sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Espanha ainda não assumiu independência de Portugal” disse Josep-Lluís Carod-Rovira

Recuperamos, por nos parecer de uma grande actualidade, uma entrevista dada por Josep-Lluís Carod-Rovira, o dirigente da Esquerda Catalã Republicana (ERC), na altura número dois do executivo catalão e responsável pelas relações externas da Generalitat e de que há dias publicámos um curioso vídeo em que respondia a perguntas sobre a eventual separação da Catalunha.  Nas suas declarações, este destacado político de um país com 7,5 milhões de habitantes, afirma que pretende conseguir o apoio de Portugal para o projecto de independência que defende para a Catalunha, cujo decisivo referendo propõe que se realize em 2014. "O que menos interessa a Portugal é uma Espanha unitária", afirmou, sublinhando que "uma Catalunha independente na fachada mediterrânea poderia ser o contrapeso lógico ao centralismo espanhol".



O vice-presidente do Governo da Catalunha recorre à História, designadamente aos acontecimentos de 1640, para afirmar que "se as coisas tivessem sido ao contrário, hoje Portugal seria uma região espanhola e a Catalunha um estado independente". No século XVII, durante o reinado de Filipe III, Madrid foi confrontada com revoltas em Portugal e na Catalunha mas o Império, apoiado pela França, reprimiu as sublevações catalãs e da Biscaia.

Josep-Lluis Carod-Rovira, que fala e entende perfeitamente o português, garantiu ter "muitos aliados internacionais" para o que designa "projecto de independência para a Catalunha" mas recusou-se a aprofundar o assunto para não dar "pistas desnecessárias". Para Carod-Rovira a situação da Catalunha é específica e não é comparável a nenhuma autonomia ou a qualquer processo de independência. "A Catalunha não é o Kosovo, nem é o País Basco, nem a Madeira", disse, considerando que "os processos de independência passam por três fases: ridicularização, hostilidade e aceitação. Neste momento, estamos entre a primeira e a segunda".



Relativamente à participação activa dos imigrantes na construção de uma futura "República da Catalunha", Carod-Rovira afirma que "todos podem vir a colaborar numa nação que é permeável à contribuição exterior". Trata-se de um "projecto integrador", sublinha. "Quero ser independente e quero que Catalunha seja mais um Estado da União Europeia", salientou.

Referendo em 2014

O governante propõe um referendo para 2014 por três razões: a primeira porque em 2014 "assinalam-se os 300 anos sobre a data em que Catalunha perdeu a condição de Estado"; a segunda porque termina o investimento previsto pelo Estatuto de Autonomia da Catalunha, em matéria de infra-estruturas, por parte do executivo espanhol; e em terceiro lugar porque em 2014 acabam as ajudas do Fundo de Coesão Europeu. "O ano de 2014 não é a data para a soberania mas sim para a democracia", afirmou.

Instado sobre se o seu projecto político tem o apoio popular, Carod-Rovira diz-se convencido que sim, porque "todos estamos conscientes que a Catalunha não pode esperar mais. O défice com Espanha é insustentável. No ano passado, arrecadámos 140 milhões de euros para instituições sociais e Madrid ficou com 127. Isto é incomportável". Inquirido se o seu projecto de independência pode vir a perder força, tendo em conta que vai deixar de ser presidente da Esquerda Republicana da Catalunha, Carod-Rovira responde que há "milhares de pessoas que querem construir um Estado diferente de uma Espanha plural que não existe".

"Só quem espera verá o inesperado"

Sobre o futuro da União Europeia, Carod-Rovira defende que "todos os europeus querem construir uma Europa mas todos eles a partir do seu Estado. Nunca a Europa esteve tão unida como actualmente, mas também é verdade que nunca houve na Europa tantos estados independentes". O dirigente assumiu que uma visita a Portugal é um "tema pendente porque, afirma, "Lisboa é uma das cidades que mais estimo".

No gabinete oficial, no Palau de la Generalitat, Carod-Rovira tem uma fotografia com o ex-presidente da Câmara de Lisboa, João Soares, mas esta não é a única referência a Portugal já que utiliza o menu do telemóvel em português e um cartão de visita bilingue: em catalão e em português. No seu último livro "2014 - Que fale o povo catalão", cita uma passagem de um poema de Manuel Alegre: "Só quem espera verá o inesperado"

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