segunda-feira, 7 de junho de 2010

Outra Constituição, outra Democracia, uma Terceira República – 21

Carlos Leça da Veiga

Há um prato de lentilhas oferecido pela União Europeia
Em Portugal, neste 2010, os maus resultados consequentes à integração europeia, já estão mais que à vista e, ao que parece, a procissão ainda vai no adro!

Depois de anos a fio a ouvir dizer-se que a integração europeia era, para Portugal, sem qualquer hesitação, a verdadeira alternativa política e económica, a única possível, a única viável e o único garante do progresso nacional, os portugueses que não vivem de quaisquer mais valias financeiras mas sim de salários demasiado baixos já podem começar a tirar as suas conclusões.

A crise económica tem responsáveis nas altas esferas em que são tomadas as deliberações políticas do capitalismo selvagem e da sua culpa não podem eximir-se os dirigentes da União Europeia. Aqui, em Portugal, por muitas responsabilidades que haja e que não podem desculpar-se, de verdade, não são nada quando comparadas com as produzidas no exterior. O mais grave é elas serem bem aceites, sem recalcitrar, por quantos instalados no alto do poder político português.

Há uma sujeição servil às exigências sacrossantas do mercado que, conforme o tempo avança, só tem mostrado ser um campo de batalha cada vez mais selvagem, corrupto e gerador de pobreza. Entre nós, meses a fio, todos os dias, sabe-se de mais uma outra falcatrua de alto nível enquanto que, em simultâneo, fica a saber-se haver um aumento das dificuldades financeiras das famílias. Para dourar-se o quadro e arranjar desculpas, invoca-se ser assim fora de portas, por exemplo, na área da União Europeia, o tal instrumento gerador de progresso que levaria Portugal até ao novo eldorado!

O avultado grau de desemprego, aquele outro da precariedade laboral e os baixíssimos rendimentos do trabalho auferidos pela generalidade da população portuguesa não encontraram, não encontram, nem encontrarão quaisquer respostas verdadeiramente benéficas por parte desta União Europeia para mais, agora, assoberbada com o nível muito alto duma crise larvar essencialmente económica – que não financeira – sem resposta viável na conformidade dos cânones expansionistas do mercado neoliberal. Com as novas emergências económicas, onde é que a União Europeia encontra compradores para a sua produção?

Os subsídios que, vindos da Europa, têm chegado a Portugal durante os últimos muitos anos – o tal prato das lentilhas que tantas consciências tem comprado – no mais essencial, só forraram, e bem, os bolsos da inutilidade social, por desígnio, os de toda a espécie de oportunismos porém, curiosa contradição, quando a crise económica mais estaria a exigir um incremento do auxilio pecuniário – isto na óptica dos “subsídiodependentes” – muito em breve, conforme consta, as ajudas financeiras têm os dias contados excepto – mais outro facto escandaloso – quando forem julgados necessários para salvar a criminalidade das administrações bancárias e a dos seus “ofícios correlativos”, no caso, a corporação das personalidades políticas useiras e vezeiras no favor das babugens da banca.

O desenvolvimento económico e social de Portugal está inevitável e seriamente comprometido por força da asfixia nacional provocada pela sua iniludível submissão político-económica aos interesses estratégicos do exterior, em principal, os centro-europeus. Assim sendo, qualquer suposta solução proclamada pelo Executivo Nacional e pelos seus serventuários, como é visível, não e nunca conseguirá concretizar-se no sentido do seu bom êxito que não seja, mais uma vez e como sempre, em favor dos grandes possidentes, os eternos beneficiários do esforço do trabalho nacional e, característica indesejável, indiferentes ao bem estar e ao desenvolvimento económico e social da população à custa de quem vivem.

Qualquer solução anunciada por qualquer Executivo Nacional nunca será viável, muito menos sustentável, na conformidade duma política governamental delineada, no mais essencial, como a Europa manda e, na realidade, só manda em favor dos negócios direccionados de tal maneira que, entre nós, só consigam vingar as actividades não produtivas, por desígnio especial, as especulativas. Na realidade não serão estas que irão ser a fonte segura e fiável dum rendimento nacional sustentado, multiplicador da riqueza portuguesa, proporcionador dalgumas exportações e, sobretudo, capaz do objectivo importantíssimo e prioritário da redução das importações, logo da pesada divida externa. Muito pior que as avultadas despesas do aparelho de Estado – mas a Europa põe e dispõe – são as despesas do País, quantas delas, por completo, supérfluas.

No sentido duma redução sentida dos gastos com as importações – que só a autonomia política nacional permitirá poder prosseguir – para nada contribuem, como exemplos mais frisantes, a realização despropositada e sem valor produtivo de obras públicas de cariz faraónico conducentes a acrescentos brutais nas importações; a instalação “novo-riquista” dum comboio de alta velocidade quando em plena crise económica; a construção de mais auto-estradas para agrado, sobretudo, da indústria automóvel e do comércio transitário; a edificação de estádios para a máfia do comércio desportivo; as famigeradas ajudas tecnológicas do tipo “migalhães” e, também, outro sonho lamentável dos possidentes, a aposta, aqui, no incremento do investimento estrangeiro, uma tábua de salvação baseada, vergonhosamente, na oferta nacional duma mão-de-obra suficientemente barata ou, até, se for caso disso – última novidade – para agrado do investidor, subsidiada pelo próprio tesouro português. Entre nós, como fruto da dependência do exterior – afinal, a essência da acção política dos panegiristas do europeísmo – nada de promissor pode contribuir para um saudável desenvolvimento económico e social português. A União Europeia não reserva a Portugal um estatuto de interdependência político-económica mas sim, como salta à vista, de dependência.

Na verdade, a aceitação pacífica pelos últimos Legislativos e Executivos Nacionais da imposição europeia, paga com subsídios pecuniários, para proceder-se à liquidação do aparelho produtivo de Portugal demonstra à saciedade a verdade da sujeição política e económica em que o país está. Assim, sem peias, por parte dos Órgãos da Soberania, só são vistas darem-se facilidades de toda a ordem àquilo que chamam de “empreendorismo” porém, como isso mais convêm aos estados europeus realmente exportadores, um “empreendorismo” afastado dos terrenos sectoriais duma intervenção reconhecidamente produtiva com cuja laboração tradicional havia, anos atrás, uma capacidade técnica, apesar de tudo, habilitada a conseguir limitar, com algum significado, o rol das importações necessárias cujas, hoje em dia, têm de ser feitas por imposição política dos estados continentais da Europa. Afinal, é uma obrigação extorquida aos portugueses para compensar, com vantagens apreciáveis, o favor dos subsídios europeus já aqui recebidos.

(Continua)

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