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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Meia - Maratona de Lisboa - puro prazer.


Luis Moreira

Fui uma das sete mil pessoas que foram para a Baixa de Lisboa ver correr centenas de atletas. Uns campeões nacionais (como a Jessica Augusta, recente campeã europeia) a esmagadora maioria homens e mulheres, jovens e crianças, a correrem por puro prazer. Frio? Ninguem o sentia, uma cidade em festa.

Impressionou-me a alegria dos participantes, correm por puro prazer, mães que ficam com os agasalhos das filhas, pais de cronómetro na mão a "apalpar" a passada dos filhotes, técnicos a aconselharem, televisões e rádios em grande azáfama, gritos de incentivo, palmas para as avozinhas que me dizem com o ar mais calmo deste mundo (sigo em frente porque eu estou nos 10 Kms, quando eu lhes indicava o sentido do final dos 3 kms) .

Vi a partida com as mulheres a iniciarem na frente e, quando ainda estava a ver partir os últimos homens, já a Jessica vinha feita gazela, a entrar na Praça do Comércio de onde partira, eram 3 voltas, avenida da Liberdade até ao Marquês e volta pela Rua do Ouro, corri em direcção ao rio lá vinha a campeã para a última volta, e o meu afilhado no meio dos concorrentes a passar por mim" porra, pá, é assim que me dás a agua?" lá tive que pôr o meu ar profissional de "abastecedor" tinha-me esquecido do Luis Miguel que deixara para trás os amigos mais pesados e me trocara as voltas com essa táctica que não era nada como combinado. Vai ter que me ouvir, não se fazem orelhas moucas ao treinador...

Na recta final a máscara de suor e cansaço era substituída por uma enorme alegria, o puro prazer de terem chegado ao fim, braços no ar, um objectivo cumprido, vamos lá ver quanto fiz, a subida era lixada não dá para bater o meu próprio recorde fica para a próxima, e todos falavam com todos, as incidências da corrida, o par de namorados que correu de mão dada corta a meta debaixo de uma cúmplice salva de palmas.

Lindo, ainda me doiem as pernas dos sprintes que tive de fazer para não perder pitada, mas valeu a pena, o desporto é uma coisa maravilhosa.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O capital e a capital

Carlos Loures

Nesta semana da Economia, não queria deixar de abordar um tema afim. Escolhi falar sobre capital. Acontece que Capital é palavra com muitos significados. Das mais importantes acepções destaco duas, dois substantivos com géneros diferentes – o capital, acepção do foro da Economia; a capital, na área da geopolítica. Dois famosos livros, entre muitos outros, celebram cada uma das acepções - «O Capital», de Karl Marx, e «A Capital», do nosso Eça. Como adjectivo tem também a sua importância – pena capital, por exemplo, para quem a ela tiver sido condenado, assume uma dimensão transcendente. Muito mais dramático do que não ter capital ou ainda pior do que viver nos subúrbios da capital.

“A Capital”, de Eça de Queirós, foi um romance que viria, depois, a dar lugar à sua obra-prima «Os Maias». Refere-se à capital de Portugal – Lisboa. No seu livro, Eça relata as vicissitudes de um provinciano numa capital, também ela provinciana. Porque naquela época final do século XIX, tal como agora, a capital era um espelho do País. Como se cada país tivesse a capital que merece.
Terá sido a necessidade de centralizar, de criar estruturas como, por exemplo, a Casa da Mina e da Índias que levou à criação de uma capital .. Creio que não se utilizava ainda, no século XV, o termo «capital», mas Lisboa começou nessa altura, como maior cidade do País, a concentrar as funções de «cabeça do Império», pois ali se acumulavam todos os órgãos gestionários quer das frotas que demandavam os mares, execução de mapas (o termo «cartografia» só apareceu no século XIX), armazenamento das mercadorias que saíam e entravam, e toda essa complicada operação de logística que implicava infra-estruturas fixas.

domingo, 31 de outubro de 2010

Que Lisboa teríamos hoje sem o Terramoto?

                                 
                                          Lisboa antes do Terramoto (Museu da Cidade)


Luis Moreira

Conhecemos cinco dos seis projectos apresentados ao Marquês para reconstruir Lisboa. O sexto desapareceu, o quinto foi construído. Como ainda hoje se pode ver, o motivo principal é que as construções obedeceram a rígidas regras, três fachadas, três andares, o rés-do-chão para lojas e cavalariças, o primeiro andar com varanda e o segundo e terceiro com amplas janelas todas iguais. Tudo o que se vê hoje fora destas regras, como o famoso quarto andar (serviu para compensar alguns proprietários das decisões arbitrárias do velho Marquês) não são originais.

A primeira ideia foi construir Lisboa na área de Belém, mas depois ganhou a reconstrução sobre as próprias ruínas da cidade. Esta reconstrução permitiu abrir amplas avenidas e ruas, o famoso xadrez da baixa de Lisboa. E se não tivesse aconteciso o terramoto como seria hoje Lisboa?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Dia de Lisboa - António Gedeão, Maluda, Joaquim Pessoa, José Fanha, Carlos Mendes e Alberto Ribeiro (e nós com eles) despedem-se de Lisboa.

E assim, 24 horas depois, chegamos ao final deste "Dia de Lisboa".  Agradecemos todas as ajudas que nos foram dadas neste trabalho. Saudamos em particular o blogue "Lisboa no Guiness" onde recolhemos a canção do Alberto Ribeiro e desejamos que a campanha de Vítor Marceneiro seja coroada de êxito. Todo o material que aqui apresentamos, está ao seu dispor. Por agora, chegamos ao fim.

Três despedidas e um bilhete postal - António Gedeão, o grande poeta que vivia dentro do corpo do cientista Rómulo de Carvalho, oferece-nos um poema - "Adeus a Lisboa", cujo manuscrito podemos ver
abaixo, á direita. Carlos Mendes, com música sua e poema de Joaquim Pessoa, sob o mesmo título, brinda-nos com uma bonita canção, Alberto Ribeiro, o eterno cantor de "Coimbra", sela a despedida com o seu adeus. Tudo escrito nas costas de um lindo postal de Maluda que, nascida em Goa, não podia ser mais lisboeta.

António Gedeão (1906-1997)

 - ao lado: manuscrito do poema


Adeus, Lisboa




Vou-me até à Outra Banda
no barquinho da carreira.
Faz que anda mas não anda;
parece de brincadeira.
Planta-se o homem no leme.
Tudo ginga, range e treme.


Bufa o vapor na caldeira.
Um menino solta um grito;
assustou-se com o apito
do barquinho da carreira.
Todo ancho, tremelica
como um boneco de corda.
Nem sei se vai ou se fica.
Só se vê que tremelica
e oscila de borda a borda.




Chapas de sol, coruscantes
como lâminas de espadas,
fendem as águas rolantes
esparrinhando flamejantes
lantejoulas nacaradas.
Sob o dourado chuveiro,
o barquinho terno e mole,
vai-se afastando, ronceiro,
na peugada do Sol.




A cada volta das pás
moendo as águas vizinhas,
nos remoinhos que faz,
nos salpicos que me traz
e me enchem de camarinhas,
há fagulhas rutilantes,
esquírolas de marcassites,
polimentos de pirites,
clivagens de diamantes,


Numa hipnose colectiva,
como um friso de embruxados,
ao longe os olhos cravados
em transe de expectativa,
todos juntos, na amurada,
numa sonolência de ópio,
vemos, na tarde pasmada,
Lisboa televisada
num vasto cinemascópio.
O sol e a água conspiram
num conluio de beleza,
de elixires que se evadiram
de feiticeira represa.
Fulva, no céu incendido,
em compostura de pose,
a cidade é colorido
cenário de apoteose.
Há lencinhos agitados
nos olhos de todos nós,
engulhos de namorados,
embargamentos na voz.
Nesta quermesse do ar,
neste festival de tons,
quem se atreve a acreditar
que os homens não sejam bons?




Adeus, adeus, ribeirinha
cidade dos calafates,
rosicler de água-marinha,
pedra de muitos quilates.
Iça as velas, marinheiro,
com destino a Calecu.
Oh que ventinho rasteiro!
Que mar tão cheio e tão nu!
Ó da gávea! Põe-te alerta!
Tem tento nos areais.
Cá vou eu à descoberta
das índias Orientais.
Não tenho medo de nada,
receio de coisa nenhuma.

A vida é leve e arrendada
como esta réstea de espuma.
Toda a gente é séria e é boa!
Não existem homens maus!
Adeus, Tejo! Adeus Lisboa!
Adeus, Ribeira das Naus!
Adeus! Adeus! Adeus! Adeus!


Uma canção com o mesmo título, com poema de José Fanha e música de Carlos Mendes. Canta o Carlos Mendes.



Alberto Ribeiro, uma voz muito conhecida e admirada, o cantor de «Coimbra» , intérprete com Amália Rodrigues do filme «Capas Negras», despede-se também de Lisboa.



Adeus Lisboa! Adeus Amigos, até já. Encontramo-nos, sabem onde? - No Porto. O "Dia do Porto" será em Novembro, em data que anunciaremos oportunamente.

Dia de Lisboa - Fernando Pessoa, Carlos Botelho e Amália Rodrigues

É com um poema de Fernando Pessoa e com um quadro de Carlos Botelho, a cidade vista do Jardim de São Pedro de Alcântara, que abrimos este Dia de Lisboa

Lisboa

Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores...
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.

Se, de noite, deitado mas desperto,
Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas casas
De várias cores.

Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
A força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.

Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.

(Álvaro de Campos, in "Poemas")








E, para terminar este primeiro bloco, Lisboa Antiga, por Amália Rodrigues:


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Amanhã, 28 de Outubro, Dia de Lisboa

Amanhã, quinta-feira, 28 de Outubro, dedicamos a nossa edição inteiramente à cidade de Lisboa - Durante 24 horas, publicaremos música, poesia, textos, apenas com um tema - Lisboa. Em Novembro, em data a anunciar, será a vez do Porto; seguir-se-á Coimbra...

Amanhã o Estrolabio não abordará os habituais temas - amanhã todo o espaço é para Lisboa. Começamos no primeiro minuto do dia 28 e acabaremos á meia.noite. Durante 24 horas, Lisboa será o nosso tema único,

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Novas Viagens na Minha Terra

Manuela Degerine

Capítulo V

Etapa 2, de Alverca à Azambuja


Segunda parte: Azambuja

Aí está a Azambuja, pequena mas não triste povoação, com visíveis sinais de vida, asseadas e com ar de conforto as suas casas.

Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra

O que farás, leitor aventureiro, se a imprudência te conduzir a este extremo? Após um balanço muito rápido, já que a solução é urgente, eu concluo que me não resta outro recurso: peço boleia. Parece um risco mas, comparado com os camiões, um risco sensato. Estendo o polegar, três minutos depois pára um carro, vejo um rapaz com aspecto correcto, pergunto se vai para a Azambuja – ele chama-se Dmytro e tem os olhos verdes. Oferece-me uma água neste café da Azambuja.

Almeida Garrett dedica o terceiro capítulo das suas Viagens à descrição do café, que não pode ser clássica, por estar fora de moda, devera ser romântica, o que não convém, por o romantismo de 1843 não ser verosímil, invoca por isso a fé de Boileau: a verdade. Nada, nada, verdade e mais verdade. Encontro-me aqui em simétrica posição. Também devera, seguindo a elegância do meu tempo, pôr aqui um rap, espalhar seringas no chão, convidar traficantes guest star, iá, lançar tags nas paredes, animar tudo com palavrões... Ficava o café da Azambuja digno do CCB. Todavia... Na verdade quase nada o distingue, nem sequer o mau gosto, da maioria dos cafés de Lisboa. Demorei eu tanto para aqui chegar... Andei tantos quilómetros a pé... Corri tantos riscos... Ficam os leitores desiludidos? Eu também. Bebo uma Água das Pedras com a rodela de limão. Para me consolar. Sabe-me bem. Única particularidade: há moscas. Moscas que picam e que ninguém consegue enxotar.