segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Verbarte - Padre Bartolomeu de Gusmão








Fernando Correia da Silva



Voar como bola de sabão..

Desenho fantasioso para descrever a Passarola e que nada terá a ver com a realidade.
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QUANDO TUDO ACONTECEU...

1685: Nasce em Santos (Brasil). 1701: Embarca para Lisboa. 1705: Inventa bomba que eleva água. 1707: Inventa a drenagem de embarcações. 1709: Constrói a Passarola. 1716(?): Regista sistema de lentes para assar carne ao sol. 1724: Morre em Toledo.


Quadro de Calixto.
Ó Bartolomeu:


sei que nasceste em 1685 em Santos (Brasil). Sei que tu e Alexandre, o teu irmão, estudaram no seminário jesuíta de Belém da Cachoeira, na Bahia. Sei que tinhas 15 anos quando embarcaste para Portugal. Também sei que te formaste em direito religioso, em Coimbra. A Companhia de Jesus ordenou-te sacerdote, sei disso. Com 16 anos mudas-te para Lisboa e ali passas a estudar matemática e física mecânica. Esse teu súbito apetite pela ciência é que me deixa espantado, tanto mais que já és pregador famoso, capelão da Casa Real a convite d’El-rei D. João V.

Ó Bartolomeu:

Regressas a Salvador da Bahia. A tua cabecinha não pára, ânsia de fazer coisas; em 1705 inventas e constróis uma bomba que eleva do rio Paraguaçu para um reservatório lá no alto, a água necessária ao colégio de padres. E em 1707 inventas um sistema para bombear a água para fora do casco dos navios; ou seja: acabas de inventar a drenagem automática das embarcações.

Ó Bartolomeu:

Outra vez em Lisboa reparas que uma bola de sabão, ao passar sobre a chama de uma vela, é impelida para o alto. Ou seja: o ar quente tem poderosa força de ascensão. É quanto basta para quereres construir um aparelho de andar pelo ar. Levas o plano a El-rei D. João V. Ele apoia-te e tu constróis o primeiro balão de papel pardo montado sobre uma tigela onde arde fogo. Nada acontece, o balão não se move, acaba por incendiar-se. Mas o segundo balão, esse sim! Sobe até ao teto da Casa da Índia, onde está a ser feita a experiência. Espantados ficam El-rei, a Rainha, toda a Corte, também o núncio apostólico em Lisboa, futuro papa Inocêncio XIII.

Ó Bartolomeu:

Esse primeiro sucesso empurra-te para a aventura decisiva. Armas um imenso balão de seda impermeável e um recipiente com fogo. Por baixo, uma barcarola para ser tripulada. O gigantesco balão a que dás o nome de Passarola é lançado da parte alta para a parte baixa de Lisboa; melhor dizendo: do Castelo de São Jorge para o Terreiro do Paço. Um sucesso! Um aeróstato 74 anos antes daquele que os irmãos Montgolfier irão inventar em França.

Ó Bartolomeu:

Entre 1713 e 1716 viajas pela Europa. Na Holanda registas o teu sistema de lentes para assar carne ao sol. E depois vives em Paris, a trabalhar como ervanário.

Regressas a Portugal mas começas a ser perseguido pela Inquisição. Não só porque a Passarola é uma afronta aos desígnios de Deus, mas porque és amigo de alguns judeus e cristãos-novos. Dada a indiferença d’El-rei perante a perseguição, resolves fugir para Espanha. Em 1724 uma súbita doença atira-te para um hospital em Toledo. Deitado de costas numa das cama sonhas que arde e cai a Passarola, junto com ela morres tu; fantasia, realidade...

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