quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sempre Galiza! – coordenação de Pedro Godinho: Síntese do reintegracionismo contemporâneo (10), por Carlos Durão


Síntese do reintegracionismo contemporâneo (10)
   por Carlos Durão

(continuação)

Naquela situação, publica-se na revista Seara Nova, cujo diretor era Rodrigues Lapa, o Manifesto “dos 13 de Roma” (1974, 1547: 30-31), assinado por (ortografia do original) António Busto Salgado, Maca Cabaleiro, João Curráis, José Manuel García Alvarez, Jesus García Castro, Manuel García Otero, Jorge João Gómez Gude, Ricardo Martínez Valcárcel, José Martinho Montero Santalla, Marcial Portela, Uxío Romero Pose, José António Salgado, João Trillo. Apresentando-o, escreve Lapa: “Este trabalho é o preâmbulo e síntese dum outro, de muito maiores proporções, que intitularam Em prol da integração linguística galego-portuguesa”.

J.M. Montero Santalha publica então “¿Ortografía galega ou galego-portuguesa?” (1975), “Unificación ortográfica galego-portuguesa” (1976, 51: 1-13) e “Directrices para a reintegración lingüística galego-portuguesa” (1979), em que afirma: “ou galego e português som a mesma língua (sem prejuízo de peculiaridades próprias de cada umha das duas áreas), ou som línguas independentes. Os conceitos “idêntica língua” e “línguas distintas” estám separados por um salto qualitativo e nom por umha simples diferença quantitativa, de modo que entre eles nom existe um ponto intermédio”. E mais tarde fala em “língua portuguesa da Galiza” (1989, II: 159); “chamar-lhe língua galega ao que é língua portuguesa da Galiza para todo o âmbito lusófono é uma maneira de enganá-los, porque é uma maneira de fazer-lhes ver que isso não tem nada a ver com eles. Porque não se chama língua brasileira: chama-se língua portuguesa do Brasil. [...] Temos que ter uma instituição que para o resto do mundo lusófono seja claramente lusófona: língua portuguesa da Galiza, não língua galega” (2006); e ainda: “A Galiza é um país de língua portuguesa, um país lusófono: embora muitos dos demais lusófonos o ignorem, fala uma forma de português que os galegos denominamos por vezes «galego» ou mesmo «língua galega», e este factor linguístico é, ademais, o principal sinal de identidade coletiva da Galiza [...] a Galiza encerra ainda uma parte do mais autêntico tesouro do idioma, vivo não só na sua tradição literária e popular mas também na fala habitual de muitos galegos, como consequência do facto de ser a língua «nativa» do território, ou, como diz o nosso Estatuto de Autonomia, «a língua própria»(2009); e declara: “Isaac Díaz Pardo possui uma clara concepção da unidade lingüística galego-portuguesa, e nela devem incluir-se as suas repetidas críticas à atitude isolacionista e culturalmente suicida da Real Academia Galega e do Instituto da Língua Galega” (2008).

Publica-se, em fim, a Lei “de normalización lingüística” (1983), cujo artigo 1 dispõe que “o galego é a lingua propia de Galicia./ Tódolos galegos teñen o deber de coñecelo e o dereito de usalo”. No preâmbulo sustenta, nada menos: “A presente Lei, de acordo co establecido no artigo 3 da Constitución e no 5 do Estatuto de Autonomía, garantiza a igualdade do galego e do castelán como linguas oficiais de Galiza e asegura a normalización do galego como lingua propia do noso pobo”. (Talvez a denominação “propia” do “galego auto-identificado” tente evitar a denominação “vernácula”, que era a do português do Brasil para alguns brasileiros, como também “língua nacional”, ou até “nativa”, apesar de ser assim denominada no mencionado Decreto 1433/1975; em todo o caso evita-se dizer “língua nacional”, que seria o lógico se se concebe a Galiza como nação, ou “norma própria”, que seria a denominação mais acaída do ponto de vista filológico, pois a língua galegoportuguesa das cantigas não era própria da Galiza nem de Portugal, mas ambos a têm por sua). Comenta J.L. Fontenla: “A Lei de Normalização do Parlamento Galego não muda as cousas (apenas faz referência a que a questão da normativa passa a ser competência da Real Academia Galega, deixando fora ao Instituto da Lingua Galega, verdadeiro responsável do conflito linguístico)” (1986, 6/10: 59). E Xosé Ramón Barreiro, Presidente da RAG, confessa: “Hoxe podemos dicir que o ILGA está practicamente integrado na Academia” (2007).

(continua)

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