terça-feira, 23 de novembro de 2010

Sempre Galiza! - Síntese do reintegracionismo contemporâneo (16), por Carlos Durão

coordenação de Pedro Godinho

Síntese do reintegracionismo contemporâneo (16)
  por Carlos Durão

(continuação)

Entre os comunicados das delegações no Rio estava este: “As delegações de Angola, Cabo Verde, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, e Brasil ao Encontro de Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa, realizado no Rio de Janeiro, na Academia Brasileira de Letras, de 6 a 12 de maio de 1986, agradecem o assíduo comparecimento às suas sessões dos observadores da Galiza, escritor José Luís Fontenla, professora Adela Figueroa e professor Isaac Alonso Estravís, em representação do professor Ernesto Guerra da Cal, bem como do observador da União Latina, professora Rogéria Cruz./ Rio de Janeiro, 12 de maio de 1986”; assinavam, por Angola, a professora Maria Luísa Dolbeth Costa, por Cabo Verde o embaixador Corsino Fortes, por Moçambique o professor Luís Filipe Pereira, por Portugal o professor Manuel Jacinto Nunes, por São Tomé e Príncipe o professor Albertino Homem dos  Santos Sequeira Bragança, e pelo Brasil o acadêmico Austregésilo de Athayde. (Pode ver-se a reprodução facsimilar na p. 127 de “O Acordo Ortográfico e a Lusofonia”, Volume III de Linguistica, Sociolinguistica e Literatura Galaicolusobrasileira e Africana de Expressão Portuguesa, Fundação Europeia Viqueira, Instituto de Estudos Lusogalaicos, Temas de O Ensino, nos 11-13, Ponte Vedra-Braga, 1987. Foi, em parte, a instâncias dos “observadores da Galiza” que se incluiu a participação dos PALOP nas negociações do Acordo). E no “Protocolo do Encontro de Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, de 6 a 12 de maio de 1986”, há ainda esta referência implícita à Galiza: “sem referir em particular outras comunidades que têm na lingua portuguesa seu vernaculo” (ponto 4.4, p. 108, op. cit.). As IF decidiram a partir de então empregar a ortografia desse Acordo nas suas publicações.

Cria-se no 1989 (27 maio) em Ponte Vedra a Fundação Europeia Viqueira, Instituto Internacional da Lusofonia, um de cujos fins é defender “a unidade estrutural da lingua e a sua unificação grafica numa norma padrão” (art. 6o dos Estatutos), ligada às IFGP.

As IF enviaram uma delegação observadora às sessões de debate do Acordo Ortográfico em Lisboa, em outubro de 1990, na Academia das Ciências de Lisboa, no Salão de reuniões internacionais. J.L. Fontenla e A. Gil Hernández formavam parte da Comissão para a Integração da Língua da Galiza no Acordo da Ortografia Unificada; A. Houaiss assinou (com Nélida Piñon) pelo Brasil, como Secretário da Academia Brasileira de Letras, o comunicado que, em nome dos Estados lusófonos, anunciava o Acordo da Ortografia Unificada de 1990, que rezava: “As delegações de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Portugal com a participação de uma delegação de observadores da Galiza, reunidas em Lisboa…” (em I Congresso Internacional de Literaturas Lusófonas, NÓS, Revista da Lusofonia, Ponte Vedra-Braga, 1990/91, nos 19-28, entre pp. 470 e 473; e no Diário da República – I Série-A, no 193, 23-8-1991, p. 4370, publica-se a Resolução da Assembleia da República no 26/91, aprovando o Acordo para ratificação, e mais uma vez mencionando: “com a adesão da delegação de observadores da Galiza”, ibid. Na Rede: http://www.priberam.pt/docs/Acortog90.pdf); na sua Base XI 2o a), o Acordo inclui as palavras galegas “brêtema” e “lôstrego” entre 19 exemplos de proparoxítonas com vogal tónica fechada, introduzidas em sessão de manhã do 11, redigindo o secretário da Academia Brasileira prof. A. Houaiss, e intervindo Malaca Casteleiro, Albertino Bragança, Lindley Cintra, H. Pereira da Rocha, J.L. Fontenla, Costa Ramalho, Tiago Oliveira, Gil Hernández e M. Veiga (“O Acordo Ortográfico 1990 - Crónica de uma semana de 5 dias”, J.L. Fontenla, II Congresso Internacional de Literaturas Lusófonas, revista NÓS, nos 35-40, 1994, pp. 130-131). As IF decidiram a partir de então empregar a ortografia desse Acordo nas suas publicações.

O diretor do Instituto da Lingua Galega, A. Santamarina, declarou a La Voz de Galicia (em 17 janeiro 1991) que o Acordo assinado em Lisboa não tinha interesse para a Galiza.

Em 17 de maio de 2001, em reunião em Braga, as IFGP decidiram que a sua norma ortoépica fosse a do português “nortenho”; na terminologia de C. Cunha e L. Cintra: “dialectos galegos e dialectos portugueses setentrionais” (na "Nova proposta de classificação dos dialectos galego-portugueses", Boletim de Filologia, Centro de Estudos Filológicos, Lisboa, XXII, 1971, pp. 81-116), donde provêm os textos mais antigos do galego-português; marcando bem os ditongos “ou” e “ei”, com "-l" alveolar e não velar, e/o tónicos abertos diante de nasal, pronúncia de a/e/o pretónicos, conservando o e fechado diante de palatal,“r” forte, vibrante múltiplo alveolar e não uvular, e mais palavras ou grafias patrimoniais: ou seja uma norma culta interdialetal e transtópica não ligada a Lisboa.

(continua)

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