segunda-feira, 21 de junho de 2010

Saramago à procura de Deus?



Luis Moreira


A obra de Saramago é uma procura incessante do transcendental ? Quando Saramago confronta Deus com a imperfeição do Homem, ou O acusa da Bíblia ser "um conjunto violências" estamos perante uma revolta por não encontrar Deus na Humanidade?

Se nas obras em que essa confrontação é evidente, como acusando Deus e os Evangelhos de serem profundamente imperfeitos vindos de alguem que se apresenta como perfeito e está em todo o lado, no "Ensaio sobre a Cegueira" que foi o livro que lhe deu o empurrão final para o Nobel, essa leitura pode e deve ser feita.De que se trata?

De toda uma população que cega, com a excepção de uma mulher, "SER" excepcional que vê pelos outros, que se "dá" aos outros, que "guia" entre a miséria e o sofrimento.Porquê alguem que vê quando os outros não conseguem? Porquê uma mulher? Ser que dá a vida não deixando de ser uma mulher?

Esta procura incessante presente na obra de Saramago, vai ao arrepio do homem ateu, ou faz parte das interrogações do homem empenhado no curso da humanidade?

A nota do Vaticano sobre a morte de Saramago é amarga e pouco bondosa, não "recebe o filho desavindo no seu seio" carimba-o de marxista- lelinista e vê na sua obra um confronto gratuíto com a Igreja.Nada de mais errado! Saramago à sua maneira é um escritor profundamente revoltado com a falta de Deus no quotidiano medíocre e sem grandeza do Homem.Chamemos-lhe o que quisermos, Deus, transcendente, mas o objectivo de tirar a Humanidade da escravidão do "TER" e chamá-lo ao "SER" parece-me ser um linha orientadora da sua obra, reconhecidamente Universal!

4 comentários:

  1. Dando-te alguma razão no que afirmas, circula pela internet este poema do Saramago, publicado em PROVAVELMENTE ALEGRIA, um livro editado em 1985:

    Na ilha por vezes habitada do que somos,
    há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
    Então sabemos tudo do que foi e será.
    O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade,
    e dizem-se as palavras que a significam.
    Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.
    Com doçura.
    Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, vontade e os limites.
    Podemos então dizer que somos livres,
    com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mundo infatigável
    porque mordeu a alma até aos ossos dela.
    Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a
    pedra e a raiz.
    Cada um de nós é por enquanto a vida.
    Isso nos baste.

    (

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  2. Sim, é melhor dizer que é um assunto que está sempre presente na obra dele.

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  3. Cada um de nós é por enquanto a vida.
    Isso nos baste.

    que se cale quem agora fale que o excesso é lixo

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