segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Promessa

Ethel Feldman


Eu sei que te prometi ser objectiva, nada de Hello Kit, nem laços dourados. Você exigiu um relato quase científico. Imparcial!

Meu querido amigo, quando acordo não sei se o dia amanheceu ou se a noite ainda se arrasta, por isso dê o desconto que o meu tempo é diferente do seu.

Na cozinha, Joana passa a ferro as calças de Eduardo olhando de soslaio a novela da TV. Com o olho esquerdo solta uma lágrima com o lábio direito sorri. A menina miserável da favela vence todos os obstáculos e casa com o jovem advogado milionário.

Distraída, Joana queima o fundilho das calças do patrãozinho. Irreparável o erro de quem afaga o coração nos lacinhos cor de rosa da televisão!

Um ai Meu Deus, que desgraça, ecoa em cada canto da casa.

- Patrãozinho desconte no meu salário…

- Nem dois anos de salário pagam essas calças mulher

- Leve a televisão Sr. Eduardo … O senhor lembra daquela actriz de cinema? Aquela que casou com um rei? A gente acredita. Meu coração diz que isso é verdade. Quando me deito largo a vassoura e me visto de princesa. O senhor tinha que ver – fico tão bonita. Quase parecida com a moça da novela. Um homem me abraça, assim parecido com o seu irmão, o Dr. Vicente. Todo de branco conta que vou ser operada. Sofro de uma doença mortal! Imagine como fico, Sr. Eduardo. Meus peitos, desculpe, meus seios ficam tão duros! Não sei bem porquê, minha mão não para quieta. Desce pelo meu corpo. Ai que vergonha, desculpe. Nem sei bem porque falo nisso. Mas olhe, se depois me despedir, é como fala o povo: morro feliz!

- Mulher…

- Espere doutor, preciso acabar. Minha mão. Esta aqui – a direita,, sobe e desce. Depois para nas minhas vergonhas. Não sei o nome educado … O meu sexo entende? O seu irmão, o homem que se parece com ele, tem na mão uma injecção. Diz que é para eu me acalmar. Faz parte da minha doença ! Diz que se eu não me tratar, não se casa comigo. E eu… ah doutor, só me quero casar com um senhor assim da alta sociedade. Toda de branco, com véu e grinalda…

- JOANA! Olhe a minha camisa imbecil…



Meu querido, te juro que foi assim mesmo o enredo daquele assassinato, sem nenhum laço dourado. A Hello Kit descansa em cima da televisão.

21 comentários:

  1. Original e muito interessante. Bem contado. Um beijinho.

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  2. Ó Srs. Administradores, já que aqui nesta área estão a dar-se repetições, então, ponham lá, a meu pedido o poema do Adão "O Meu Sonho Azul", um dos mais belos que eu li aqui no blog.

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  3. As repetições são dadas às três da manhã e geralmente são textos grandes que possam ajudar os "Noctívagos, Insones & afins" na ua vigília. Não pomos nunca poemas porque se lêem demasiado depressa. Porém, como um pedido de vocelência, Senhora Dona Augusra Clara, é para nós uma ordem, amanhã, pelas oito da manhã, na hora da poesia, encontrará o seu poema. Vou para dentro que este sol do entardecer, parecendo que não, dá-me cabo da saúde. CD, também conhecido por Vlad.

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  4. Então, muito obrigada, fico feliz e vá para dentro, mas tenho a dizer-lhe que já apareceu aqui repetido outro poema do Adão que nem era assim tão grande em tamanho.Beijinhos mas dessa última frase não percebi nada.

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  5. CD= Conde Drácula, Vlad o louco, para os amigos.

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  6. O poema que apareceu repetido, não se destinava ao pessoal da noite. A repetição, ocorreu por engano, já no período que a história do Estrolabio registará como «a grande convulsão», período que ainda estamos a atravessar - mas já se vislumbra um túnel ao fundo da luz. Senhora dona Ethel, desculpe estas conversas à porta do seu estabelecimento.

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  7. Este testo da Ethel também já saíu. Eu já o tinha lido.

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  8. As repetições são típicas da "grande convulsão". Convulsão que também está a afectar os colaboradores, nomeadamente vocelência - TESTO? Significa entre outras coisas, a tampa de uma panela de barro.

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  9. Por outro lado este belíssimo TEXTO da nossa Ethel nunca saiu - fui lá dentro ver os registos. Só se a Ethel me manda o mesmo TEXTO com nomes diversos.

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  10. Augusta, que rebuçadinho tu me estás a meter na boca. És uma amor. Nem imaginas o tamanho do beijo que te mando. O poema chama-se "O meu poema azul" e tem uma história muito original que ninguém conhece. Várias foram as manifestações de apreço pelo poema, por e-mail e por telefone. Pela tua insistência na repetição do poema, mereces ser a primeira a conhecer essa história. Contar-ta-ei em primeira mão, pessoalmente, ou, se ganhar coragem, em forma de texto aqui no blog.

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  11. O título da minha próxima exposição que, em princípio, vai ser na Galeria Zeller, em Espinho, será: RENTE AO POEMA AZUL, em que aparece o poema azul numa das faces do desdobrável, antecedido de: O plácido abrir da madrugada vai espalhando pelo chão da alma adormecida todos os gestos sensuais do cair da folha. Os olhos presos no tecto escuro pousam por momentos na frouxa luz que entra pela frincha da janela. Sonâmbulo ainda, o corpo estremece, e os dedos cruzados na tábua do peito começam a bulir, tirando do sono os fios do pensamento. A fantasia esfrega os olhos de entontecida, e do tecto começa a descer o fio-de-prumo de uma consciência desconjuntada pelos sonhos da noite. Nasce da mente um fino nevoeiro de ilusão tentando encobrir a desilusão da realidade de mais um dia. Mais um dia…menos um dia, a caminho do meu poema azul.

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  12. Carlos, dou-te a minha palavra de honra que já li esse texto. Mas não tem importância, é só um exemplo.

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  13. Adão, nem sabes como eu sou curiosa! Conta-me isso depressa.

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  14. Conde Drácula, eu sei que texto se escreve com x mas já não fui a tempo de emendar e não me apeteceu repetir. Calculei que ninguém duvidaria do engano.

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  15. Boa Augusta! É boa a preguiça, acontece-me frequentemente ficar à espera que alguem me avise que há um erro...

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  16. Escrevi um comentário mas ele foi para as cucuias! Ditava assim:
    Augustinha, esse texto se o leste antes ou foi no meu blogue paladar da loucura, ou alguém que não sou eu escreveu uma história parecida.
    Carlinhos, que a minha baiúca esteja de protas abertas de pare em par aos versos e conversas de todos os amigos.
    Adãozinho, se por alma não sei de quem, o meu texto fez a Augusta associar o teu belo poema, então reclamo o beijo.

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  17. errata:
    Carlinhos, que a minha baiúca esteja de protas abertas de par em par aos versos e conversas de todos os amigos

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  18. Olha, olha, agora digo eu: esse era para mim Ethel:) Mas ele deve ter lá mais para dar. Já não sei onde li. Vou investigar. Um beijinho.

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  19. Ó Ethel eu escrevi texto com s, mas a tua errata, também, é o máximo :))

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