domingo, 3 de outubro de 2010

Domingo de Outono

Ethel Feldman

Nesta manhã de Domingo acordei Maria Silva, a lembrar-me da lista de todos os nomes perdidos nas celas, aprisionados por terem outros nomes. Hoje acordei Maria, mulher do povo, desconhecida, sem precisar de mais um nome de novo. Hoje sou Maria, como a Madalena que beijou-te sem medo, despudorada amante sem nome, Maria de novo. Hoje acordei Maria e rezei por eles, de morte matada, cristãos, ateus, budistas, mulçumanos, poetas, pintores, operários, negros, judeus, homens, Maria de novo.
Hoje acordei sem ar, sem nome algum para contar, história que quero enterrar.
Maria como a flor amarela que sorria enquanto morria.


verde é a terra 
castanha regada
floresta sem nome

reconhece o corpo
que a ti regressa de novo
noutra terra vermelha
nascido antes

branca é a montanha
que te guarda
coberta de neve
em tempos doce

quase sem cor
negra tão negra é a dor
que te leva sem rumo

amanhece no campo
feliz o trigo por ti cultivado
brota na terra a flor
outrora sem dono

colhe sem pressa o tempo
descansa em ti um sorriso
verde, castanho molhado
de amor.



12 comentários:

  1. Ethel, nem sabes como eu gosto de cantar! A Simone também canta esta canção com aquela sua voz...Belo texto o teu e ainda mais esta música. Que bom :)

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  2. É verdade. Geraldo Vandré, em 1964 - golpe militar cantava assim. Chorei emocionada quando assisti à primeira posse de Lula. Os milicos batendo continência ao operário metalúrgico, vingando a minha raiva por tantos amigos assassinados. Hoje, espero que seja a Dilma a vencer. Um beijo, Augusta Clara.

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  3. Que belo acordar neste domingo chuvoso e triste de mais um Outono.

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  4. Enviei-te ontem um comentário, Adão! Mas foi engolido. Desejava um bom dia, agradecia-te o azul e pensei mesmo que este poema que hoje escrevi era teu. Beijo

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  5. Meu lindo poeta, como dizes coisas bonitas!

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  6. É pá, isto é demais| Nem o Adão do Paraíso recebia tantos elogios.

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  7. Não elogiei, só dediquei meu poema. LOL
    Do paraíso fujo, procuro o amor que se faz doce em outras paragens...

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  8. Aqui chove a cântaros e faz uma ventania desgraçada. É bom estar em casa, encolhida, a ouvir música. Neste momento oiço os "Nocturnos" do Chopin.

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  9. Esta canção está-me na memória pela voz de Francisco Fanhais, sem saber o autor.Faz-me voltar bem atrás, a uma época de acordar para o mundo à volta e as suas injustiças. Obrigada por a trazeres aqui.

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  10. Obrigado Ethel, cá fica registado. Mais uma vez, Augusta, a fazer comparações com o pobre desgraçado do paraíso. Brrrrrrrrrrr

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  11. Eu? Quando foi isso? Deve ter sido noutra encarnação.

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  12. Clara, o autor é o brasileiro Geraldo Vandré. Beijos

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