quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O saber das crianças e a psicanálise da sua sexualidade –7: por Raúl Iturra.

(Continuação)

O triunfo da burguesia relegou a mulher com posses para dentro de casa, e as que tinham que trabalhar para viver, dedicaram-se ao artesanato, à prostituição, às indústrias, à agricultura ou ainda a servirem em casas de burgueses ou de aristocratas que iam ficando. Ser mulher, até perto deste Século, era um problema. No livro que acabei antes deste, Yo, Maria de Botalcura, faço um comentário sobre este facto e cito um texto que me parece importante . Livro escrito por um sacerdote dominicano que uma doença que não perdoa, uma leucemia, acabou com a sua vida muito novo. No seu livro, Garcia Estebanéz analisa as formas como os textos da Igreja Católica tratam a mulher: sempre em segundo plano, sem lhe dar nenhuma importância nas actividades da Cúria, só pelo facto de ser fêmea. As acções mais importantes da denominada Igreja Universal, adjectivo de onde advém o nome de católica , são as de administrar sacramentos , os factos mais importantes dentro de uma comunidade de pessoas que acreditam na divindade de forma igual e têm as mesmas obrigações legais dos mandamentos, ditos escritos pelo Profeta Moisés, denominado Êxodo , como consta no livro da Bíblia cristã, romana, anglicana, maronita, aramaica, ortodoxa grega ou russa. Textos todos impingidos na mente cultural, que diz que a mulher está em segundo plano, ideias que subvertem a minha lógica até ao ponto de me sublevar e escrever em prol da mulher e dos seus direitos.

O pai é a lei, a mãe, a afectividade. A mãe transporta a criança dentro do seu corpo, fá-la nascer e amamenta-a, veste, agasalha, acaricia, fica com os mais novos em casa. Pelo menos, por um tempo. A mãe é a primeira via de todo o ser humano. Quanto ao pai, qual será o seu papel, para além dos definidos por Freud com base nas mitologias gregas?

2. O pai, essa segunda via.

A minha metáfora de pais – burocracia, coloca os homens em maus lençóis. É como se não tivessem um papel dentro da família doméstica, excepto o de ganhar dinheiro para alimentar a mulher, a prole e a si próprio. De seio bom ou mau, o pai nada parece ter. No entanto, parece-me que o assunto não é emotivo, nem de distinção entre género masculino e feminino, para os que têm sido definidos papéis sociais diferentes, nas várias culturas das sociedades do mundo. Por estarmos a falar da nossa cultura, orientada pela religião, definida por mim em anteriores textos, as opiniões da cultura doutoral da nossa academia, passam, para entendermos a temática que aqui abordamos, a ser tratadas em primeiro lugar.

Não foi em vão que Freud em 1905 definiu os sentimentos dos pequenos a partir da sua visão dos adultos. Freud era um Pater Famílias de acordo com a sua teoria. Comportamento e ideais que mudou mais tarde como resultado das pesquisas que desenvolveu entre crianças e seus pais, especialmente os masculinos Na nota de rodapé que o autor acrescentou aos seus ensaios em 1915, afirma "É essencial entender que as noções de masculino e feminino parecem ser não problemáticas na conversa do dia a dia. E, no entanto, têm três sentidos diferentes. O primeiro, define o ser como activo ou passivo na interacção social; o segundo sentido, é biológico; o terceiro, fisiológico...Dos três sentidos, o primeiro é o mais importante para o entendimento da psique do ser humano..." (minha tradução e síntese). Nota de Freud importante para a hipótese que tenho defendido ao longo de vários anos: a criança imita o seu adulto modelo, que normalmente são as figuras da mãe e a do pai , sem se interessar na fisiologia dessas pessoas, se com óvulo ou com esperma, se com vagina ou com pénis. O que interessa é o comportamento e a emotividade que este – dentro ou fora do lar – desperta no ser humano mais novo. Acrescenta Freud nos ensaios citados, que masculino pode ser quem é activo em objectivos passivos e feminino em objectivos activos ou passivos.
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Notas:
Garcia Estébanez, Emilio, 1992: ¿Es cristiano ser mujer? La condición servil de la mujer según la Biblia y la Iglesia, Siglo XXI Editores, Madrid. Diz: La mujer es un misterio insondable. Un misterio de grandeza por su capacidad de don, entrega, anhelo de perfección, aprecio y conservación de la vida.

Tu dignidad


Digno es lo que tiene valor en sí mismo y por sí mismo. La persona por el simple hecho de ser persona es un ente amable, es decir, a una persona se le respeta, se le aprecia, se le ama, en cuanto es persona; solo por ser persona. Así, tu mujer, por ser persona posees una dignidad única que ha de ser respetada siempre.


¿Cómo eres mujer?


La mujer tiene la misma dignidad del hombre, más tiene características específicas que hacen de la mujer, mujer. Citemos algunos de estas:


En lo general afirma que la mujer es bondadosa, perseverante, con deseos de ser sostenida y acompañada, con deseos de seguridad y de evitar riesgos, su máximo es amar y sentirse amada…Texto completo en: http://www.alientodiario.com/2008/03/08/misterio-de-ser-mujer/


O dicionário que me assiste na escrita define católica ou católico, da seguinte maneira: do Lat. catholicu < Gr. katholikós, universal s. m., aquele que segue a religião de que o papa é chefe; adj., que professa o catolicismo; universal. Esta definição de universal é a que mais me interessa. É suposto que as actividades de todos sejam espalhadas por igual. Pode-se ler em http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx






Do Lat. Sacramentu s. m., juramento; acto religioso, instituído por Deus, para purificação e santificação da alma; rito sensível e simbólico da religião cristã, destinado a consagrar diversas fases da vida dos fiéis; eucaristia; a hóstia consagrada em exposição na custódia; (no pl. ) os últimos sacramentos (confissão, comunhão e extrema-unção). Nenhum destes actos é permitido ser realizado por uma mulher. A Igreja Universal tem uma raiz masculina do princípio ao fim. Em: http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx






É definido assim: êxodo do Lat. exodu < Gr. éxodos < éxo, para fora + odós, caminho


s. m., saída para fora do país de um grande número de pessoas ou de um povo; emigração;


o segundo livro do Pentateuco, onde se narra a saída dos Hebreus do Egipto (grafado com inicial maiúscula); o fecho das tragédias gregas; farsa do teatro romano, que se representava depois da tragédia. De todas as alternativas, a que mais interessa é ser um livro da Bíblia. Pentateuco do Gr. Pentateuchós s. m., os cinco primeiros livros da Bíblia,informaçãoemhttp://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx






Por causa destas ideias escrevi um texto denominado: “Mulher a crescer, Machismo a tremer. A Filiação da criança”, no nosso Jornal A Página da Educação, Nº 94, Ano 9, página 25, Setembro de 2000. Após narrar a história de uma mulher subordinada, o texto comenta em parte: “Trinta anos depois, esta história aparece diferente no meu sentir. Faz-me pensar que o homem procurava amparo na mulher e vice-versa. Homem que não queria ter mais uma outra voz em casa a dizer o que fazer. Homem criado para governar o lar com palavras, sem entender as horas vazias da mulher mãe, da mulher empregada de cozinha, da mulher varredora do chão, lavadora de roupa, aquecer a cama à espera do homem que quer amar. Homem criado para mandar e aparentemente sábio na sua autoridade. Eis a filiação da infância cujo estudo me interessa e absorve. Enquanto penso, sinto a solidão do homem, pai, companheiro, culturalmente autoritário. Machismo, dirá o leitor? Machismo, dirá a leitora? Machismo, digo eu, da mulher e do homem. Mulher a crescer, a entender o mundo além do lar. Homem habituado a ser apenas ele a perceber o mundo fora do lar. Batalha travada faz séculos e ganha hoje em dia pela luta feminina. Feminismo, onde não se dá luta nenhuma pela masculinidade. Ideia esta, a da masculinidade, certa e segura durante séculos e em várias culturas. Até que um dia a economia faz tremer, faz tremer a sociedade e o homem perde a arrogância pelo desamparo no qual fica. Desamparo que o homem sofre por parte da mulher, que entra na economia. Esse domínio definido sempre como masculino”. O texto continua no sítio referido, que reitero em este troço: http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=1198

Mais uma vez remeto para a leitura do Anexo 4.

Freud, Sigmund, (1905, língua germânica) 1953 (língua inglesa): Three essays on the theory of sexuality, Penguin, New Zealand. Sítio para debate e excertos do texto em http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Sigmund+Freud+Three+essays+on+the+theory+of+sexuality&btnG=Pesquisar&meta=Sobre Freud e sexualidade infantil, ver a imensa nota de rodapé onde estão citados todos os textos que Freud escreveu sobre sexualidade infantil. No entanto, as suas teorias, especialmente a da sexualidade infantil – relata, pela primeira vez, o processo de desenvolvimento do instinto sexual do ser humano desde a infância até à vida adulta –, foram duramente criticadas pelos intelectuais do Século XX de Viena de Áustria (a tradução é minha).


Sobre Pater Famílias, ver Anexo 2.

(Continua)

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