sábado, 5 de junho de 2010
A integração na UE!
Rolf Damher
A capacidade para o auto-engano é condição base para se tornar político.
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
Hoje começo com uma breve tradução parcial de uma entrevista que o Ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros, Joschka Fischer, deu ao magazine DER SPIEGEL (21/2010)
SPIEGEL: A UE já existia antes de existir o euro. Porque ela estaria no fim se a moeda comum não se impor?
Fischer: Não se trata só de uma moeda, trata-se do projecto europeu em si. Trata-se da questão se a Europa é suficientemente forte e se tem a vontade comum de defender este projecto contra ataques de fora, neste caso contra especuladores. Aqui é de importância central a unidade e determinação. Infelizmente desde a eclosão da crise em volta a Grécia, o nosso país tem reagido de forma totalmente diversa.
SPIEGEL: Mas com pode ser que um pequeno país como a Grécia lançe a UE para uma crise existencial?
Fischer: Desde o princípio não se tratava apenas da Grécia. Os mercados confrontaram a Europa duramente com a realidade. Todas as nossas bonitas ilusões – também as minhas próprias -, todo o nosso auto-engano, tudo isso foi varrido. Integração verdadeira ou dissolução, hoje é esta a alternativa.
SPIEGEL: A que ilusões se refere?
Fischer: Sempre se dizia que não se podia falar mais dos Estados Unidos da Europa. Dizia-se que o euro era capaz de funcionar só com base nos critérios de Maastricht, sem qualquer integração política. Os mercados nos mostraram que isto assim não funciona. Por isso, agora é preciso dar-se um passo corajoso para frente.
Este “passo para frente”, para a UE poderá consistir no já referido novo grande objectivo: “New Deal”. De índole extrovertido e sóciocêntrico, o mesmo em vez de custar milhares de milhões para pagar uma coesão artificial de efeito passageiro da UE –acabou-se o dinheiro, felizmente! –, gera coesão social genuina e, automaticamente, meios materiais para todos. “Voemos”, pois, em formação de “V”, unidos e não permitindo que alguns “gansos” – Grècia, Portugal, Espanha, etc. – saiam ou sejam expulsos da formação. Confrontados com a diferente resistência aerodinâmica eles acabariam por sucumbir. Não permitamos isto, pois também seria em desfavor do resto da formação.
Atenção: quando falo de formação em “V”, é preciso saber que sendo sujeitos às leis da natureza, nós tal como qualquer outro sóciosistema “voamos” sempre em formação em “V”. Porque é que desta vez esta estratégia natural deixou de funcionar? Fácil: porque a formação, sem que a maioria de nós se apercebesse, virou às avessas e todos os seus elementos perderam as vantagens aerodinâmicas por completo. Daí os nossos crescentes problemas. É, portanto, presiso voar assim ^, e não mais assim V, com a ponta para baixo. Os pássaros sabem-no e nunca se lembrariam inverter essa ordem. Nós, com a nossa enorme esperteza cientificada, (pelos vistos) não. Tudo isso não passa de romanticismo social? Errado! É a lei da natureza implacável, pura e dura. Quem a aceita, terá ascensão social, quem não, nem por isso.
Rolf Damher (convidado)
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