Carlos Loures
No dia 4 de Maio de 1455 nasceu em Lisboa o filho do rei D. Afonso V.
Os reinos peninsulares atravessavam uma crise de crescimento que iria ditar o seu futuro próximo, alargar os limites do mundo conhecido pelos europeus, abrir novas fronteiras ao saber, transformar de maneira decisiva a forma de viver das pessoas. Apenas 50 anos do século XV significaram uma profunda viragem na história do mundo. Em 1453, os Turcos conquistaram Constantinopla. Emoção na Europa, marco de separação entre a Idade Média e a Idade Moderna. No limiar da Renascença nasceu um príncipe que iria ser como que um modelo do governante da época que, mais tarde, Maquiavel fixaria na sua obra. Príncipe Perfeito, chamou-lhe o castelhano Lope de Vega. Designação logo adoptada por outros, e sob a qual acabou por passar à história. Embora nem todos os seus contemporâneos o considerassem «perfeito»...
Em 1438 auando morreu D. Duarte, D. Afonso V, seu filho, tinha apenas seis anos. Por testamento do rei morto, a regência devia pertencer a D. Leonor de Aragão, a rainha-viúva. Porém, enquanto a nobreza exigia o cumprimento do testamento, os mesteirais de Lisboa e os povos miúdos opuerm-se, acabando por proclamar como regente o Infante D. Pedro, tio de D. Afonso V. A regência de D. Pedro caracterizou-se pelo incremento das navegações, pela protecção à Universidade, pela compilação das Ordenações Afonsinas e por mais algumas concessões aos nobres, à generalidade dos quais, no entanto, não agradou.
Em 1448, D. Afonso V assumiu a direcção do Estado e a nobreza consolidou o seu poder. D. Pedro e os seus partidários foram perseguidos e, em 1448, em Alfarrobeira, o infante e grande número dos do seu partido foram mortos. A nobreza saiu completamente vencedora e até ao fim do reinado de D. Afonso V não cessou de obter grandes doações, novos títulos nobiliárquicos, novas tenças... Mas em 1455 nasceu em Lisboa o futuro D. João II. Aquele que iria vingar seu tio-avô, o sábio D. Pedro e, submetendo a nobreza, restituir à Coroa o poder alcançado pelo Mestre de Avis.
O REINADO DE AFONSO V
Após terem tomado Constantinopla, os Turcos cercaram Belgrado em 1456. O papa mandou pregar uma nova cruzada contra os infiéis. Quase todos os soberanos europeus fizeram orelhas moucas. Só D. Afonso V correspondeu ao apelo do papa e prometeu ir combater os Turcos com um exército de doze mil homens, iniciando logo os preparativos. Mas, em 1458, o papa Calisto III morreu, a ameaça turca perdeu força, e a cruzada caiu no esquecimento. As tropas que o rei português prometera conduzir aos Balcãs estavam prontas para defender a Cristandade. Tinham-se feito grandes despesas e para que todo esse esforço não aparecesse como inútil, o rei resolveu utilizar esses meios numa expedição ao Norte de África. E conquistou a pequena praça de Alcácer-Ceguer, no estreito de Gibraltar, em 1458. Em 1463-1464 houve nova expedição a Tânger, mas que não resultou. Em 1471, Arzila foi conquistada e Tânger ocupada. Nesta última campanha participou o príncipe que, com 16 anos, se bateu corajosamente e foi armado cavaleiro.
Foram estas expedições a África que valeram o cognome de o Africano a D. Afonso V e que lhe conferiram prestígio entre a nobreza europeia. Por isso, uma parte dos nobres castelhanos lhe vieram pedir que interviesse na política interna do seu país e que aceitasse o trono. O rei de Castela, Henrique IV morreu. Tinha uma filha, Joana, que grande parte da nobreza dizia não ser filha do rei, mas sim do fidalgo Beltrão de la Cueva. Por isso lhe chamavam depreciativamente a Beltraneja. Consideravam que a infanta Isabel, irmã do rei, era a legítima herdeira ao trono. Mas, estando ela casada com Fernando, filho de João II de Aragão e herdeiro do trono, a sua coroação significaria a união dos dois reinos o que, por outra facção, da nobreza não era visto com bons olhos.
E D. Afonso V, sonhador e imbuído ainda dos ideais cavaleirescos da Idade Média e que, por outro lado, acalentava o sonho da unidade dos reinos peninsulares sob a hegemonia lusitana, arvorou-se em defensor dos direitos de Joana, filha de sua irmã. Quando partiu na campanha militar contra Castela, em 1475, entregou ao príncipe o poder de reger, governar e defender o Reino. Quando, no ano seguinte, o próprio príncipe partiu para Castela em auxílio do pai, entregou a regência do reino a D. Leonor, sua mulher. Ao entrar em acção no cerco de Zamora, o príncipe venceu Fernando o Católico, na batalha de Toro, embora o resultado global desta batalha tivesse sido desfavorável a Portugal, pois as pretensões de D. Afonso V ao trono castelhano ficaram desfeitas.
Nunca mais me esqueci desse D. Pedro desde que li sobre ele. Um homem íntegro e dos mais cultos da época, que ficou na sombra da História como tantas vezes acontece com quem poderia ter mudado o rumo dos acontecimentos. E se o filho de D. João II não tivesse caído do cavalo o que poderia ser hoje a Península Ibérica? Parece que ainda subsistem dúvidas sobre esse acidente. Mas disso irás tu falar a seguir, com certeza, Carlos, sobre este reinado de que eu gosto particularmente.
ResponderEliminarTemos na nossa equipa um grande especialista na vida e na obra de D, Pedro - o Manuel Simões - Vou pedir-lhe um artigo sobre esse tema. Nem precisa de o escrever, tem já algo com a dimensão adequada.
ResponderEliminarIsso era óptimo e agradeço, desde já, ao Manuel Simões.
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