Manuela Degerine
Capítulo XLVIII
Décima quarta etapa: de Albergaria-a-Velha a S. João da Madeira
Hoje a etapa é de 28km. Começo por atravessar uma floresta de eucaliptos, depois, já acompanhada por Martine, caminho um pouco à beira da N1. Notamos aqui, mais do que nunca, que Gérard Rousse utiliza mapas de outras eras – nem sequer assinala a existência de Albergaria-a-Nova. Fala-nos em contrapartida de uma aldeia denominada Branca, a 8,5 km de Albergaria-a-Velha, pela qual talvez passemos, de maneira despercebida. Uma vez mais, as expressões “Depois” e “Mais adiante”, sem indicação da distância, nos baralham. Acabamos por seguir apenas as setas amarelas, bastante raras, perguntando, de vez em quando, o caminho aos habitantes. Não andamos perdidas sem todavia sabermos com rigor por onde andamos.
- Como se chama esta terra?
O nome não aparece no mapa do roteiro. E Gérard Rousse descreve-nos um percurso que não é bem o que seguimos, fala-nos de uma rua da Gândara mas, pelo que notamos, aqui cada terra (ou quase) tem a sua rua da Gândara, assinala uma praça com calçada, bancos e candeeiros, que pensávamos haver ultrapassado há quilómetros, quando por fim aqui chegamos... Ou será outra?...
Martine surpreende-se com as dimensões das vivendas que, com frequência, vemos – as famílias portuguesas são assim tão grandes? Este gigantismo é de facto a característica do habitat contemporâneo que mais chama a atenção. Em França, onde os espaços habitados precisam de ser aquecidos durante, no mínimo, seis meses por ano (em Paris o meu prédio é aquecido durante oito), as casas têm a superfície necessária – e não mais.
Continuamos a atravessar uma região de habitat disperso, nem campo nem cidade, porém agradável, povoado, florido e onde as pessoas se mostram acolhedoras. Acompanhamos durante quilómetros uma linha de caminho de ferro, através de uma rua paralela ou mesmo caminhando ao lado dos carris.
A certa altura passamos por um camião no interior do qual vemos uma mulher com um ramo de salsa na mão: está a fazer o almoço para quarenta peregrinos. Conversamos um pouco. Peço autorização para tirar uma fotografia...
Chegamos a Pinheiro da Bemposta. Há vários quilómetros que Martine suspira por um café onde se possa sentar e refrescar, comer algo, ler um capítulo de Mémoires d’Hadrien – encontrar-se outra vez só. Já notei que tem uma personalidade muito independente. Eu também gosto de caminhar sozinha: fico mais disponível para ver a paisagem. Despedimo-nos. Até mais logo. No caminho, nos bombeiros, na biblioteca, na cabine telefónica, em algum café ou restaurante recomendado por Gérard...
quarta-feira, 14 de julho de 2010
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