quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Economia - a Insurreição que vem ?

Rolf Damher

“O futuro não depende totalmente da nossa vontade, nem é totalmente alheio a ela; não o esqueças, para que não tomes como uma fatalidade o que ainda não aconteceu, nem como impossível de concretizar aquilo que mais desejas.” Epicuro, 341-270 a.C., filósofo grego, Carta a Meneceu

Serve este texto para melhor compreensão dos “mecanismos cibernéticos de correcção” dos quais frequentemente escrevo e a que as nossas sociedades se encontram sujeitas permanentemente, sobretudo nos tempos actuais.

Descobri agora, na rúbrica “Cultura” do magazine alemão DER SPIEGEL, excertos do livro Der kommende Aufstand ("A INSURREICÇÃO QUE VEM" - COMITÉ INVISÍVEL (EDIÇÕES ANTIPÁTICAS) escrito por autores franceses anónimos que se auto-designam “Comité Invisível”. Achei muito interessante, pois a nossa actual situação é aqui descrita com toda aquela redundância que os meus textos nem sempre apresentam. (Quem procura causas e soluções é obrigado a saír da redundância e entrar na redução).

Entretanto encontrei o livro completo em língua portuguesa na net – link abaixo – e passo a copiar os excertos acima referidos, como segue:

Qualquer que seja o ponto de vista que adoptarmos, o presente é um beco sem saída. Não é essa a menor das suas virtudes. Aqueles que desejariam acima de tudo esperar, vêem ser-lhes retirado qualquer tipo de sustentação. Os que pretendem ter soluções vêem-se imediatamente desmentidos. Toda a gente sabe que as coisas só podem ir de mal a pior. «O futuro já não tem futuro» constitui a sabedoria de uma época que atingiu, sob a sua aparência de extrema normalidade, o nível de consciência dos primeiros punks.

A esfera da representação política fecha-se. Da esquerda à direita, é o mesmo vazio que toma, alternadamente, a forma de cão de guarda ou ares de virgem, os mesmos técnicos de vendas que mudam de discurso conforme as últimas descobertas do departamento de comunicação. Aqueles que ainda votam parecem ter como única intenção rebentar com as urnas, à força de votarem como puro acto de protesto. Começamos a pensar que é efectivamente contra o próprio voto que as pessoas continuam a votar. Nada daquilo que se apresenta está à altura da situação, nem de longe nem de perto. Até no seu silêncio, a população parece infinitamente mais adulta do que todos os fantoches que se atropelam para a governar. Há mais sabedoria nas palavras de qualquer chibani1 de Belleville do que em todas as declarações juntas dos nossos auto-denominados dirigentes. A tampa da panela de pressão foi fechada com três voltas, mas lá dentro as tensões sociais não param de aumentar. Vindo da Argentina, o espectro do «Que se vayan todos!» começa seriamente a assombrar as cabeças dirigentes.

Não há que participar neste ou naquele colectivo cidadão, neste ou naquele impasse de extrema-esquerda, na última farsa associativa. Todas as organizações que pretendem contestar a ordem presente têm elas mesmas, um pouco mais folcloricamente, a forma, os costumes e a linguagem de Estados em miniatura. Todas as intenções de «fazer a política de outra forma» nunca contribuíram, até hoje, senão para a extensão indefinida dos pseudópodos 20 estatais.

20 - Os pseudópodes são deformações da membrana plásmica que permitem a um célula alimentar-se e deslocar-se numa determinada direcção. (NT)

Não há que reagir às novidades do dia, mas compreender cada informação como uma operação a decifrar num campo de estratégias hostil, operação que visa justamente suscitar, neste ou naquele, este ou aquele tipo de reacção; e a reter desta operação a informação verdadeira que está contida na informação aparente.

Não há que esperar – um clarão, a revolução, o apocalipse nuclear ou um movimento social. Continuar à espera é uma brincadeira. A catástrofe não é o que aí vem, mas o que já se apresenta. Nós situamo-nos desde já no movimento de desabamento de uma civilização. É aí que é preciso tomar partido.

Não mais esperar é, de uma maneira ou de outra, entrar na lógica insurreccional. É escutar de novo, nas vozes dos nossos governantes, o ligeiro tremer de terror que nunca os abandona. Porque governar nunca foi outra coisa senão repelir por mil subterfúgios o momento em que a multidão se revoltará e todo o acto de governação nada mais que uma forma de não perder o controle da população.

Nós partimos de um ponto de extremo isolamento, de extrema impotência. Tudo está por fazer no que respeita a um processo insurreccional. Nada parece menos provável do que uma insurreição, mas nada é mais necessário.

http://www.radioleonor.org/wp-content/uploads/2010/09/insurreicao-que-vem.pdf

De facto, “eles” têm um crescente medo da população e não sabem como saír desta. Concluindo: como existem saídas, não precisamos necessariamente de "A INSURREICÇÃO QUE VEM", apenas políticos fora do baralho que saben olhar para a frente e que ainda conservam o são juízo humano. É tão simples como isto.

Rolf Damher

P.S. Para que não haja mal-entendidos: embora sabendo, intuitivamente, da existência daqueles mecanismos de correcção cibernéticos em curso – basta ver a TV ou ler os jornais – , não estou a desejar que isto vá até às últimas consequências, pois as coisas poderão tornar-se violentas. Gostaria, sim, de interferir nessa espiral negativa, dando a volta às coisas por cima. Isto é possível com minha estratégia proposta: New Deal. A sua aceitação permitiria converter, imediatmente e sem violências, todas aquelas forças potecialmente destruidoras em forças que fomentam uma nova ordem e novo crecimento orgânico.

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