coordenação de Pedro Godinho
Síntese do reintegracionismo contemporâneo (20)
por Carlos Durão
(continuação)
“Este ibero-románico occidental, dotado dunha unidade sistemática, realiza-se en diversas falas, suxeita-se a distintas normas, e unha destas normas é o galego comun, que, à sua vez, non é outra cousa que un certo sincretismo de variantes coloquiais e literárias que se dan en Galiza. Dentro do portugués hai tamén distintas falas, distintas normas, entre as que figura o portugués normativo, con superior xerarquia político-social, mas para o lingüista unha de tantas manifestazóns dialectolóxicas do galego-portugués” (1986: 224); “Eu neste aspecto son absolutamente ortodoxo. Os heterodoxos son os que discrepan desta tradizón galeguista na que eu estou plenamente incorporado” (1986: 233); “De nada nos serviria que todo o mundo falase e escrevese en galego se ese galego [...] era realmente un castellano agalegado [...] Non abonda con que se fale galego, é que é preciso que ese galego sexa galego, é dizer, que non sexa un produto que con nome de galego nos apresente un dialecto do castellano. Asi que esta é a significazón que ten o esforzo que están realizando muitos intelectuais galegos en pro dunha reintegrazón do noso idioma no seu sistema próprio [...] apesar do decreto de unificazón ditado para impoñer unha normativa oficial, existe un sector importante do país [...] que insisten na necesidade de ter en conta o galego histórico, e que non cren que se poda normativizar e normalizar a nosa língua sobre a base da realidade dialectal dos tempos modernos, que é consecuéncia dun proceso de degradazón do noso idioma, producido por circunstáncias históricas de sobra coñecidas. Entón constitui ao meu xuízo unha cegueira dos políticos que nos governan, induzidos por estudiosos ou técnicos que non posuen a necesária amplitude de espírito para ver o galego cunha conceizón diacrónica, tratar de esmagar a estas persoas, a este grupo que propugna a reintegrazón do galego dentro do sistema ibero-románico occidental; grupo que se ten acreditado como numeroso, como responsável e como ben informado [...] Non me parece correcta a actitude da Administrazón negando, por exemplo, a sua proteczón económica a empresas culturais importantes, polo feito de que a expresón formal ortográfica dos solicitantes deses apoios estexa orientada à reintegrazón do galego ao seio do sistema galego-portugués. En realidade, eses médios económicos [...] son [...] subvenzóns, son bens, cuxo proprietário é o povo galego. E os reintegracionistas, a verdade, cremo-nos parte dese povo galego, e nos parez unha actitude abusiva, absolutamente anti-constitucional, aquela que nos priva de disfrutar dunha proteczón económica que nos parece ser un ben ao que devemos ter acceso todos os galegos” (1986: 239-240). “Então, uma postura de independentismo a ultrança que não reaja devidamente para recuperar o léxico original, substituído pelas aportações castelhanas, e não mantenha o contacto com as restantes realizações do sistema, condena o galego a um isolamento que não é económico, porque o converte numa curiosidade linguística, sem capacidade de difusão, e carente da mínima competitividade para defrontar a pressão do castelhano [...] Para justificar os esforços que se estão a fazer em prol do uso voluntário do galego, é capital apresentar o nosso idioma como variante de um sistema linguístico de uso transcontinental [...] Não sendo assim [...] as possibilidades de persistência do galego como língua normal de Galiza são bastante ilusórias./ O porvir do galego, pois, está na sua coordinação com as demais polas do velho tronco galego-português. Se, segundo querem os separatistas, se obstinasse em permanecer isolado do português, como se não formasse parte do mesmo sistema, as suas probabilidades de sobrevivência seriam escassas, e, a longo prazo, nulas. Haveria eruditos dialectólogos que poderiam continuar estudando o galego, e mesmo poderíamos estabelecer reservas subsidiadas onde se favorecesse a conservação do uso do idioma. […]/ Mas se queremos que o galego seja uma linguagem viva, que possa ser usada a todos os níveis, como língua privada e pública, deveremos reconhecer que, ainda conservando as suas peculiaridades locais, deve ter em conta a marcha geral do sistema. […] O galeguismo, que foi sempre um movimento cultural, ainda que, como é natural, arbitrou uma política ao serviço dos seus ideais, não pode ser hoje tão reacionário que queira paralisar o curso da história, cegando os caminhos pelos que o galego pode recuperar a sua vitalidade. O campo onde os distintos idiomas hão de competir é hoje um campo internacional, e a língua que não possa comparecer neste terreno de jogo, deve retirar-se e esperar a sua desaparição do mundo dos idiomas vivos. O galego não pode subsistir como língua meramente regional, porque essas limitações são incompatíveis com o dinamismo actual dos instrumentos culturais./ [...] As línguas são sempre uma coordenação de falas. Dentro do português há variantes dialectais e crioulos mui importantes. […]/ Por isso consideramos desacertada uma política preocupada por defender o galego da influência do português. A conversão do galego em língua moderna supõe o contacto com o ramo mais afortunado do ibero-românico ocidental, que pode fornecer ao galego encorado e dialectalizado as soluções ajeitadas para a sua actualização naqueles aspectos da sua estrutura que ficaram antiquados ou desfigurados pela pressão do castelhano./ Ao meu juízo, esta reintegração dentro do seu sistema originário do galego, não tem por que supor a substituição das suas formas peculiares pelas do português normativo. [...] Sem prejuízo de que a osmose natural exerça o seu imprevisível papel, devemos partir de que a unidade linguística galego-portuguesa não supõe a uniformidade burocrática. Temos traços fonológicos e morfológicos que não podem ser reprimidos, a reserva do seu destino no livre jogo do intercâmbio cultural. Mas na medida do possível, e sempre que por circunstâncias sócio-históricas não se ponha em perigo a autenticidade das realizações, uma ortografia coordenada deve cobrir a representação escrita da língua comum, como ocorre no caso das demais línguas de cultura./ De resto, na situação especial em que o galego se acha, parece evidente que a utilização de uma ortografia fundada na história do idioma considerado no seu conjunto [...] não poderia ser implantada senão como consequência de um processo que tivesse em conta a preparação do leitor para receber a reforma; [...] Os meios adequados para alcançar o fim constituem um problema privativo dos galegos. Mas o fim está claro: consiste na reintegração da norma galega dentro do sistema natural a que pertence historicamente, e do qual representa uma parte do tronco comum./ Esta política linguística é a propugnada por Castelão quando exprime o seu desejo de que o galego se aproxime ao português até confundir-se com ele. Entendemos: até reintegrar-se no seu sistema natural, até confluir com o português no seio desse sistema, sem prejuízo de manter a sua própria norma, como é o caso do brasileiro. [...]/ As fronteiras políticas não podem impor estranjaria a formas dialectais, ou simples falas, do mesmo idioma. [...]/ Nestas condições, o galego não pode viver de costas ao português, pois o Minho não é uma fronteira linguística, e as falas da Galiza bracarense [...] estão estruturalmente mais próximas às da Galiza lucense que as da Lusitânia originariamente moçárabe./[…] Do que se trata é da restauração da língua do país. Esta seria a língua normal. Não haveria uma língua alta e uma língua baixa. O galego seria língua alta e baixa [...] Mas teriam o galego como língua própria utilizável a todos os níveis, mais tingida de peculiaridades locais no uso interno, mais próxima às formas normativas do português no uso internacional. (1986, 4; 1986: 20)
(continua)
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