quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Els segadors - Os ceifeiros

Hoje passam 76 anos sobre a proclamação pelo presidente Lluis Campanys do Estado Catalão. Estava-se em plena  II República, as reformas democráticas e descentralizadoras iam dando forma a uma República Federal onde as nações subjugadas e aculturadas por Castela assumiam a sua autonomia plena. Em 1936 esse processo seria brutalmente interrompido pela acção de militares traidores ao juramento que haviam feito à República. Um golpe militar, mergulharia a Espanha numa terrível guerra civil, provocando cerca de meio milhão de mortos. Da vitória desses militares sem honra, resultariam quatro décadas de ditadura e de obscurantismo. Fèlix Cucurull (1919-1996), que embora jovem à época, combateu no Exército Republicano, foi uma voz que nunca se calou durante a longa noite que se abateu sobre a sua Catalunha. Grande amigo de Portugal, lusófilo de grande valor, escreveu este poema que, significativamente, tem o título do hino nacional catalão - Els Segadors.


Fèlix Cucurull

Vinclats sobre la terra,
jo no sé si l'esclat de coloraines
del blat i les roselles
us encén en els ulls prou alegria
quan el sol no és sols llum sinó feixuga
càrrega que s'abat
sobre la vostra esquena.
Amb la falç a la mà, quan el sol crema
i mesureu l'esforç, i l'abundància
de les espigues que us duran a taula
no mé que un pa migrat,
potser un renec
se us recargola
a flo de llavi.

I amb el ressò d'històries i llegendes
intenteu revivar les profecies
que han anat arrelant-se-us a la sang.
I a l'hora de la posta, camí de la masia,
un aneu repetint: bon cop de falç!

"Bon cop de falç!"
i no sabem pas gaire
com ham vingut els mots a deixondir-nos.
"Bon cop de falç!"
como qui dóna el bon dia.
"Bon cop de falç!"
Pel taller, per la mina, a la bastida,
algú ha gosat cridar "bon cop de falç!
Bon cop de falç" si el blat ens regategen.
Bon cop de falç!

Curvados sobre a terra,
não sei se a explosão de cores
do trigo e das papoilas
vos acende nos olhos suficiente alegria
quando o sol não é apenas luz mas sim penosa
carga que se desmorona
sobre o vosso dorso.
Empunhando a foice, quando o sol queima
avaliais o esforço e a abundância
das espigas, que a custo levará à vossa mesa
um  pão escasso,
 talvez uma praga
vos suba
à flor dos lábios.

E como o eco de histórias e de lendas
tentais reacender as profecias
que se vos entranharam no sangue.
E ao pôr-do-sol,
a caminho da quinta,
repetis para vós mesmos: bom golpe de foice!

"Bom golpe de foice!"
e nem sequer suspeitamos
como as palavras nos vieram despertar.
"Bom golpe de foice"
como quem dá os bons dias.
"Bom golpe de foice!"
Na fábrica, na mina, no andaime,
alguém ousou gritar "bom golpe de foice!"
Bom golpe de foice se o trigo nos é negado,
bom golpe de foice!

(Versão portuguesa de Carlos Loures e de Josep Vidal)

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