segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Nós e a Irlanda

Carlos Mesquita


O texto de sábado, de Marc Roche, sobre os bancos Irlandeses serem os responsáveis pela crise do “Tigre Celta”, suscita – me duvidas. Já antes os defensores do modelo económico Irlandês tinham vindo justificar a crise, dizendo que ela nada tinha a ver com as opções de política económica dos governantes; era fruto da gestão imprudente dos banqueiros e gestores financeiros. A minha primeira observação é se esses irresponsáveis apareceram por “geração espontânea”, ou são fruto da doutrina económica dominante nos últimos quase 30 anos. Foram formados para actuar no sistema da liberdade plena de mercado (como todos os que saem das Universidades) e aproveitaram; o governo irlandês acompanhou porque não o fazer era optar por outro modelo económico, e os irlandeses em geral também usufruíram da riqueza virtual, uma vez que o PIB per capita na Irlanda (o dobro do português para metade da população) não correspondia à economia real irlandesa.

A atractividade da Irlanda para captar investimento estrangeiro, era por um lado devido às taxas reduzidas comparativamente a outros países, mas igualmente pelos bons resultados (como refere o texto) da praça financeira na administração de hedge funds – que por definição são desregulados. Também nesse caso é desnecessário culpar a falta de regulação; essa falta faz parte do sistema e da doutrina das restrições à intervenção estatal sobre a economia.

A corrente económica e ideológica que vigora é absolutamente contra qualquer controle dos Estados, apesar de em 2008/2009, os Liberais perante a patente falência da sua teoria, terem admitido alguma regulação. Já esqueceram, estão quase recompostos, e as alternativas não conseguiram impor-se.
A Irlanda, antes de rebentar a bolha imobiliária interna, esteve exposta ao “sub prime” dos Estados Unidos através de produtos “derivados”, vários bancos europeus (incluindo portugueses) investiram na praça irlandesa devido à sua rentabilidade; à imagem da corrida às recompensas do BPP. Como todos os investidores querem ser pagos e o governo irlandês assumiu a 100% a cobertura bancária, só resta aos irlandeses pagarem os devedores incumpridores e as falcatruas dos financeiros; melhor seria terem feito umas sumptuárias auto-estradas.

O que está em causa é saber se devemos olhar para as micro razões que num ou noutro país concorreram para criar crises especificas, ou se o Liberalismo económico contemporâneo junto com a Globalização, que criou fluxos de capital inversos aos previstos (das economias emergentes para os países ricos) não irá no futuro obrigar o mundo a viver em permanente crise. Nada está a ser feito ao nível das instituições, do G20 à União Europeia, para repensar a corrente ideológica dominante, contrária à construção de “Estados de bem-estar social”.

Portugal que entrou no Euro com o escudo sobrevalorizado, que apesar dos imensos fundos estruturais não reformou nem formou, tem dificuldades adicionais para crescer em tempo de austeridade. Por isso devemos estar atentos a cada medida de economia política, e tentar perceber se ela vai no sentido de recuperar a economia ou de contribuir para aprofundar a depressão económica e social.

O que está agora em cima da mesa é o aumento do salário mínimo.

2 comentários:

  1. O que impressiona é que se continue na senda que nos trouxe até aqui.

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  2. A mim já nada me impressiona
    mas...olhem para estas:

    Cavaco Silva não vai agora a debates porque ainda não oficianizou a candidatura; problema
    - ainda não arranjou as assinaturas. Segundo ele "um processo muito dificil".

    Pedro Passos Coelho diz que só dá prendas de Natal à filha mais nova de 3 anos. As outras três do casal não levam nada. Problema "não há meios para isso" disse. E disse mais - "não me vou endividar para estimular a economia. Cada um deve gastar aquilo que pode e eu não gosto de gastar aquilo que não posso".

    E andam por aí uns irlandeses, e gregos , e portugueses e etc. a dizer que têm problemas.

    Sabem lá o que é ter problemas!

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