quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Uma classe política que se despreza

Luis Moreira


Muita gente ainda pensa que Alberto João o Presidente da Madeira é um tipo próximo do palhaço, ou de quem roça o rídiculo ou mesmo a má educação. É, óbvio, que não é nenhuma dessas coisas. É um político com um apurado sentido das forças em presença e usa as fragilidades do adversário em proveito das suas posições. Na maioria das vezes sente-se que o Presidente da Madeira tem um profundo desprezo pela classe política nacional. Soube hoje que moveu uma acção em tribunal contra um adversário político, por uma frase escrita num blogue, há, portanto, quem pense dele o mesmo e, os caciques que monopolizam a economia da Madeira, sendo todos da sua cor política, também não abonam a sua transparencia.

Esta sensibilidade acentua-se e generaliza-se. Vejam a posição tomada pelo Presidente dos Açores, perante o anunciado corte nos vencimentos dos funcionários. Não corta nos vencimentos e é tudo legal, transfere umas massas que tinha para abrir uns caminhos e paga ao pessoal. A legalidade do acto ainda acentua mais o desprezo que lhe merece quem, ao nível central, lhe deu tão íniqua ordem! Soube-se por estes dias que os funcionários que vão ser poupados ao esforço pedido a todos são os boys de César, são os que ganham mais, chefes de divisão, sudirectores, directores...



Vejam o que se passa na Caixa Geral de Depósitos. Veio o seu Presidente com uma mentirinha que faria corar uma donzela. Fogem os quadros se concretizar a ordem do governo. É, claro, que não fogem nada. Os que podiam fugir, por terem dado provas , já estão na primeira linha e estão a fazer lugar para irem para a reforma, os de segunda linha estão à espera que os de primeira linha saiam para lhes ficarem com os lugares e, daí para baixo ninguém os quer. A declaração pública de desautorizar o governo tem um nome. Desprezo!


Agora, temos a PT, a tal de interesse nacional que o governo defendeu com a célebre golden share. Acabou por fazer tudo o que os seus sócios privados quiseram que fizesse. Não contentes, anteciparam a distribuição das mais valias do negócio para, com isso, desviarem do Fisco milhões de euros. Como não concordam com o corte dos salários decidiram, num acto de grande generosidade, distribuir parte das mais valias pelos trabalhadores assim repondo o corte que o governo tinha anunciado. Tudo legal e revelando um profundo desprezo pelas ordens do governo!


Para terminar com chave de ouro, o tribunal de Contas vem hoje anunciar que não consegue validar as Contas do Estado de 2009! Reparem, não as chumba porque isso determinaria existir uma ou várias razões fortes, conhecidas, estudadas, que possam ser discutidas à luz de técnicas e teorias diferentes. Não, o desprezo é a forma como anuncia a "impossibilidade" face ao primarismo da(s) marosca(s). (mudança de critérios para impedir comparações, verbas registadas em rúbricas diferentes, verbas não registadas, enfim, criatividade...)

E, agora são os sindicatos das duas maiores corporações de interesses do país (magistrados e professores) que interpuseram acções em Tribunal porque, segundo eles, o corte nos salários é inconstitucional. E os privados ficaram de fora o que também é inconstitucional. Numa palavra, por um lado estou com os sindicatos porque, basicamente, têm razão (alguma vez teria que ser); por outro lado, receio que qualquer dia quem governa sejam os Tribunais que não foram eleitos para o efeito.

Estes queridos conhecem-se bem uns aos outros!

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