sábado, 2 de outubro de 2010

Paladar da Loucura

Ethel Feldman


Você pediu que contasse como era antes, como foram nossas brigas. Você disse que me revisse como uma transeunte no passeio e confessasse como eram esses ataques que tenho escondido de todos nossos diálogos.

Uma vez soube de uma mulher que cortou os pulsos, doutra que se encharcou em comprimidos antes do limite da morte, doutra ainda que se debruçou na janela ameaçando a morte.

No apartamento de cima ouço gritos. O porteiro comenta que é um exagero. Ninguém a vê, dela só lhe conhecemos o ruído. Tão altos os gritos que nos obrigam a subir o som da televisão.

São as mulheres histéricas, que num momento de impulso de tanto controle se descontrolam na dor.

Você perguntou o que eu achava dessas mulheres. Sei de quem partiu uma janela, sei doutra que destruiu a casa de banho. Parece – dizem - que são as mulheres do povo, que sem polimento exageram o comportamento.

Soube noutro dia de uma senhora de bem, doída tirou despiu-se na festa. Nua, num choro baixinho, encontrou-se no chão. Os homens - todos eles bem formados - desviaram os olhos.

Me diga uma coisa, você nunca pirou?

Não me peça então que conte como foram as brigas, se chorei, se me enquadrei numa noticia de crime.

Me conte você que fez seu parceiro quando um dia, você minha amiga, perdeu a postura.

Se a laranja for ácida e se a cada gomo as lágrimas te vierem aos olhos, me diga Cleo, se é esse o paladar da loucura.

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