terça-feira, 6 de julho de 2010

Parece-me felonia intervir na vida privada das pessoas

Raúl Iturra

É o meu hábito, desde que lembro dos meus dias de vida, que começam a ser muitos, acordar entre 6 e 7 da manhã, a melhor hora para escrever: todos andam a dormir, o silêncio é interrompido apenas pelos pássaros que acordam ao dia e o telefone não tem esse pouco simpático som que faz perder o fio a meada. Hábito ao que tenho todo o direito, porque a seguir, adormeço meia hora e fico fresco, como alface. Como agora.

Apenas que hoje, o mundo mudou. Como quando integro júris longe das minhas terras e para estar em Coimbra, devo sair de Cascais pelo menos as 6 da manhã. A minha sesta passa, a volta, a ser de, pelo menos duas horas. Hoje, por ter acabado um novo livro que ofereci a minha Universidade: Marx, um devoto luterano, 365 páginas, estava cansado e sentei-me no cadeirão do meu estudo para ler notícias.


O meu espanto foi grande. Todo o jornal apenas falava de um crack de bola, que tinha sido pai. Grande novidade! Todo homem pode ser pai se encontra a mulher dos seus sonhos, o se, adoptam uma criança por problemas genéticos. Apenas que, do caso, havia imensas páginas, cheias de especulações sobre se era, ou se não era, quem seria a mãe, qual a nacionalidade e outros assuntos que apenas correspondem a quem vive o caso, no meu ver.

Devo confessar que pelo facebook que uso para me comunicar com filhos e netos da Europa do Norte, já sabia da notícia. Como não era comigo, nada mais li.

Mas hoje, foi-me impossível não ir palavra após palavra. Soube que o padrinho de baptizado duvidava se havia ou não uma criança e de quem era. Um padrinho da baptizado da pessoa que refiro! Não sou homem de fé, mas é-me impossível não exclamar: por amor de deus! Essa frase tão lusa que até nas legendas dos filmes aparece mal traduzida: se o actor diz Christ como interjeição, é mal traduzida como esse amor à divindade.

Quem fez o que fez, os seus motivos teria. Em Portugal a empresa de alugar ventres para se ter filhos, está proibida pela lei, mas não é igual em vários dos estados da América do Norte, como é também denominada a República dos Estados Unidos.

Parece-me bem que se queira ter um descendente que seja apenas nosso. Quando tive os meus, adorava fazer de pai e mãe, com a companhia da minha mulher, que adorava essa devoção. Eram crianças fruto do amor entre o casal, seja ou não do mesmo sexo, como acontece na Europa toda, excepto em Portugal. Este católico país apenas permite frutos do amor, muito embora bem sabemos da imensidão de violações que acontecem nas aldeias, nos bairros de lata, nas casas burguesas, ou o que hoje anda na moda: a pedofilia. Facto do que tenho falado imenso em outros texto e livros meus.

Não é este o caso, estou certo que o não o é. E se me enganar, o problema não é meu nem acaba por me interessar. O que me preocupa são essas duas mil crianças que abandonam a casa Pia por causa de pedofilia; ou esses púberes violados pelos seus docentes, sacerdotes católicos na maior parte dos casos, caso que, quando andou cá Ratzinger, teve que tratar.

Porque combino o aviso de um pai solteiro, novidade nenhuma ao longo dos séculos da nossa, da sua alegria de ser pai sem mãe ao pé do bebé? Comentava, dentro de essas dezenas de páginas uma pedopsiquiatra, que uma criança precisa de dois adultos que tomem conta dela. Como etnopsicólogo, é-me impossível não comentar que a teoria nada tem a ver com a realidade. Normalmente, os mais novos têm imensos adultos que os acompanham. Apenas os Picunche, esse clã do povo Mapuche, proprietário do país até a invasão hispânica no Século XIV, que eu estudo como analista na Cordilheira dos Andes, têm várias mães e um pai. Pai que circula de casa em casa, conforme o trabalho deva ser feito. O povo Mapuche todo, como nas aldeias de Portugal e da Galiza, como tenho observado, não há adulto que não seja, além de vizinho, um pai ou mãe das crianças desse pequenos grupos. Como na Nova Guine, como na Holanda: a solidariedade é imensa. Há bairros fechados para as crianças brincar e um ascendente de turno, para tomar conta deles.

Ter um filho próprio, deve ser a glória das glórias. Que falta a mãe? E os matrimónios do mesmo sexo, não têm por acaso dois adultos para os criar? Que há o papel da mãe e o do pai como diferentes, é uma falsidade: os adultos trabalham fora de casa, as crianças vão ao infantário.

Da criança que falo, pode sofrer de uma superlotação de mães entre avós e tias. De certeza que o pai da criança tem as suas ideias que devem ser respeitadas pelos outros seres humanos. O pai sabe o que quer e nem conhece a mãe. É o mundo das empresas das quais formam parte ventres alugados.

Meus senhores, não nos iludam com teorias teológicas, que mal conhecem. Eu sou materialista histórico e sei bem o lucro procurado, com mais-valia acrescentada. Para o pai, a sua fama fabricada para transacções de clube a clube, essa imensa fama, deixa esse pai só. A criança é a sua salvação.

A maquinaria legal começou a andar. Ela deve parar. A felicidade do pai é tão grande, a sua cabeça tão brilhante, tal e qual a sua capacidade de ser campeão do seu desporto, o football ou o jogo de bola em luso português.

Intervir na vida privada dos outros é uma felonia: Traição ou crueldade.

Deixemos ao homem ser feliz, como hoje parece estar. A vida privada é, por vezes, abandonada por vários para brilhar. Este não necessita. Um dia aparecerá uma pessoa parceira para tomar conta, com ela, de esta ideia da que me parece estar certo: pai de outro craque do jogo que matem ao bem povo português, calmos e contentes. Apenas podem estar assim, se os seus goleadores são seres humanos que sabem sorrir, especialmente pelo profundo amos a família e ao filho que, enquanto bebé, a sua mãe tratará, até que comece a andar por imensos sítios com o pai, como eu fiz como o meu, que era engenheiro e que nestes dias está de aniversário.

Senhores jornalistas, deixem em paz a seres humanos de mais-valia. Que falta uma mãe? Quem disse tamanha mentira, já provada por Charcot, Feud, Klein, Winnicot, eu próprio, entre os séculos XIX e XXI.

Felicidades, Senhor Pai. O ano passado foi a bota de ouro. Este ano, um filho…Comparáveis? Sim, na mente criada para estas lides e que começa a preparar a sua retirada, deixando um substituto, esse o seu filho. A vida privada é e deve ser a melhor almofada de descansou de quem batalha desde os sete anos de idade no mesmo ofício. A reprodução social é hoje um dia uma empresa para quem gosta, pode e tem os mios de formar famílias unilaterais. O mundo deve calar perante a nova ética.

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