segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Pronúncia do Norte

Fernando Moreira de Sá

Nestes tempos estranhos de crise leio muito blogger a culpar o D. Afonso Henriques desta nossa desdita. Eu, ignorante, atribuía a culpa a outras personagens, assim de raspão: José Sócrates, Teixeira dos Santos ou Pedro Silva Pereira. Afinal estava equivocado. Ou não.

Na verdade, nunca percebi a estratégia de D. Afonso Henriques. Ele preferiu rumar a Sul em vez de tomar o Norte. Reparem, o Sul é como um galanteador, uma espécie de vida paralela de visita esporádica. Nunca um compromisso eterno. No caso, um local de rara beleza – Lisboa é uma donzela de caracóis loiros e tentadora de tão bela e o Alentejo é estonteante de tão sedutor – mas não pode ser levado a sério nem devemos com ele assumir compromissos de longo prazo fruto de ser estouvado, gastador e com a mania das grandezas. Independentemente dos sopapos que o nosso Primeiro terá dado a sua Mãe (uma mentira pois um verdadeiro Homem do Norte jamais seria capaz de bater numa mulher, bem pelo contrário) o seu verdadeiro primeiro erro foi geográfico.

O problema de D. Afonso Henriques foi a falta de um estrolabio e não ter tido um consultor de comunicação. Nem, tão pouco, ter escutado os Deuses. Caso contrário, a tomada das terras galaicas, da actual Galiza, teria sido a estratégia seguida. O estrolabio indicaria, com precisão, o caminho a seguir (Tuy, Vigo, Pontevedra, Ourense, Lugo, Santiago, Corunha, Ferrol, em suma, o Alto Minho); o consultor de comunicação preparava toda a estratégia justificativa da opção tomada e os Deuses saberiam inspirar e convencer o jovem guerreiro da importância da empreitada. Foi uma tolice.

Por isso, neste primeiro semestre do Estrolabio, só espero que este instrumento de elevada precisão me possa ajudar a manter-me atento ao horizonte e perceber que a Sul está a beleza mas é a Norte que encontro a inspiração.

Por Toutatis, Pinto da Costa e Hulk, F.C.Porto, Celta de Vigo e Depor. Pelo Douro e Minho, sem esquecer, Abadín, Baxoi, Arnoi e Asma. Uma mesma Língua e Geografia, um mesmo Povo. Um grande abraço a todos os companheiros de blogue e aos nossos leitores neste primeiro semestre de existência!

11 comentários:

  1. Tinha prometido (ou ameaçado?) fazer um comentário eo teu texto - aqui vai ele: para mim, essa coisa de Norte e Sul não tem importância. Já reparaste, Fernando, que para um galego um minhoto é o um sulista e para um marroquino um algarvio é um nortista? Para complicar ainda mais: os mapas árabes colocam o Norte em baixo e o Sul no topo. Estás a ver o problema? Pronúncia do Norte? Não existe. Vivi naquilo a que chamas o Norte - sei que entre a pronúncia de um duriense e a de um transmontano a diferença é enorme. Em termos de acento, de pronúncia, um portuense e um vila-realense, nada têm de comum. A canção do Rui Reininho e da senhora do folclore é uma falácia (chamar-lhe aldrabice seria feio, não achas?). Agora se quisermos encontrar coisas em comum, são mais do que muitas. Um pormenor - minhotos e algarvios falam o mesmo idioma - com pronúncias diferentes. Mas, com diferenças dialectais, a língua é comum e as outras componentes da realidade também não são tão diferentes que mereça a pena perdermos tempo a enumerá-las. Ora aqui está, Fernando, o comentário que ameacei ou prometi fazer. Para mim as grandes divisões do País, são as regiões demarcadas... Mas isso fica para outro dia. Um abraço Fernando.

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  2. Esqueci-me do Afonso Henriques (tomei hoje a decisão histórica de deixar de conceder o dom aos reis. Ao fim de cem anos de República já é tempo de acabrmso com essa deferência). Ora o Afonso I tinha toda a família na Galiza, em Leão - tios, tias, primos, primas... O caminho era para baixo (segundo os mapas mouros, para cima). Felizmente para ele não havia ainda pagamento de portagens, era tudo SCUTs.

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  3. Mas está bem esgalhado!Afinal, é bem verdade que se D. Afonso fosse para Norte, o Sul juntava-se voluntariamente, já que não tinha parceiro. Os muçulmanos atravessaram o estreito, ora faltavam ainda uns séculos para o navegador dar ordem de navegação, por isso estou com o "sinaleiro da Areosa" (mau grado os 5 a 0 de ontem)para cima e bem explicada a política tinha dado frutos. faltavam as agências de comunicação, a existirem, nunca a ofensa de bater na mãe teria singrado estes séculos todos.

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  4. Se Afonso Henriques rumasse a Norte, só passava pelo Porto se o navegador usasse o Estrolabio do Cristovão Colombo.

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  5. Caros, Portugal ainda pode recuperar o Norte.

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  6. Jo, Portugal, que saiba, nunca perdeu o Norte. Os governantes é que perdem o norte e ficam desnorteados. O Norte tem tantas razões de queixa como o Sul. Os maus governos a todos nos afectam por igual - a discriminação é uma invenção dos caciques nortistas.

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  7. As discussões entre o norte e o sul não fazem sentido e são, - sempre - entre o Porto e Lisboa, Lisboa e o Porto,intestinas.
    Não se entende a frase de "jo" pelas muitas interpretações possiveis, mas também me parece escusada a última frase do Carlos.
    A discriminação é patente em várias áreas do espaço nacional; posso fazer uma lista concreta de casos na minha Região transmontana ou na sub-região do Alto Tâmega. Serão uma invenção dos caciques centralistas de Lisboa e do Porto?
    A conversa tem pano para mangas e o post já foi para uma página interior, fica para a próxima.

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  8. Caros, eu nasci perto de Compostela e moro perto da Crunha. Percebem agora o que o Norte é/somos?
    Abração!

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  9. Por Toutatis, depois dos 5 a zero eu mudei de opinião. Fez bem o Pai da Pátria em preferir descer a subir.

    Caso contrário, não estaria eu tão eufórico desde Domingo!

    Um abraço a todos!

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  10. Jo, eu nasci em Penafiel mas sou do sul...Abração.Volte sempre!

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  11. Meu caro Mesquita, gostava de ver essa tal lista de discriminações a Norte e de a comparar com a lista de discriminações negativas a Sul. Caramba, parece que Alentejanos e Algarvios, são priveligiados seja no que for. Nem vejo em parte nenhuma do País gente tão mal tratada como a da área metropolitana de Lisboa. Gostava de lembrar que na Quinta da Marinha, onde existem, de facto, privilégios, vivem pessoas de todo o País (um ou outro lisboeta).

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