, seriam aceites. Não haveria problemas, pois com o grande know-how da prática do “para inglês ver”, existe uma experiência centenária.

Todavia falta saber que a causa dos actuais problemas não reside na alegada total incapacidade dos estados PIIGS de se sustentarem a eles próprios. Não! A verdadeira causa consiste no facto desses estados terem seguido quase cegamente uma estratégia errada de uma União Europeia que há 30 anos não foi corrigida na sua essência. Foi assim possível acontecer que os líderes da UE com grande proximidade a Bruxelas – p.ex. Alemanha – ainda estejam a operar com um aparente sucesso, enquanto outros estados membros menos fortes, sobretudo aqueles que se envolveram com o euro, começam a ter que passar pelas armas.

Enfim: a proposta feita constitui um perfeito disparate, pois agravaria fortemente os problemas. E: em sistemas abertos – enquanto ainda estiverem mesmo abertos – não existem situações sem saída que obriguem a escolher entre o diabo e belzebu.

A alternativa sistémica-holística (cf. esboço estratégico New Deal), que deixa de fora tanto o diabo como belzebu, é conhecida. Com efeito, sob um grande projecto da UE, uma espécie de golpe libertador, onde se trata de converter cerca de 3.000 milhões de pessoas pobres no mundo em participantes de mercado e futuros clientes, sem ter que entrar logo com milhares de milhões de euros sujeitos a desaparecer em canais obscuros, dissolveriam os actuais conflitos intra e extra europeus que ameaçam a coesão social da UE e da sua moeda.

E com este grande projecto em execução ver-se-ia com que brilho a minha segunda pátria, Portugal, daria conta da tarefa atribuida no âmbito do seu grupo-alvo ideal, as antigas colónias. E mesmo os gregos que sob o falso objectivo e total falta de líderança da UE resvalaram para o famigerado sistema económico conhecido por “fakelaki”, conseguiriam saír do atoleiro – sem dinheiros alemães!

Uma Comunidade de Destino imposta por cima por políticos desnorteados, incompetentes, medíocres e de pouca credibilidade, levaria a que os actuais problemas voltassem rapidamente – então com belzebu “ao volante”. Teriamos insurreição e guerra. Ao contrário, uma mudança de estratégia/comportamento efectuada no sentido acima referido, resultaria num movimento vindo de baixo. A desejada e – no média e longo prazo – necessária Comunidade Europeia de Destino, onde todos são responsáveis por todos, seria, pois, a consequência natural e harmónica daquela mudança de estratégia efectuada.

E tudo isso seria possível realizar dentro de um prazo relativamente curto, graças às forças espirituais-psíquicas (motivação e entusiasmo) que a realização de um objectivo de tais dimensões e tais benefícios óbvios gera. Agora tudo dependerá da evolução da pressão do sofrimento por um lado – afirmo: a evolução terá lugar exponencialmente! – e da urgência e necessidade de efectuar mudanças de fundo, por outro.

Conclusão: o euro sobreviverá e até gerará enormes benefícios sob a estratégia virada para fora do “New Deal”. Escrevi sobre isso sob o título “O EURO: COMO TRANSFORMAR PERIGOS EM OPORTUNIDADES” no Semanário Económico de 28.08.1998. Como ninguém se lembrou de tomar as medidas sugeridas, o meu vaticínio tornou-se realidade – temos crise! Mas ainda estamos a tempo de saír dela airosamente.



Rolf Damher

1 comentário:

  1. Uns choram, outros vendem lenços.As crises trazem sempre grandes oportunidades se houver uma política clara do que queremos ser.Sabermos quais as actividades económicas em que devemos apostar ( que o Prof Peter Drucker há 20 anos veio cá analisar) e apostar com uma prioridade bem definida, nos nossos pontos fortes (o mar, como já aqui falamos e outros...).Mas, como se vê, já há quem abane, novamente, a arvore das patacas, a transferência de riqueza de uns para os outros, dentro da UE.Foi assim que ficamos sem a frota de pesca, marinha civil,metalo-mecânica pesada, estaleiros navais, agricultura... (Cavaco Silva tem muitas culpas no cartório, sob este ponto de vista)

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