(Continuação)
Se o saber das crianças é uma análise do processo ensino – aprendizagem definido por mim, ao queremos entrar nesse processo, parece-me necessário não apenas ultrapassar essa barreira do nada saber, no primeiro dia de vida, nesse minuto em que se começa a aprender. Apesar da opinião de Bion, comentada antes, é preciso ultrapassar também todas as barreiras do inconsciente. Gostava de reafirmar as minhas hipóteses: além da religião como lógica de cultura, todo o progenitor, especialmente docente, precisa possuir ideias da teoria do inconsciente.
Como digo noutros textos meus , normalmente, compara-se o inconsciente com os buracos negros descobertos originalmente por Einstein em 1916, teoria aprofundada pelo meu antigo colega e companheiro de mesa em Cambridge, Steven Hawking . Texto onde falo dos cientistas e dos analistas citados mais em baixo. Diz Hawking que compara – se, demasiadas vezes, o inconsciente com a teoria dos buracos negros, por não se saber o que é possível encontrar dentro deles. Esta noção do inconsciente, a partir do dia em que a psicanálise (psicoanálisis) passou a adquirir um significado preciso de terapia que cura perturbações emotivas ao diferenciar o subconsciente do consciente. A diferença básica entre estes dois conceitos elaborados por Freud (subconsciente e consciente), é que o conteúdo deles pode ser, pelo método associativo, tornado consciente ou pode ser reposto de novo na (consciência) consciência pela vontade do sujeito analisado ou por outros meios, como pela terapia em grupo à Bion ou confrontar-se com os factos à Klein e à Miller. Todas estas terapias colaboram na recuperação de conteúdos do inconsciente passando-os à consciência.
Na teoria da personalidade freudiana o inconsciente é o oculto – um outro da consciência – bem como a "verdadeira realidade" do psíquico, realidade relacionada funcionalmente com as noções de repressão e resistência. O maior problema é definir o conteúdo destes conceitos, bem como da consciência. Vivemos num mundo onde a resistência faz parte da vida. Na época do nosso analisado Freud, denominada vitoriana, porque sim, já que de empatia simpática pouco tinha e de ética ainda menos, havia um comportamento privado pouco amável e um outro público de muita simplicidade, eticamente aprovado. O meu amigo Hawking, foi capaz de viver apesar da sua doença (esclerose múltipla), criar os seus filhos, criar instrumentos para poder comunicar com os outros, aceitar o abandonado da sua mulher. Steven marcou um ponto aprofundado na sua resistência. Ainda hoje, já Professor Emérito continua a pesquisar, o seu consciente não é reprimido pelo seu inconsciente, bem pelo contrário: o inconsciente fornece-lhe dados para ir sempre em frente. Como eu com as minhas “gallalias”, que não encontrava, mas sabia existirem e bruxuleava para as encontrar, da mesma forma que Hawking descobre conteúdos dentro dos buracos negros que Einstein apenas soube identificar, sem neles entrar. O próprio Freud forneceu algumas respostas: num primeiro momento definiu o inconsciente como o reprimido, em 1915, no seu texto "O Inconsciente” . Mais tarde, altera a sua hipótese ao defender que o conteúdo do inconsciente representava as pulsões de vida e morte. O conceito de pulsão substituiu a clássica ideia de instinto, sendo o conceito inconsciente uma noção limite entre o somático e o psíquico. Conteúdos exprimidos em forma de “fantasia”, "textos imaginários"; fantasias e textos imaginários ligados ao conceito de pulsão, conceitos que se podem identificar como uma verdadeira encenação do "desejo" . No entanto, os factos da cronologia histórica têm desmentido que o inconsciente seja um repressor. O inconsciente é o amigo da razão que não descansa até não saber o porquê dos factos, acordados ou em sonhos. Os sonhos são a fantasia do Talmude, mas ao mesmo tempo e como o Talmude diz aos que o entendem, a fantasia sem razão faz parte da realidade, quer dizer, desse dia-a-dia que nos leva a encontrar soluções para os problemas materiais. A título de exemplo, diria que Einstein, Hawking e pessoas como eu, pensamos com a razão, criamos ideias, que o consciente não apenas permite, bem como se apoia no inconsciente para ver a luz no fim do túnel. A pulsão não é uma falta de instinto, eu diria que é dinamizadora de actividades criativas, como tão bem provam Cyrulnik, Bion, Klein e Miller.
Freud costumava dizer que os conteúdos do inconsciente pretendem aceder à consciência por meio das denominadas transformações de compromisso, ou seja, aparecem de formas disfarçadas em sonhos, lapsos, actos falidos, etc. Os sonhos são um dos principais objectos do estudo psicanalítico. Eles são mensajes subliminales do inconsciente, os lapsos e os actos falidos são acciones impensadas que acontecem na vida quotidiana (erros de escrita ou de fala), factos de irrupções ilógicas dentro da racionalidade do dia-a-dia. São da ordem do inconsciente que, acrescentaria eu, o consciente consegue transformar. Quando acontece um engano ao dizer uma palavra por outra (lapso), a psicología afirma que é o que realmente se queria dizer, os lapsos estariam a falar dum conflito (conflicto) interno. É assim que os sonhos e a associação livre (o primeiro que aparece na mente, em sucessão aparentemente casual) são o elo da análise (análisis) terapêutica.
Certos factos da vida quotidiana, demonstram claramente a presença desse outro eu, como quando nos encontramos em casa e um dos nossos filhos aparece a gritar de um canto da mesma para nos assustar. Reagimos de imediato com um salto para pôr distância entre ele e nós. Somente, após alguns segundos, reparamos que não é nenhuma ameaça para a nossa integridade. Essa primeira reacção é um reflexo quase automático, como se o nosso inconsciente se tivesse adiantado à nossa consciência, tomando a iniciativa dos nossos actos. Até parece ser uma resposta, em palavras comuns, do sistema nervoso central ao perigo existente, real ou não.
Notas:
Iturra, Raúl, 2008: Ensaios de Etnopsicologia da Infância. Proferidos como aulas em 2006-2007, 165 páginas, ainda sem editor.
A teoria na net pode ser lida em: http://www.ime.usp.br/~cesar/projects/lowtech/ep2/penrose/buraco.html
Steven Hawking, Catedrático em Matemática, professor do Caius College, em Cambridge, com apenas 40 anos de idade foi-lhe detectada esclerose múltipla progressiva ou esclerose lateral amiotrófica (ELA) que, entre nós, em Portugal, matara, aos 53 anos, o Patriota José Carlos Afonso, conhecido por Zeca Afonso, um dos libertadores da ditadura portuguesa. Steven, ainda vivo e produtivo, revê a sua teoria dos buracos negros ou Black Holes, definido em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u12208.shtml, tem ultrapassado todas as ameaças e prognósticos de morte. Brevemente, este Emeritus Professos, um exemplo para todos nós, deverá deixar de trabalhar. A sua biografia pode ser lida em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Stephen_Hawking. Os principais campos de pesquisa de Hawking são cosmologia teórica e gravidade quântica. No ano de 1971, em colaboração com Roger Penrose, provou o primeiro de muitos teoremas de singularidade; tais teoremas fornecem um conjunto de condições suficientes para a existência de uma singularidade no espaço-tempo. Este trabalho demonstra que, longe de serem curiosidades matemáticas que aparecem apenas em casos especiais, são uma característica genérica da relatividade geral. Hawking pensa que, após o Big Bang, os primordiais ou miniburacos negros foram formados com Bardeen e Carter, propondo assim as quatro leis da mecânica de buraco negro, fazendo uma analogia com a termodinâmica. Em 1974, calculou que os buracos negros deveriam, termicamente, criar ou emitir partículas subatômicas, conhecidas como radiação Hawking, além disso, também demonstrou a possível existência de mini buracos negros. Hawking, concomitantemente, participou nos primeiros desenvolvimentos da teoria da inflação cósmica, no início da década de 80, com outros físicos como Alan Guth, Andrei Linde e Paul J. Steinhardt, teoria que tinha como proposta a solução dos principais problemas do modelo padrão do Big Bang.O asteróide 7672 Hawking foi assim chamado, em sua homenagem. Tudo em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Stephen_Hawking.
Após estas leituras, já não estou tão certo se a metáfora do texto central é válida. Mas, quer no inconsciente e a sua teoria, quer na teoria dos Black Holes, ainda há muito por saber, pelo que a metáfora persiste.
A teoria da personalidade de Freud está definida em vários textos, especialmente nos dois referidos antes : Le moi le ça, de 1923 e no Au-delà du principe du plaisir, de1920. Mas, para os mais leigos, o curso de Freud, de 1916, passado a livro, pode ajudar a elucidar sobre a sua teoria da personalidade : Introduction à la psychanalyse (Leçons professées en 1916).
Traduzido do alemão, com a autorização e revisão do autor, pelo analista Dr. S. Jankélévitch, em 1921, pode ser lido em: http://classiques.uqac.ca/classiques/freud_sigmund/intro_a_la_psychanalyse/intro_psychanalyse_1.doc. São dois cadernos com anexos, iniciando Freud com a seguinte frase: “Penso ser o meu dever supôr que não é sabido por vós que a psicanálise é uma metodologia médica para curar pessoas que sofrem de doenças nervosas”, a versão francesa diz: «Je dois toutefoi supposer que vous savez que la psychanalyse est un procédé de traitement médical de personnes atteintes de maladies nerveuses». Também no seu texto de 1901: Psychopathologie de la vie quotidienne. Application de la psychanalyse à l'interprétation des actes de la vie quotidienne, que passou a livro, em Paris, revisto pelo autor, reeditado pelas Edições Payot, 1975, 298, pp., na colecção Petite bibliothèque Payot, nº 97. A versão francesa (1901) pode ser lida em: http://classiques.uqac.ca/classiques/freud_sigmund/psychopathologie_vie_quotid/Psychopahtologie.doc
Define-se personalidade a tudo aquilo que distingue um indivíduo de outros indivíduos, ou seja, o conjunto de características psicológicas que determinam a sua individualidade pessoal e social. A formação da personalidade é um processo gradual, complexo e único a cada indivíduo. O termo deriva do grego persona, com significado de máscara, designava a personagem representada pelos atores teatrais no palco. O termo é também sinônimo de celebridade. Pode-se definir também personalidade por um conceito dinâmico que descreve o crescimento e o desenvolvimento de todo o sistema psicológico de um indivíduo. Uma outra definição de personalidade passa por considerá-la como: a organização dinâmica interna daqueles sistemas psicológicos do indivíduo que determinam o seu ajuste individual ao ambiente. Mais claramente, pode-se dizer que é a soma total de como o indivíduo interage e reage em relação aos demais. Sobre esta temática, consulte-se http://pt.wikipedia.org/wiki/Personalidade
Texto citado antes e que, mais uma vez reitero, pode ser lido em: http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/laplanche.htm
Para entender a relação psicanálise e felicidade precisamos resgatar alguns dos seus conceitos e categorias. O primeiro deles é o desejo. O desejo é humano, demasiadamente humano. O desejo (Der Wunsch), tal como é entendido pela psicanálise, não é a mesma coisa que necessidade. Enquanto a necessidade é um conceito biológico, natural, implicando uma tensão interna que impele o organismo para uma determinada direcção, no sentido da procura da redução dessa tensão ou satisfação, logo, a auto conservação (ex.: necessidade de fome, então procuramos comida), o desejo, sendo de ordem puramente psíquica, é desnaturado e como tal pertence à ordem simbólica. Enquanto a necessidade é biológica, instintiva e busca objectos específicos (comida, água, etc.) para reduzir a tensão interna do organismo, o desejo não implica uma relação com esses objectos concretos, mas sim, com o fantasma ou fantasia. Ou seja, “o fantasma é, ao mesmo tempo, efeito do desejo arcaico inconsciente e matriz dos desejos actuais, conscientes e inconscientes.
Texto completo em: http://www.espacoacademico.com.br/059/59esp_limafregonezzi.htm
O texto, da minha autoria, Mis Camélias, 2008, editado por Monografias.com, pode ser lido em: http://www.monografias.com/trabajos5/incon/incon.shtml?relacionados ou http://www.monografias.com ou www.monografias.com. As palavras castelhanas têm sido conservadas por corresponderem a nota de rodapé ou a uma ligação para outro texto.
(Continua)
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
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