terça-feira, 23 de novembro de 2010

Na outra margem

Eva Cruz


De junco tecidos

os teus pés descalços

voam por entre os lírios amarelos

não do Letes

mas do teu Vigues.

Águas de vida e não de esquecimento.

Nem quero que te redimas na outra margem.

Não tens nada a purificar.

Na gota de orvalho reconheces

a seiva da tua mãe

que te leva pela mão.

É a energia condensada

da tua inexistência

a organizar a matéria.

O som de címbalos e trombetas

neutrões e protões

desperta o Letes

para um novo sol.

Talvez reencontres o teu Deus de amor.

Vive na outra margem.

De lá para cá é só um passo

e o teu ser é tão infinito

que cabe neste espaço.

(Ilustração Adão Cruz)

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