sábado, 11 de dezembro de 2010

Semana do Ensino - Um Munique pedagógico

Antoine Prost*

Uma catástrofe está em marcha, mais grave ainda que os novos programas da escola primária ou as supressões de postos que se denuncia na imprensa ou na rua. Será fácil, com efeito, voltar a estas medidas.
A supressão de duas horas de aula no ensino primário e a semana de quatro dias correm o risco, pelo contrário, de se tornarem irreversíveis. E ninguém diz nada ou quase. E tudo isto é feito na indiferença geral. Munique foi acompanhado de um " cobarde alívio". Este cobarde consentimento, anuncia, também, uma derrota.

As comparações internacionais mostram-nos em má posição e 10% a 15% dos alunos que entram no 6º ano escolar são incapazes de continuar os estudos. E o que é que se faz? Reduz-se a duração do ensino! A quem é que se quer fazer crer que é possível aprender melhor e mais trabalhando menos? Mesmo o ministro não ousou dizer bem desta medida que lhe foi imposta - diz-se - por um presidente que decididamente não tem necessidade de reflectir para decidir. O ministro limitou-se a dizer que permanecíamos " bem acima da média dos países que obtêm os melhores resultados". Mas se têm êxito, é porque repartem as horas de aula por toda a semana. Vinte e quatro horas durante seis dias são muito mais eficazes que leccionadas em quatro: todos o sabem. Do professor Debré ao doutor Hubert Montagner, os médicos repetiram que seis horas de aula para crianças com menos de 8 anos, é demasiado para ser eficaz.
Com trinta e seis semanas de quatro dias, a Ascensão, a segunda-feira de Pentecostes, o 1 e o 8 de Maio, o 11 de Novembro, tudo isto fará menos de 140 dias de aulas por ano. Contudo, tem-se 210 no Japão, 200 na Itália e na Dinamarca, 188 na Finlândia, 190 na Grã-Bretanha. E tem-se pena do nível dos pequenos franceses? Só há uma coisa realmente importante na educação: é o trabalho dos alunos. Com que milagre, com que poção mágica, está o ministro Xavier Darcos a contar para compensar as amputações por si mesmo decretadas?

Todo o mundo o sabe, mas ninguém diz nada. Onde é que estão os defensores do nível, tão prontos a rapidamente denunciarem toda e qualquer inovação pedagógica? A vaga promessa dum regresso aos bons velhos métodos tranquiliza-os: estes métodos deram as suas provas, dizem. Mas à razão de trinta horas por semana, sem estar a contar as horas suplementares prodigalizadas nas vésperas do certificado de estudos. Acreditam eles, por acaso, que serão também eficazes à razão de vinte e quatro horas por semana?

Com um quinto de tempo a menos, demorariam um ano a mais. E que não nos venham contar que o ensino se vai concentrar-se nos " fundamentais" , uma vez que até se está a acrescentar ainda mais matérias. E os pais dos alunos? Estes são os primeiros interessados. Demasiado contentes por disporem do sábado de manhã, limitaram-se a protestos de princípio. Mas podia dar-se-lhes esta manhã em vez da de quarta-feira; um tribunal administrativo acaba de deliberar que isto seria compatível com o catecismo.

Podia-se também generalizar o que tinha sido aceite nos departamentos que adoptaram a semana de quatro dias: encurtar um pouco as férias. De forma nenhuma: suprimem-se estes dias suplementares. Os princípios que nos orientam não são mesquinhos… A prova? Esta medida não traz qualquer redução ao défice orçamental; é um puro presente.

E os professores? Faça-se-lhes justiça: estes não pediram nada. As professoras são as primeiras a mostrarem-se preocupadas. São elas que fazem trabalhar os alunos - porque uma sala de aulas não é um curso -, elas sabem melhor que ninguém como é impossível fazer mais com menos e sabem que, amanhã, farão delas as principais responsáveis dos malogros da escola. Mas como recusar um presente como este? E, no entanto, esta medida compromete, bastante mais do que outras que provocam greves, o ensino de elevado nível e a qualidade do serviço público que os sindicatos pretendem defender.

O resultado destas cobardias e destas hipocrisias é à priori bem conhecido: o número de alunos incapazes de seguir para além do 6º ano escolar vai aumentar. Pessoalmente, não reconheço a ninguém que não protestem hoje, com todas as suas forças, contra esta medida o direito de vir protestar amanhã para lamentar este falhanço brutal.

Os que se pretendem democratas e defensores do serviço público e não denunciam hoje este trabalho de destruição são mentirosos. Os pais informados das classes médias e superiores saberão e poderão compensar, por recursos diversos e onerosos, mas fiscalmente vantajosos, as insuficiências organizadas da escola pública. Os meios populares, estes, pagarão as despesas desta amputação.

Não basta virem com palavras. Eu espero que me expliquem como é que programas mais vastos contribuem para a melhoria do estudo dos fundamentais, e como é que se aprende mais e melhor trabalhando menos.
*Antoine Prost é historiador da educação.


(Publicado pelo LE MONDE em | 28.05.08 )

1 comentário:

  1. As famílias não têm que estar obrigados a seguir decisões políticas que nada têm a ver com o interesse dos alunos. Lutemos pela autonomia da escola, pela liberdade de escolha, pela liberdade de autonomia pedagógica, pela liberdade de escolher o quadro de professores. O Estado segue o seu próprio interesse, deixem-no seguir, deixem-no a falar sozinho.se não querem também não vale a pena protestar.

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