sábado, 13 de novembro de 2010

O saber das crianças e a psicanálise da sua sexualidade –25 por Raúl Iturra.



Anexo 4

Para entender esta parte do anexo, é preciso saber o conteúdo do texto de Freud de 1925, Psychanalyse et médecine ou La question de l'analyse profane, texto em francês, que pode ser lido em:

http://www.uqac.uquebec.ca/zone30/Classiques_des_sciences_sociales/classiques/freud_sigmund/psychanalyse_et_medecine/psychan_et_medecine.html,

“Psychanalyse et médecine” ou “La question de l'analyse profane” (1925) Posfácio

Posfácio do livro de Freud de 1925, escrito e publicado em 1927.

Versão em língua lusa do livro de 1925 : Freud, S. (1926) A questão da análise leiga. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, volume XX. Rio de Janeiro: Imago Editora; 1976, pp. 203-93.

Este texto é uma edição electrónica realizada a partir do Posfácio de 1927, da obra La question de l'analyse profane ou “ Psychanalyse et médecine”. Tradução do Posfácio de "Frage der Laienanalyse" in Sigmund Freud, Frage der Laienanalyse Gesammelte Werke, Werke aus den Jahren 1925-1931 (p.287 à p.296), 1948 Imago Publishing Co., LtD., London. Posfácio publicado com base no debate organizado pela publicação Revue Internationale de Psychanalyse, no verão de 1927 (ano 13, N° 2 e 3), sobre a questão da análise (nota do texto escrito em língua alemã). Tradução original realizada pelo nosso colega e amigo, Philippe Folliot, professor de filosofia do Liceu Ango de Dieppe, responsável do sítio web Philotra.

Posfácio (1927) (note 1)

Tradução do Posfácio do livro que em alemão se intitula: "Frage der Laienanalyse"

in Sigmund Freud, e em português: Análise Profano.

Texto Original, publicado em Janeiro de 1925, em língua alemã - Em língua inglesa, 1931 e 1948 (p.287 à p.296), por Imago Publishing Co., Lt., Londres.

Tradução de Philippe Folliot, professor de filosofia do Liceu Ango de Dieppe.

Outubro de 2002.

«O motivo pelo qual escrevo este posfácio, deve-se ao facto das discussões que o livro tem causado (Note 2), debates que irei aqui refutar.

As discussões abordam a actuação de um leigo, nosso colega não médico, o Dr. Reik, na análise de pessoas, acusado pelas autoridades de Viena de ser um charlatão. Pode-se dizer que ele é conhecido por todos e que, após indagações sobre o seu saber e actuação, foi absolvido. O sucesso, parece-me, não é devido ao meu livro. As circunstâncias advêm do pouco suporte da acusação ao considerar o acusado pessoa de pouca confiança. O caso do Dr. Reik foi travado, quando se indagavam dados para o processo. Não me parece ser um princípio justo de um tribunal de Viena. Impedir o desenvolvimento do processo não me parece ser correcto por não ter o significado de um julgamento de princípios de um tribunal de Viena, que inquire sobre um julgamento de análises feitas por um denominado profano. Ao outorgar fé à imagem da testemunha « imparcial » no meu livro que defende essa tese, fi-lo porque ao questionar um dos altos funcionários, um homem de espírito brilhante e de uma integridade pouco comum, sobre o caso entreguei-lhe, pela confiança que me inspirara e depositara nele, um texto, uma tese de defesa pessoal acerca do assunto Reik. Estava consciente de não estar a intervir na justiça, pelo que não me parecia credível que ele adoptasse o meu ponto de vista, encerrando o caso com um acordo imparcial.

Os analistas têm adoptado uma opinião comum sobre a análise profana, da qual discordo, o que me tem levado a não solicitar as suas opiniões. Quem, na pesquisa, tem comparado a opinião da Sociedade húngara com a de Nova Iorque, deve talvez presumir que o meu texto não tem colaborado em nada para a defesa do caso, e, porém, mantém a opinião defendida antes de charlatanearia. A pessoa que critica o « charlatão » está isolada, pois numerosos colegas têm moderado a sua opinião aderindo, à minha análise, ou seja, a ideia que a análise profana não tem que estar baseada em costumes tradicionais, mas que pode nascer de uma situação inédita. Assim sendo, este caso necessitava de um julgamento com outro desfecho.

O meu ponto de vista é simples: não se trata de saber se o analista acusado está munido de um diploma médico, importa, isso sim, saber se adquiriu formação específica necessária para o exercício da análise. O assunto em discussão é, pois, saber qual a formação mais apropriada para um analista. Penso e teimo que não é a que a Universidade ensina ao futuro médico. A denominada formação médica, parece-me ser uma caminhada penosa que entrega ao analista, é verdade, muito do que é indispensável, mas também o obriga a outras matérias em nada necessárias à análise. A universidade ensina matérias que podem desviar o saber e as capacidades do analista para um trabalho demasiado teórico e pesado para o analisado. Pode ocorrer o perigo do seu interesse na psicanálise ser perturbado e a sua maneira de pensar distanciar-se dos fenómenos psíquicos. O programa para a formação de um analista deve consistir, em primeiro lugar, a aprender a elaborar, para globalizar, tanto quanto possível, as ciências do espírito : a psicologia, a história da civilização, a sociologia, saberes que a anatomia, a biologia e a história da evolução, mal podem transmitir. Há tanta matéria para aprender, que ao futuro analista pode muito bem ser retirado do programa essas não consideradas fundamentais, por não serem coerentes para entender a mente, por não conferirem directamente com a actividade analítica. Só apenas lateralmente. O que o analista deve saber é tudo o que permita entender os pensamentos da mente analisada, saberes que colaborem para a formação da mente que analisa, ao intelecto da observação sensível.

É fácil esta critica. Não há escolas superiores de análises que satisfaçam este pensamento ideal. É, de facto, uma idealização que pode e deve passar a realidade material. As nossas instituições de ensino, apesar de toda a sua insuficiência juvenil, são o começo dessa realidade sonhada.

Os meus leitores já devem ter entendido, das minhas palavras precedentes, que estou a propor ideias que, nas discussões, são violentamente debatidas: a psicanálise, por exemplo, ainda não é uma especialidade da medicina. Não consigo tão pouco imaginar o porquê da psicanálise não ser reconhecida como tal. Não consigo perceber como é possível, ainda, não ser uma especialidade médica. A psicanálise é parte da psicologia, não apenas da psicologia médica no sentido antigo, ou da psicologia de processos mórbidos, mas sim, e com muita boa vontade, da psicologia como ela é, apenas com mais conteúdo e saber, essa base que passa a ser a psicanálise. Essa análise que não induza a errar na base do seu uso com finalidades médicas. A electricidade e os raios x têm adquirido uma aplicação médica, como teoria física que trata de duas entidades. Tal como os argumentos históricos : nada podem mudar sem provas. Toda a teoria da electricidade faz parte de uma observação, de uma preparação neuro – muscular, porém, ninguém hoje em dia pode pretender que seja parte da fisiologia. Quanto à psicanálise, tem-se comprovado que foi criada por um médico que se esforçava em curar os seus pacientes. Contudo, não avançou muito, mas ajudou no desenvolvimento da teoria psicanalítica. Este argumento histórico é altamente perigoso. Se o continuarmos, poder-se-ia denominar este médico, um mau curandeiro. O corpo médico oferece uma grande resistência ao saber analítico e somos criticados. Não apenas a esse esforçado médico solitário, bem como todos nós. Um dos argumentos parece ser que hoje em dia ninguém está preparado para estudar a mente, ou que exista o direito de a analisar. Na realidade, ainda que recuse esta conclusão, sinto o ímpeto de recusar a ideia dos médicos. Parece-me bem recusar testemunhas como as referidas. Ainda hoje desafio e pergunto-me se as formas médicas de curar não precisam de saber, pelo menos em parte, da teoria analítica, para saber da libido, o primeiro ou segundo dos sub-estágios da dinâmica da vida, como define Abraham, essa dinâmica de se apropriar ou destruir o nosso objecto amado.

É preciso travar, de momento, a análise histórica: por se tratar de uma análise feita por mim, ofereço, aos que se interessem, as minhas motivações para ser analista. A seguir a quarenta anos de prática médica, o meu saber, sobre mim próprio, acusa-me de não ter sido um bom médico (Note 3). Desviei-me, para ser médico, do meu desejo original, desvio imposto sobre mim. Desvio que me levara a um triunfo, de regresso à minha intenção inicial. Desde muito novo, não tinha reparado no meu desejo de ajudar outros seres humanos a curarem-se dos seus sofrimentos. Uma predisposição sádica da minha parte, que não me parecia muito importante.
 
Notas:
 
Do It. Ciarlatano s. m., vendedor, em lugares públicos, de drogas cujas virtudes apregoa exageradamente; aquele que explora a boa-fé do público; impostor; intrujão; pantomineiro;



deprec., mau médico. Definido em: http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx A nota é minha, não de Freud.


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