sábado, 17 de julho de 2010
Opinião. Passos Coelho impõe portagens na A24.
Carlos Mesquita
Razões de força maior impossibilitaram o envio, na semana passada, do artigo que tinha planeado. Ia no seguimento do anterior, sobre a prestação dos cuidados de saúde no Alto Tâmega, e a capacidade reivindicativa da denominada Comissão de Defesa da Unidade Hospitalar de Chaves. Entretanto surgiu o tema da portagem em todas as SCUTs. Coloquei um texto no blogue Estrolabio, dia 3, (www.estrolabio.blogspot.com) com a posição que defendo há anos neste jornal. Os dois problemas estão relacionados num ponto; Trás-os-Montes não consegue dizer NÃO. Perante actos políticos que prejudicam a Região, os transmontanos têm respondido com uma passividade ímpar. Não há cidade ou lugarejo, empresa ou grupo profissional, que seja ofendido nos seus direitos e não parta para a luta, que barafuste, mesmo que não consigam ganhar as batalhas, vão à briga, ouvem-se, vêem-se. Em Trás-os-Montes não; a apatia tomou conta das gentes transmontanas.
Estou convicto que isso se deve ao facto das pessoas mais activas e conscientes dos problemas, estarem arreigados aos partidos maioritários, PS e PSD, e à inexistência de uma “sociedade civil” (detesto esta terminologia, mas serve) independente e dinâmica. Mas se a sociedade civil é servil, por ignorância ou indiferença, caberia aos militantes políticos que têm noção das implicações das opções políticas, tomar posição e juntar vontades. A realidade é que PS e PSD servem apenas para dividir os transmontanos. As causas de Trás-os-Montes foram substituídas por razões laranjas e rosas, há sempre uma cor disponível para justificar toda a espécie de actos que lesam a Região.
Os eleitos em Trás-os-Montes seja para o poder local seja para a Assembleia da República, têm posto sempre o partido, ou o líder nacional, à frente dos interesses das populações que os elegeram. Chaves tem duas figuras no parlamento, veja-se pela sua actividade parlamentar (as intervenções e o que subscrevem está na Internet) se lá estão em defesa da Região ou a tratar da carreira. Não têm qualquer influência. A deputada Paula Barros que subiu no PS por fidelidade a Sócrates, para além da importância figurativa nas fotografias do líder em visita à sua região, não se lhe conhece qualquer interferência nas políticas regionais, a não ser o apoio cego a todas as medidas do governo, seja na Comissão de Educação com Maria Lurdes Rodrigues, seja na Saúde, onde apoiou as políticas de Correia de Campos que geraram a situação do Hospital de Chaves; está agora na Comissão de Defesa da Unidade Hospitalar de Chaves; sem comentários. O outro deputado flaviense, António Cabeleira, é daquele PSD que Sócrates chama ultra liberal, recebeu o Hospital Privado de braços abertos, (numa festa a que, segundo me lembro, o presidente da Câmara não foi) está ideologicamente contra o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e está no seu direito, a maioria de quem votou nele é que duvido que saiba o que é não ter SNS. Enfim, não se pode contar com o PSD na defesa da Saúde Pública, nem na situação das portagens; é o PSD que está a fazer chantagem com o governo minoritário de Sócrates para impor portagens na A24. Comissões, moções, entrevistas e reclamações vindas donde vêm, é só conversa. Eleitos por Chaves ou pela Brandoa dá no mesmo.
O apoio fanático ao Mercado, causador da crise que vivemos, não deixa o PSD defender o interesse local, nem o interesse nacional, como se vê pela posição em defesa dos espanhóis da Telefónica (este caso PT/Telefónica não cabe aqui, tenho opinião publicada no Estrolabio, dia 4).
Estará então o Alto Tâmega e particularmente Chaves condenados a ver aumentar as dificuldades, com um poder de compra abaixo da média nacional (Chaves 74%), com impedimentos à circulação de turistas que irão para outros destinos, sem apoios na Saúde aos mais necessitados, e o resto que virá? Não se sabe. Sabe-se que as medidas de austeridade, e vão ser necessárias mais, aplicam-se onde é mais fácil, onde as populações não reagem, onde o poder sabe que a oposição às medidas é fraca, onde não há capacidade de luta.
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E é a região que tem mais razões para reinvindicar. O problema é que isto está nas mãos das corporações, interessa pouco a justiça e a equidade.Ouve-se quem grita mais alto!
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