quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Países em Desenvolvimento, Matérias-primas e Cooperação Económica

O grupo de docentes da FEUC dinamizador e organizador do Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC, este ano intitulado Reflexões sobre a economia global em crise: migrantes, cidades, mercados, governação, vem com o presente texto dar a conhecer o programa da terceira sessão do Ciclo com o tema específico Países em Desenvolvimento, Matérias-primas e Cooperação Económica, que se realizará a 13 de Dezembro de 2010 e que contará com a presença de Alice Sindzingre, Olivier Vallée, Ricardo Soares de Oliveira, Carlos Pimenta, Adelino Fortunato e Joaquim Feio. Aproveitamos ainda para expor algumas das razões que levaram à realização desta sessão.

Mais do que nunca, hoje, os países em desenvolvimento constituem um duplo palco, são duas faces da mesma realidade: por um lado, estão sujeitos a uma pressão enorme no que diz respeito à apropriação das matérias-primas e, por outro, estão sujeitos a uma situação de crise que para muitos deles se pode tornar insustentável, na sequência da recessão mundial, na sequência da redução dos níveis de solidariedade institucional, na sequência da desarticulação dos mercados a nível global, na sequência da ausência de mecanismos de regulação. Neste jogo de sequências não deixa de ser importante analisar a evolução das posições assumidas pelas Instituições de Bretton Woods sobre os países em desenvolvimento, evolução essa que não pode ser considerada independente da entrada da China no comércio mundial e da sua participação, também ela, na apropriação das matérias-primas.

A concorrência mundial em torno das matérias-primas tem-se assim vindo a intensificar, tem-se vindo a apoiar nas vantagens que as empresas nela participantes podem usufruir dos respectivos poderes políticos. Estes mercados — aparentemente transparentes, uma vez que os seus preços são determinados em bolsa — vão-se transformando em mercados quase que subterrâneos, a dependerem cada vez mais dos poderes políticos e das capacidades de obtenção de direitos de exploração dos recursos, escapando tudo isto ao “normal funcionamento dos mercados”.

As relações políticas e económicas internacionais das próximas décadas mais do que poderem ser pensadas como “choque de civilizações”, poderão ser pensadas sobretudo como relações assentes na apropriação de rendas absolutas, assentes naquilo que podemos designar por “imperialismo dos recursos”, que necessariamente escapa à lógica dos mercados, à lógica das bolsas. Longe do imperialismo do velho Lenine, estamos num “imperialismo dos recursos”, que marcha em conjunto com o imperialismo financeiro que lhe está subjacente, estamos perante um imperialismo de luta pela apropriação de rendas absolutas e não tanto das rendas diferenciais à David Ricardo, mais-valias potenciais, portanto. E longe, muito longe, da transparência de mercados que é suposto ter a ver com as rendas diferenciais. Quem nos diz o exacto valor, por exemplo, do mineral coltan? Ninguém! Mas tem valor ou valores; por exemplo, 12 dólares na mina e 500 dólares no mercado. Como sublinha um dos nossos conferencistas, Olivier Vallée: “De uma certa maneira, o encontro do tigre chinês com os chacais das junior companies reproduz no século XXI uma modalidade de imperialismo multinacional a incidir nas sociedades divididas, fragmentadas, na realidade pós-colonial”.

África é disso um bom exemplo, o Congo um país de referência e o Katanga, uma das suas províncias, um dos cenários principais para ilustrar hoje este lado escuro da globalização, da violência estatal pela direito à apropriação dos recursos. Com efeito, como sublinha Thierry Michel, realizador do filme Katanga, a guerra do cobre:

“Joga-se no Katanga uma parte essencial da mundialização. Nesta província em que abundam riquezas, efectua-se aqui uma guerra económica temível entre as grandes companhias mineiras internacionais, mas também entre as grandes potências. Vê-se bem hoje como se confrontam aqui os interesses norte-americanos, mas também os asiáticos, principalmente os da China, cujo poder subiu fortemente e em muito pouco tempo no Katanga. Há também a Índia.

Verifiquei que fortes e temíveis desafios económicos se levantam no Katanga, onde se efectua uma dupla guerra: uma guerra económica, mas também uma guerra social, porque, apesar das riquezas importantes, continua a existir aqui ainda hoje uma miséria profunda da população; centenas de pessoas são obrigadas a escavar a terra apenas com as mãos, sem mais nada, a enfiarem-se pelas entranhas da terra e pelas galerias que não são de modo nenhum protegidas e que desmoronam regularmente, tudo isso para tentar assegurar a subsistência das suas famílias.”

Serão pois conferências e um filme sobre estas questões que serão apresentadas, são pois estas as matérias e os problemas que estarão em debate na Faculdade de Economia e no Teatro Académico Gil Vicente. Contamos, por isso, com o vosso apoio para a divulgação desta iniciativa e com a vossa presença para as discutir, as comentar, presença e apoio que antecipadamente agradecemos.

Pela Comissão Organizadora
Júlio Marques Mota

Terceira Sessão

Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC
DOC TAGV/FEUC, 2010-2011


Países em Desenvolvimento, Matérias-primas e Cooperação Económica


Dia 13 de Dezembro


15 horas

Auditório, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra


Conferências:

Ricardo Soares de Oliveira (Universidade de Oxford)
A China em África: anatomia e consequências da sua expansão

Alice Sindzingre (SOAS, Universidade de Londres)
As matérias-primas e a dependência dos países em desenvolvimento

Olivier Vallée (Economista e Consultor do FMI)
Os minérios africanos e as contradições da economia política do pós-desenvolvimento

Comentários: Carlos Pimenta (FEP), Joaquim Feio (FEUC), Adelino Fortunato (FEUC)


21h 15min
Teatro Académico de Gil Vicente


Documentário: Katanga, a guerra do cobre, Thierry Michel, 2009

Debate com Ricardo Soares de Oliveira, Olivier Vallée, Alice Sindzingre e Carlos Pimenta

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