Carlos Leça da Veiga
A Galiza, por força do direito democrático, tem de ser um Estado independente com representação própria na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Contentar-se em reivindicar a sua língua – a portuguesa – embora uma atitude muito meritória e que nunca deve ser descurada, não parece ser um gesto político suficiente.
Compreende-se que um Cidadão Galego, obrigado à prepotência castelhana, para não ficar sujeito à injustiça das sanções penais, não queira reclamar, em público, o direito à Independência da sua Nacionalidade. Esta atitude, porém, não deve ser a de qualquer português.
A estes, quanto mais não seja por coerência histórica e, também, para reafirmação dos Direitos Humanos compete estar ao lado de todas as Nacionalidades onde quer que elas tenham uma vontade manifesta de Independência e na Galiza, bem sabido, há um importante e significativo movimento em prol da reconquista da sua Independência Nacional. Não será a acção da polícia castelhana que irá destruí-lo.
Se Portugal é um Estado que, como deve ser, só comporta uma Nacionalidade que razão haverá para que os outros Estados – sem respeito pela Democracia – obriguem várias nacionalidades a uma sujeição?
Aos portugueses compete considerar que se Portugal – e muitíssimo bem – teve de deixar de ter colónias porquê, então, o reino de Castela não está obrigado ao mesmo procedimento? E quem diz Castela tem, por igual, de dizer muitos outros Estados, dentre dos quais há vários europeus.
O direito dinástico em vigor no estado espanhol e que vem dos chamados Reis Católicos merece tanta consideração como quanta, hoje em dia, mereceria o Tratado de Tordesilhas. Castela e Aragão, em associação, nos idos do século XV começaram a ocupar indevidamente todos os Estados da periferia da Península Hispânica com excepção de Portugal já que para tanto, à época – depois foi outra conversa – não tiveram forças. Assim o colonialismo castelhano, à semelhança do de vários outros casos na Europa iniciou-se pela submissão de várias Nacionalidades da sua envolvente territorial próxima e só depois é que se abalançou às ocupações fora da Europa.
Colónias tanto as pode haver na Europa como pelo mundo fora e para ser-se colonizado não é preciso ter uma pele de cor diferente. O tempo das colónias já acabou e as que sobrevivem – que na Europa não são poucas – fazem-no à sombra da perversão do Direito Internacional, com o favor dos interesses inconfessáveis dos potentados económicos e, também, com a ajuda da repressão pela força armada. Quantas destas situações continuam a sobreviver na imensidão da Europa?
Na perspectiva política que defendo para a intervenção internacional de Portugal – uma intervenção democrática – os Galegos, os Andaluzes, os Asturianos, os Bascos e os Catalães, como exemplos mais frisantes dentro do estado espanhol, devem ganhar o estatuto legitimo de Estados Independentes e, como assim, viverem lado a lado, em fraternidade com os Castelhanos e, naturalmente, com os Portugueses. Nada de federalismos.
Aos portugueses não compete, bem pelo contrário, aceitar que o seu País tenha de defender e considerar ajustada a existência dum conglomerado de Nacionalidades forçada a qualquer autoridade, no caso vertente, a castelhana.
Depois do 25 de Abril, com a excepção honrosa duma pequena organização – a OUT – a chamada esquerda que com muito acerto soube demonstrar um grande empenho na descolonização portuguesa nunca foi capaz de reclamar, nos areópagos nacionais e internacionais, contra a existência, na própria Europa, de Estados que, como fruto aberrante das suas designadas Unificações, Reunificações ou Conquistas possam
continuar a manter muitas anexações e colonizações. Só Portugal é que era colonialista?
Mas que raio de esquerda! Não podia ofender nem Leste nem Oeste que, a cada qual, o que não faltava era ter colónias. Qualquer projecto de unidade europeia só terá exequibilidade democrática se cada Nacionalidade estiver traduzida por uma declarada Independência Nacional com representação própria e autónoma na ONU.
Lisboa, 21 de Maio de 2009
sexta-feira, 21 de maio de 2010
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Meu caro Carlos Leça da Veiga: Como sabes, também eu gostaria de ver desmantelados os estados artificiais criados pela ânsia de hegemonia que certos estados como a Inglaterra, a Rússia,a Prússia, a Sérvia,Castela e outros foram criando pela Europa. Aculturaram e subordinaram os interesses dos povos subjugados aos seus interesses. Já vimos alguns desses impérios desfazerem-se. outros persistem. Porém, a libertação de cada povo, tem de ser obra desse povo. Não sei se a maioria do povo galego deseja a independência. Parece-me que preservar a língua, a cultura, a história da Galiza, é a tarefa que agora se impõe. Quanto ao que dizes sobre a independência, tens direito à tua opinião, mas é aos galegos que compete decidir. Nós só podemos ajudá-los a atingir as metas a que se propuserem. Não podemos dar os passos por eles.
ResponderEliminarArtigo muito interessante é que mostra uma empatia que achamos muito em falta na Galiza.
ResponderEliminarMatizaria a linha do exposto um bocadinho: os galegos, activa ou passivamente (a primeira mais frequente) construímos o monstro espanhol.
Uma vez que as elites galegas foram substituídas definitivamente lá por volta do XV, o galegos a título individual dedicaram-se a triunfar no único sistema de ascenso que ficava: o castelhano.
Neste sentido, o colonialismo espanhol é também em parte, obra de galegos a 'trabalharem para o bispo' como é, e muito, o Reino de Espanha.
Quanto ao comentado por Carlos Loures, difiro:
Na Galiza a língua e a cultura galegas que são as mesmas em essência do que as do Norte de Portugal e por extensão e com as correspondentes variações, de Portugal inteiro e da lusofonia toda, estão sendo exterminadas pelo imperialismo castelhano. O português na Galiza, junto dos direitos dos seus falantes e das suas potencialidades, está desaparecendo e sendo substituído pela língua estrangeira imposta: o castelhano. Para maior glória de Espanha e da hipanofonia e perda da Galiza e da lusofonia.
Atalhar o genocídio cultural galego é defender o português no mundo e os interesses de Portugal (e do Brasil, etc.) no mundo. Conduta análoga à que desenvolve activamente Espanha a respeito de Filipinas, Porto Rico ou os próprios EUA (já o 3 país com maior número de falantes de castelhano).
Por contra, deixar que se consume o suicídio induzido da Galiza é permitir que morra parte da lusofonia. Ademais duma causa justa e legítima para a lusofonia (cada falante menos de português e cada agressão ao português debilita o português em todo o mundo), não intervir é uma primeira concessão. E com certeza, o imperialismo castelhano não ficará aí, venham os passos a seguir amanhã o dentro duma década (como já estão vindo com o ensino de castelhano em Portugal e no Brasil).
Vejam o nível de hipocrisia do Reino e das suas instituições:
http://www.lavozlibre.com/noticias/ampliar/65221/el-castellano-nunca-se-ha-impuesto-por-la-fuerza-y-ha-sido-la-lengua-de-la-esperanza
Caro Carlos,
ResponderEliminarLeio com prazer o seu blogue.
Você escreveu aí acima: «Na Galiza, bem sabido, há um IMPORTANTE E SIGNIFICATIVO movimento em prol da reconquista da sua Independência Nacional.»
Por interesse, mesmo profissional, acompanho algumas movimentações ideológicas na Galiza. Mas nem era preciso. Os números são claros: os dois partidos INDEPENDENTISTAS galegos não conseguem nunca nada "significativo" em eleições, e ficam-se por volta do 1%.
Imagino que você dispõe de outras informações. Gostaria de que as partilhasse connosco.
Na Galiza o movemento nacionalista acadou no seu máximo histórico máis do 20% dos votos. O 1% ao que se refire o comentario anterior é referido a pequenos grupos antisistema que se definen como independentistas. Eu son independentista e nunca votei a estes pequenos grupos mais votei ao Bloque Nacionalista Galego.
ResponderEliminarO sindicalismo nacionalista soberanista é maioritario en moitas comarcas do pais galego.
ResponderEliminarA respeito do comentado por Venâncio:
ResponderEliminarNa Galiza há três partidos políticos com representação parlamentar: dous deles de âmbito espanhol e um galego. O galego é o Bloque Nacionalista Galego. Em 1997 chegou a ser a segunda força política com 400.000 votantes. Visa, estatutariamente, exercer o direito de autodeterminação. Hoje conta com 12 deputados dum total de 75. Um dos deputados do Bloco até há pouco nas Cortes Espanholas foi expulsado no seu dia do parlamento galego por ter-se negado a jurar a Constituição (Paco Rodríguez).
É conhecido também que tanto a direita espanhola na Galiza (Partido Popular) como a esquerda espanhola na Galiza (Partido Socialista) mantiveram e mantêm (a direita já menos) um marcado galeguisto. A cada vez mais folclorizante e regionalista já que a cada vez é menos necessário.
Por último, há dous partidos de esquerda que também visam o exercício da independência mas como objectivo principal e sem carácter progressivo na procura de mais auto-governo. São também contra o Estatuto de Autonomia porque o consideram uma fórmula de dependência, ainda nos termos do basco ou catalão. Alcançam menos do 0,5% dos votos.
Caros todos:
ResponderEliminarusando a mesma lógica, diria-se que o republicanismo, a abolição dos touros, ou outras muitas coisas não têm apoio social só porque não há nenhum partido no parlamento que faça destas coisas o seu maior sinal de indentificação.
O BNG é favorável á autodeterminação (passo prévio e inexcusavel para a independência). Muitos votantes do PSG-PSOE tambem, e mesmo dentro do PPdeG, ainda que não tantos. Ai está Rafael Cuiña, filho do delfim de Fraga, e destacado militante do PP.
Não adiantemos. Se houver um referéndum, ninguem nunca sabe quais seriam as percentagens a favor e em contra.
Jo,
ResponderEliminarObrigado pelos dados que fornece.
O BNG pode defender estatutariamente uma "autodeterminação". O facto é que não há praticamente tomadas de posição públicas e concretas, empenhadas, nesse sentido. Falam, sim, em "mais autogoverno", mas percebe-se que o conteúdo dado a isso está a milhas duma "independência".
Portanto, mantenho a minha impressão de que o independentismo galego é altamente minoritário, se não simplesmente residual.
Acrescento que sou - sempre fui - um fã duma Galiza Independente. Mas que pode fazer um português, se a maioria arrasadora dos galegos não o deseja realmente?
Vai à sua vida, e pensa em empenhamentos mais realistas. Como de facto ele faz.