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terça-feira, 20 de julho de 2010

A Destruição do Estado-Providência

Fernando Pereira Marques


1 - Com a conivência da esquerda socialista e social-democrata, de Terceiras Vias e semelhantes, Blair’s e Cª, a burocratização dos sindicatos e o eficaz sistema informativo-comunicacional de imbecilização dos povos, o capitalismo triunfante e ultraliberal, após um ciclo de lógica hiperconsumista e de predomínio da especulação financeira, acelerou a destruição do que resta do Estado-Providência, do modelo social construído sobre as ruínas e os massacres da II Guerra Mundial. Deste modo, e como era previsível, actualmente uma das causas da esquerda é defender esse modelo social, impedir a sua destruição completa. Evidentemente não como um ponto de chegada, mas como uma conquista de séculos de lutas que continua a ser um ponto de partida para formas mais humanas de organização política e social.

Permito-me assim transcrever uma passagem sobre o tema de um livro meu há tempos publicado: Esboço de um Programa para os Trabalhos das Novas Gerações (Campo das Letras, 2007)

2 - A imaginação fecunda dos gestores do sistema já conseguiu mesmo, prosseguindo a estratégia de desmantelamento do Estado-Providência, reprivatizar nalguns países o que o processo civilizacional e democratizador tinha tornado funções sociais e públicas, nas áreas da saúde, da segurança, da educação, da justiça. A doença, a dor, o sofrimento, o medo, a morte, a insegurança, a guerra, tudo é transaccionado e transaccionável. A fúria privatizadora de serviços de interesse geral atinge os transportes, o fornecimento de água e de electricidade, os correios, as cadeias, ou até as instituições educativas e militares; nada escapa a essa sanha que mesmo organismos internacionais, como o FMI, incentivam. Deste modo, corre-se o risco de retroceder à Idade Média e à venalidade dos cargos públicos, à desintegração do Estado em micro-poderes de tipo feudal, fomentadores de irracionalidade e de arbítrio .

sábado, 3 de julho de 2010

Graça, Almofala, Samarcanda...

Carlos Loures

Tenho gratas recordações dos dias da guerra.

Soube depois ter sido um tempo terrível, de grandes privações, de racionamento dos bens essenciais, mesmo de penúria; e de falta de liberdade, circunstâncias que vinham já de trás e se mantiveram por mais três décadas. Em suma, um período considerado triste e cinzento. Porém, para mim, foi um tempo muito feliz e colorido. Para quem tem quatro ou cinco anos, as contingências políticas e as dificuldades económicas são conceitos mais do que abstractos. São inexistentes. Tendo nascido durante a guerra e em plena ditadura, nunca conhecera tempos melhores nem mais prósperos. À falta de referências, de elementos que me permitissem comparar o antes com o agora, o que para os mais velhos era anormal e penoso, para mim era normal e muitas vezes agradável. Claro que, com as vagas recordações da infância, misturamos frequentemente informações que nos chegam posteriormente ao conhecimento e que vão consolidar e dar forma a ténues, a evanescentes imagens, a difusas lembranças, a fugazes sensações infantis, transformando-as, por vezes, em sólidas convicções. Numa palavra, transformando essas nebulosas recordações naquilo a que passamos a chamar memória.