Temos dedicado atenção quer a Cabo Verde, quer à Galiza, dois países irmãos, duas culturas intimamente ligadas a Portugal – a galega a montante, nos alvores da nossa identidade, a cabo-verdiana a jusante, consequência das nossas navegações e do povoamento que fizemos das terras que achámos. Ligações entre essas duas culturas? Existem e não são poucas.
Há uma colónia de cabo-verdianos na Galiza, maioritariamente constituída por homens do mar. Um grupo de doze cabo-verdianas, residentes em Burela (Lugo), ensaia desde há cerca de uma dezena de anos, recuperando ritmos ancestrais como a «Batuka». Vamos falar destas corajosas mulheres que não querem que a memória e a voz da sua cultura se percam. O grupo nasceu durante um jantar em Burela. Uma das actuais componentes do grupo, perguntou: por que não batucamos como as velhas da nossa terra? E a pergunta, floresceu, resultando no «Batuko Tabanka».
Diz Antonina de Cangas, a solista do grupo: «As mulheres não podiam falar e, comunicavam, batendo no peito como manifestação de protesto. Depois utilizaram um trapo molhado» e depois, acrescentou, um saco de couro colocado entre as pernas. A «batuka» é uma música de trabalho, como a da «pandereteira» galega ou a das adufeiras portuguesas; está à margem das dolentes mornas que Cesária Évora internacionalizou. Vamos então ouvi-las:
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segunda-feira, 18 de outubro de 2010
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Terreiro da Lusofonia - Tito Paris

Tito Paris, a voz que hoje o Estrolabio traz até ao Terreiro da lusofonia é a de um dos mais conhecidos artistas musicas caboverdianos. Músico, compositor e cantor, nasceu em 30 de Maio de 1963, na cidade do Mindelo, na Ilha de São Vicente. Vive desde há muitos anos em Lisboa.
Após ter produzido e lançado, em 1987, o seu primeiro álbum em 1987, constituiu o grupo com que iria gravar o álbum "Dança Ma Mi criola". Em 1996, lançou o álbum "Graça de Tchega". "Guilhermina", foi gravado e lançado em 2002.
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segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Memorial do Paraíso, de Sílvio Castro - 2
12 de março
Olhando o horizonte sem fim me vem dentro do peito uma tristeza que não é pela navegação, disso tenho certeza. Mas não tenho certeza de onde venha minha tristeza. Grande é esse silêncio das águas, ainda que possa perceber quanto alvoroço vai por cada uma dessas naves. O ar fresco e sereno deixa que passeiem tantas vozes indistintas. Os sons inapercebidos se confundem com a intensa luz do mar, fazendo-se azul verde amarelo.
13 de março
Ah! aqui estão de novo as gaivotas! Pero Escolar me diz que estamos perto de terra e eu já vejo, não a que virá, mas a que ficou para trás.
14 de março, sábado
Finalmente terra! Ainda não serão as nove horas desse sábado tranqüilo e nos vemos entre as Canárias. Já os nossos velhos por aqui passaram e pousaram em tamanhos anos de conhecimentos. Esta Grã Canária que nos está diante dos olhos serenados muitas vezes acolheu os nossos em indas e vindas. Hoje nos acolhe, distante e estrangeira, na calmaria doce de seu mar. Grã Canária, Palma, Ferro, Gomera, Tenerife, Forteventura, Lançarote e tantas outras, quantas vezes falastes português? Sente-se um ar familiar, estando aqui. Sente-se que a costa não está longe.
Olhando o horizonte sem fim me vem dentro do peito uma tristeza que não é pela navegação, disso tenho certeza. Mas não tenho certeza de onde venha minha tristeza. Grande é esse silêncio das águas, ainda que possa perceber quanto alvoroço vai por cada uma dessas naves. O ar fresco e sereno deixa que passeiem tantas vozes indistintas. Os sons inapercebidos se confundem com a intensa luz do mar, fazendo-se azul verde amarelo.
13 de março
Ah! aqui estão de novo as gaivotas! Pero Escolar me diz que estamos perto de terra e eu já vejo, não a que virá, mas a que ficou para trás.
14 de março, sábado
Finalmente terra! Ainda não serão as nove horas desse sábado tranqüilo e nos vemos entre as Canárias. Já os nossos velhos por aqui passaram e pousaram em tamanhos anos de conhecimentos. Esta Grã Canária que nos está diante dos olhos serenados muitas vezes acolheu os nossos em indas e vindas. Hoje nos acolhe, distante e estrangeira, na calmaria doce de seu mar. Grã Canária, Palma, Ferro, Gomera, Tenerife, Forteventura, Lançarote e tantas outras, quantas vezes falastes português? Sente-se um ar familiar, estando aqui. Sente-se que a costa não está longe.
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sexta-feira, 23 de julho de 2010
Tito Paris - um som de Cabo Verde no Terreiro da Lusofonia

Tito Paris, a voz que hoje o Estrolabio traz até ao Terreiro da lusofonia e dá, com ela, os bons dias aos seus leitores, é a de um dos mais conhecidos artistas musicas caboverdianos. Músico, compositor e cantor, nasceu em 30 de Maio de 1963, na cidade do Mindelo, na Ilha de São Vicente. Vive desde há muitos anos em Lisboa.
Após ter produzido e lançado, em 1987, o seu primeiro álbum em 1987, constituiu o grupo com que iria gravar o álbum "Dança Ma Mi criola". Em 1996, lançou o álbum "Graça de Tchega". "Guilhermina", foi gravado e lançado em 2002.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Kiki Lima traz as cores, Nancy Vieira os sons - Cabo Verde no Terreiro da Lusofonia
Kiki LIma (Euclides Eustáquio Lima), nasceu em 1953 na Ponta do Sol, ilha de Santo Antão,Cabo Verde 1983/85 - Tendo frequentado a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, veio a licenciar-se em Design de Comunicação pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Vive em Portugal.
O vídeo, ao som de "Peca Sem Dor", na bonita voz de Nancy Vieira, acompanha uma viagem por algumas das obras de Kiki Lima.
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quarta-feira, 7 de julho de 2010
Paulino Vieira, uma voz de Cabo Verde, no Terreiro da Lusofonia
Hoje, o Terreiro da Lusofonia vai ser povoado por sons de Cabo Verde – a voz de Paulino Vieira em 'm Cria Ser Poeta, uma morna muito bonita. Não conseguimos obter dados biográficos de Paulino Vieira para além de sabermos que nasceu na Praia Branca, ilha de São Nicolau. Teremos de nos contentar com esta informação. E com a bela voz de Paulino Vieira:
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sábado, 26 de junho de 2010
Eugénio Tavares no Terreiro da Lusofonia
A Eugénio Tavares se deve a tomada de consciência, que, por finais do século XIX, se verificou entre as gentes do arquipélago de Cabo Verde de que havia uma cultura genuinamente autóctone. Descendente de europeus, foi dos primeiros a proclamar que os cabo-verdianos tinham direito a uma cultura diferenciada e a uma identidade própria. Eugénio Tavares, foi também um consciencializador activo da cabo-verdianidade, actuando no plano político e cultural e sofrendo as inevitáveis perseguições por parte do poder colonial, sendo obrigado a exilar-se.
Quase desconhecido em Portugal ou redutoramente referenciado como «criador de mornas», Eugénio Tavares foi um escritor, jornalista e polemista de grande valor. Agora que a literatura do arquipélago se afirma como uma das mais pujantes do universo lusófono, com nomes como o do romancista Germano Almeida, como o do grande Daniel Filipe, e o de Arménio Vieira, Prémio Camões de 2009, não devemos esquecer Eugénio Tavares, pioneiro das letras de Cabo Verde.
Eugénio Tavares, nasceu na ilha Brava a 18 de Outubro de 1867, onde faleceu em Junho de 1930. Autodidacta, adquiriu grande cultura, transformando-se na figura literária mais importante de Cabo Verde nas primeiras três décadas do século XX. Deixou uma vasta produção, em português e em crioulo – poemas, narrativas, peças de teatro e, sobretudo, artigos jornalísticos. Quando exilado nos Estados Unidos, fundou o jornal «Alvorada» em New Bedford. Com colaboração intensa na «Revista de Cabo Verde» e no jornal «A Voz de Cabo Verde», foi postumamente publicado um volume com as suas «Mornas». Da sua produção poética seleccionámos um poema em português:
Exilado
Pensa no que há de mais sombrio e triste;
terás, destes meus dias vaga imagem;
soturnos céus – como tu nunca viste –
nunca os doirou o halo de uma miragem.
O sol – um sol que só de nome existe –
envolto na algidez e na brumagem
dum frio como tu nunca sentiste,
do nosso sol parece a morta imagem
imerge o retransido pensamento
nas noites mais escuras, mais glaciais,
prenhes de raios e vendavais;
verás que anos de dor, esse momento
passado, na saudade e no penar,
longe do sol vital do teu olhar!
(Fairhaven, 1900)
Ouçamos uma morna com música e letra de Eugénio Tavares.
Quase desconhecido em Portugal ou redutoramente referenciado como «criador de mornas», Eugénio Tavares foi um escritor, jornalista e polemista de grande valor. Agora que a literatura do arquipélago se afirma como uma das mais pujantes do universo lusófono, com nomes como o do romancista Germano Almeida, como o do grande Daniel Filipe, e o de Arménio Vieira, Prémio Camões de 2009, não devemos esquecer Eugénio Tavares, pioneiro das letras de Cabo Verde.
Eugénio Tavares, nasceu na ilha Brava a 18 de Outubro de 1867, onde faleceu em Junho de 1930. Autodidacta, adquiriu grande cultura, transformando-se na figura literária mais importante de Cabo Verde nas primeiras três décadas do século XX. Deixou uma vasta produção, em português e em crioulo – poemas, narrativas, peças de teatro e, sobretudo, artigos jornalísticos. Quando exilado nos Estados Unidos, fundou o jornal «Alvorada» em New Bedford. Com colaboração intensa na «Revista de Cabo Verde» e no jornal «A Voz de Cabo Verde», foi postumamente publicado um volume com as suas «Mornas». Da sua produção poética seleccionámos um poema em português:
Exilado
Pensa no que há de mais sombrio e triste;
terás, destes meus dias vaga imagem;
soturnos céus – como tu nunca viste –
nunca os doirou o halo de uma miragem.
O sol – um sol que só de nome existe –
envolto na algidez e na brumagem
dum frio como tu nunca sentiste,
do nosso sol parece a morta imagem
imerge o retransido pensamento
nas noites mais escuras, mais glaciais,
prenhes de raios e vendavais;
verás que anos de dor, esse momento
passado, na saudade e no penar,
longe do sol vital do teu olhar!
(Fairhaven, 1900)
Ouçamos uma morna com música e letra de Eugénio Tavares.
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sexta-feira, 18 de junho de 2010
José Luís Tavares , um poeta cabo-verdiano vencedor do Prémio de poesia Cidade de Ourense
O universo da Lusofonia está em movimento: o prémio de lírica Cidade de Ourense foi atribuído na sua edição deste ano ao poeta cabo-verdiano José Luiz Tavares pela sua obra As irrevogáveis trevas de Baldick Lizandro. Em 2004, fora galardoado com o Prémio Mário António da Fundação Calouste Gubelkian . O júri, ao justificar o seu critério, afirmou que a obra constituía «um discurso bem construído em poemas longos com uma linguagem cuidada onde se combinam o classicismo com imagens inovadoras cheias de riscos eficazmente resolvidos».
Este júri era constituído pelo escritor António Pires Cabral, representante do Grémio Literário de Vila Real, Teresa Devesa, professora de língua e literatura galega, Román Raña , vencedor do Prémio na anterior edição e por (Miguel Anxo Fernán Vello, responsável pela editora Espiral Maior. Cidade do Mais Antigo Nome (2010), foi o primeiro livro de José Luís Tavares.
Este júri era constituído pelo escritor António Pires Cabral, representante do Grémio Literário de Vila Real, Teresa Devesa, professora de língua e literatura galega, Román Raña , vencedor do Prémio na anterior edição e por (Miguel Anxo Fernán Vello, responsável pela editora Espiral Maior. Cidade do Mais Antigo Nome (2010), foi o primeiro livro de José Luís Tavares.
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sábado, 15 de maio de 2010
Breve nota sobre a literatura cabo-verdiana
Carlos Loures
No quadro de um projecto institucional de erradicação dos bairros de lata, no período pós-25 de Abril, tive ocasião de contactar núcleos de cabo-verdianos que viviam em bairros da então chamada «cintura industrial de Lisboa» - particularmente na Pedreira dos Húngaros (Algés), nas Marianas (Parede) e no Bairro do Fim do Mundo (Cascais). Fiz muitos amigos e pude constatar, por um lado o apego que aqueles imigrantes mantinham à sua terra e, por outro, a quase total ausência de instrumentos culturais que alimentassem esse amor. Com o escritor Manuel Ferreira, do qual fui amigo desde1964, pois conhecemo-nos durante o II Encontro da Imprensa Cultural, realizado em Cascais, por diversas vezes comentámos essa circunstância que na altura era gritante e que hoje em dia está relativamente superada ou, pelo menos, mitigada.
No decurso de um projecto editorial em que ambos estávamos envolvidos, falámos por diversas vezes em Cabo-Verde e na sua cultura. Foi incentivado por estas trocas de impressões que visitei pela primeira vez o arquipélago e pude confirmar, não só a ideia com que ficara pelo contacto directo com os imigrantes, como também o que Manuel Ferreira me dizia sobre a singularidade das gentes cabo-verdianas e do valor ímpar da sua cultura. Com vista a um trabalho que talvez consiga realizar - uma história concisa da literatura cabo-verdiana, tenho algumas notas tomadas, entre elas a que hoje aqui transcrevo. Eis a primeira.
Durante o período colonial, só no século XX a literatura cabo-verdiana surge com a expressão de uma identidade própria, em ruptura explícita com os modelos europeus até então seguidos, nomeadamente os de matriz portuguesa. Sobretudo com a obra e com a acção de Eugénio Tavares, as temáticas, quer as da poesia, quer as da novelística, passam a relacionar-se com a vivência cabo-verdiana – a insularidade, a seca, a fome e a consequente emigração, para a metrópole ou para outros países. Eugénio de Paula Tavares (Brava, 1867-1930), foi, na realidade, o grande impulsionador da cultura autóctone - a publicação de jornais e revistas por sua iniciativa ou com colaboração sua, foram decisivos na criação de uma consciência cultural cabo-verdiana. Desde o Alvorada, editado nos Estados Unidos entre 1900 e 1917 até ao A Voz de Cabo Verde, publicado na Praia entre 1911 e 1916, houve mais de uma dezena de publicações que editou ou em que colaborou assiduamente. O papel das revistas no despertar da consciência cultural do País, foi enorme. Foi o caso das revistas Claridade (1936-1960) e Certeza (1944). Em 1958 começa a publicar-se o Suplemento Cultural; em 1977 saem o suplemento Sèló e a revista Raízes.
Claridade destaca-se das demais. Os principais autores revelados nesta revista são, entre outros: Jorge Barbosa, António Pedro, Osvaldo Alcântara (Baltasar Lopes da Silva), Manuel Lopes. O cariz neo-realista da Certeza – Guilherme Rocheteau, Tomaz Martins, Nuno Miranda, Arnaldo França, António Nunes, Aguinaldo Fonseca. O papel desempenhado por Claridade no despertar da cultura nacional, transcende em muito as fronteiras da literatura. Pode dizer-se que há um «antes» e um «depois» da Claridade,
O Suplemento Cultural também acrescenta ao acordar da consciência de uma identidade cultural, algo de muito importante – o conceito de nação substituindo o de região ou província ultramarina – Gabriel Mariano, Onésimo Silveira, Ovídio Martins, Terêncio Anahory, Yolanda Morazzo. Não pode ser ignorado o papel da Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, como ponto de encontro de muitos dos futuros intelectuais (e dirigentes políticos) dos PALOPs e, consequentemente, como motor de criação de movimentos independentistas e crisol do despertar de correntes literárias autónomas e libertas da matriz cultural portuguesa. Foram muitos e importantes os intelectuais cabo-verdianos que passaram pela Casa dos Estudantes do Império.
Irei, em pequenas doses, transcrevendo notas sobre este tema que tanto me apaixona, o da literatura cabo-verdiana.
No quadro de um projecto institucional de erradicação dos bairros de lata, no período pós-25 de Abril, tive ocasião de contactar núcleos de cabo-verdianos que viviam em bairros da então chamada «cintura industrial de Lisboa» - particularmente na Pedreira dos Húngaros (Algés), nas Marianas (Parede) e no Bairro do Fim do Mundo (Cascais). Fiz muitos amigos e pude constatar, por um lado o apego que aqueles imigrantes mantinham à sua terra e, por outro, a quase total ausência de instrumentos culturais que alimentassem esse amor. Com o escritor Manuel Ferreira, do qual fui amigo desde1964, pois conhecemo-nos durante o II Encontro da Imprensa Cultural, realizado em Cascais, por diversas vezes comentámos essa circunstância que na altura era gritante e que hoje em dia está relativamente superada ou, pelo menos, mitigada.
No decurso de um projecto editorial em que ambos estávamos envolvidos, falámos por diversas vezes em Cabo-Verde e na sua cultura. Foi incentivado por estas trocas de impressões que visitei pela primeira vez o arquipélago e pude confirmar, não só a ideia com que ficara pelo contacto directo com os imigrantes, como também o que Manuel Ferreira me dizia sobre a singularidade das gentes cabo-verdianas e do valor ímpar da sua cultura. Com vista a um trabalho que talvez consiga realizar - uma história concisa da literatura cabo-verdiana, tenho algumas notas tomadas, entre elas a que hoje aqui transcrevo. Eis a primeira.
Durante o período colonial, só no século XX a literatura cabo-verdiana surge com a expressão de uma identidade própria, em ruptura explícita com os modelos europeus até então seguidos, nomeadamente os de matriz portuguesa. Sobretudo com a obra e com a acção de Eugénio Tavares, as temáticas, quer as da poesia, quer as da novelística, passam a relacionar-se com a vivência cabo-verdiana – a insularidade, a seca, a fome e a consequente emigração, para a metrópole ou para outros países. Eugénio de Paula Tavares (Brava, 1867-1930), foi, na realidade, o grande impulsionador da cultura autóctone - a publicação de jornais e revistas por sua iniciativa ou com colaboração sua, foram decisivos na criação de uma consciência cultural cabo-verdiana. Desde o Alvorada, editado nos Estados Unidos entre 1900 e 1917 até ao A Voz de Cabo Verde, publicado na Praia entre 1911 e 1916, houve mais de uma dezena de publicações que editou ou em que colaborou assiduamente. O papel das revistas no despertar da consciência cultural do País, foi enorme. Foi o caso das revistas Claridade (1936-1960) e Certeza (1944). Em 1958 começa a publicar-se o Suplemento Cultural; em 1977 saem o suplemento Sèló e a revista Raízes.
Claridade destaca-se das demais. Os principais autores revelados nesta revista são, entre outros: Jorge Barbosa, António Pedro, Osvaldo Alcântara (Baltasar Lopes da Silva), Manuel Lopes. O cariz neo-realista da Certeza – Guilherme Rocheteau, Tomaz Martins, Nuno Miranda, Arnaldo França, António Nunes, Aguinaldo Fonseca. O papel desempenhado por Claridade no despertar da cultura nacional, transcende em muito as fronteiras da literatura. Pode dizer-se que há um «antes» e um «depois» da Claridade,
O Suplemento Cultural também acrescenta ao acordar da consciência de uma identidade cultural, algo de muito importante – o conceito de nação substituindo o de região ou província ultramarina – Gabriel Mariano, Onésimo Silveira, Ovídio Martins, Terêncio Anahory, Yolanda Morazzo. Não pode ser ignorado o papel da Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, como ponto de encontro de muitos dos futuros intelectuais (e dirigentes políticos) dos PALOPs e, consequentemente, como motor de criação de movimentos independentistas e crisol do despertar de correntes literárias autónomas e libertas da matriz cultural portuguesa. Foram muitos e importantes os intelectuais cabo-verdianos que passaram pela Casa dos Estudantes do Império.
Irei, em pequenas doses, transcrevendo notas sobre este tema que tanto me apaixona, o da literatura cabo-verdiana.
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