quarta-feira, 14 de julho de 2010

Bakunine por Bakunine (Raúl Iturra)

MARX E A INTERNACIONAL: CARTA AOS INTERNACIONAIS DE BOLONHA - 3  (Continuação)


Na realidade, é a camarilha alemã que domina e faz tudo no Conselho Geral. Os seus membros ingleses, como verdadeiros insulares, e ingleses que são, ignoram o continente, só se preocupam exclusivamente com a organização das massas operárias em seu próprio país. Tudo o que se fazia no Conselho Geral era unicamente feito pelos alemães sob a direcção exclusiva de Marx.

Por sinal, até Setembro de 1871, a acção do Conselho Geral, do ponto de vista propriamente internacional, foi totalmente nula, de tal forma nula que jamais cumpriu com as obrigações que os Congressos tinham, um de cada vez, imposto, como por exemplo as circulares que ele devia publicar todos os meses sobre a situação geral da Internacional e que jamais publicou. Em relação a este facto houve muitas razões. Inicialmente, o Conselho Geral sempre foi muito pobre. Nós que conhecemos bem o estado das finanças da Internacional, rimos e continuamos a rir quando lemos, nos jornais oficiais e oficiosos de diferentes países, as fábulas sobre as somas imensas que Londres envia para todos os lugares para fomentar a revolução. O facto é que o Conselho Geral sempre se encontrou numa posição financeira excessivamente miserável.

Não deveria ser assim se todas as secções que se encontram estabelecidas sob a bandeira da Internacional, em todos os países, lhe tivessem regularmente enviado os dez centavos por membro ordenados pelos estatutos. A maioria das secções não o fez, até aqui.

A segunda causa da inacção do Conselho Geral foi a seguinte: não havia a mínima possibilidade, até 1871, para o estabelecimento da dominação alemã. As secções francesas e belgas e, em parte, as da Suíça romanche que dominavam nos Congressos eram muito orgulhosas, muito ciumentas da sua independência para se submeter à ditadura de uma seita alemã. Os delegados das sociedades operárias da Alemanha e da Suíça alemã só começaram a tomar parte das discussões dos Congressos da Internacional depois de 1869. Apresentaram-se pela primeira vez, em número considerável, no último Congresso de Basileia (Setembro de 1869), após se terem constituído previamente em partido da democracia socialista pangermânico, sob a inspiração directa e sob a direcção indirecta de Marx que, residindo em Londres, fazia-se e faz-se representar ainda no seio do proletariado, tanto da Alemanha propriamente dita, quanto da Áustria, principalmente por seu discípulo, judeu como ele, Liebknecht, e por muitos outros partidários fanáticos, na sua maioria judeus também.

Os judeus constituem hoje na Alemanha uma verdadeira potência. Ele próprio judeu, Marx tem em torno de si, tanto em Londres quanto em França e em muitos outros países, mas sobretudo na Alemanha, uma multidão de pequenos judeus, mais ou menos inteligentes e instruídos, vivendo principalmente da sua inteligência e revendendo as suas ideias a retalho.

Reservando para si próprio o monopólio da grande política, ia dizendo, da grande intriga, abandona de bom grado o lado pequeno, sujo, miserável, e é preciso dizer que, sob esse aspecto, possante centralização do Estado, e lá, onde sempre obedientes a seu impulso, à sua elevada direcção, eles lhe prestam grandes serviços: inquietos, nervosos, curiosos, indiscretos, tagarelas, agitados, intrigantes, exploradores, como o são os judeus em todos os lugares, agentes de comércio, académicos, políticos, jornalistas, numa palavra, corretores de literatura, ao mesmo tempo que corretores de finanças, apoderam-se de toda a imprensa da Alemanha, a começar pelos jornais monarquistas mais absolutistas até aos jornais absolutista radicais e socialistas, e desde muito tempo reinam no mundo do dinheiro e das grandes especulações financeiras e comerciais: tendo assim um pé no Banco, acabam de colocar nestes últimos anos o outro pé no socialismo, apoiando assim seu posterior sobre a literatura quotidiana da Alemanha... Podem-se imaginar o tipo de literatura nauseabunda que estes factos históricos devem criar...

Bem, todo esse mundo judeu que forma uma única seita exploradora, um tipo de povo sanguessuga, um parasita colectivo devorador e organizado nele próprio, não apenas através das fronteiras dos Estados, mas através mesmo de todas as diferenças de opiniões políticas, este mundo está actualmente, em grande parte pelo menos, à disposição de Marx de um lado, e dos Rothschild do outro. Eu sei que os Rothschild, reaccionários como são, apreciam muito os méritos do comunista Marx; e que, por sua vez, o comunista Marx se sente invencivelmente arrastado, por uma atracão instintiva e uma admiração respeitosa, em direcção ao génio financista dos Rothschild. A solidariedade judia, esta solidariedade tão possante que se manteve através de toda a história, une-os.

Isto deve parecer estranho. O que pode haver de comum entre o socialismo e o grande Banco? É que o socialismo autoritário, o comunismo de Marx quer a possante centralização do Estado, e lá, onde há centralização do Estado, deve haver necessariamente um Banco central do Estado, e lá, onde exista tal Banco, os judeus estão sempre certos de não morrer de frio ou fome. Ora, a ideia fundamental do partido da democracia socialista alemã é a criação de um imenso Estado pangermânico e, por assim dizer, popular, republicano e socialista – de um Estado que deve englobar toda a Áustria, os eslavos, a Holanda, uma parte da Bélgica, uma parte da Suíça pelo menos, e toda a Escandinávia. Uma vez que ele tivesse englobado tudo isso, natural e necessariamente ele acabaria por englobar todo o resto. A influência desmoralizante deste partido fez-se sentir há um ano na Áustria e faz-se sentir agora na Suíça.

Em 1868, ocorreu no proletariado da Áustria um movimento espontâneo magnífico. Nas suas assembleias populares, os operários de Viena e de muitas outras grandes cidades da Áustria tinham proclamado em voz alta que, compostos de raças diferentes, alemães, eslavos, magiares, italianos, eles não queriam nem podiam içar em comum nenhuma bandeira nacional, deixando a cada país o desenvolvimento absolutamente livre da sua nacionalidade particular, tão sagrada quanto o direito natural que é a própria individualidade de cada homem. Mas em comum eles só queriam içar a bandeira da emancipação dos trabalhadores, a bandeira da revolução social, a bandeira da fraternidade humana que deveria tremular sobre as ruínas de todas as pátrias políticas, quer dizer, das pátrias constituídas em Estados que se denominam nacionais, separados vaidosamente, ciumentamente, ambiciosamente, hostilmente, e para tudo dizer numa única palavra, burguesmente, um do outro (todo o Estado nada mais sendo do que uma exploração do proletariado organizada em favor da burguesia), e a pátria política jamais sendo a pátria das massas populares, mas sempre as das classes exploradoras e privilegiadas. A pátria do povo é natural, não artificial, e tem como base principal, real, a comuna. Eis porque Mazzini, teólogo e burguês, atacou com tanta obstinação o programa da Comuna de Paris, e eis porque o general Garibaldi, cujo grande coração bate uníssono com o coração do povo e que possui a intuição dos grandes instintos e dos grandes factos populares, declarou-se a favor da Comuna de Paris e pela Internacional, contra Mazzini.

Em consequência, numa assembleia popular imensa, os operários de Viena recusaram solene e unanimemente todas as proposições pangermânicas e patrióticas dos democratas burgueses da Alemanha e votaram uma mensagem de fraternidade, de aliança íntima com todos os trabalhadores revolucionários socialistas da Europa e do mundo. Eles adivinharam por instinto todo o programa da Internacional.

(Continua)

Ilustração: cartaz da década de 1880 retratando Bakunine como um "Danton moderno".

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